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por me trazeres os documentos da contabilidade.

      – Parece que estás muito constipada.

      Quando Johanna lhe dissera que Grace estava doente, a primeira coisa em que ele pensara fora em oferecer-se para lhe levar os documentos. Queria cuidar dela. Havia algo em Grace que lhe inspirava essa necessidade de a proteger.

      – Tentei melhorar com chá e mel e tomei um descongestionante nasal, mas ainda não fez efeito – explicou ela, apoiando-se sobre a bancada da cozinha.

      – Sim, bom, podes levar os cheques quando os acabares. Amanhã é dia de pagamento, mas os rapazes entenderão se te atrasares um pouco. Tens de ficar um dia de cama.

      Grace olhou para os olhos de Mike e ele apercebeu-se de que ela estava corada e linda. Imaginá-la na cama não o ajudava a manter a sua saúde mental.

      – Sabes que os entregarei a tempo.

      – Não faz mal. Tens de descansar – insistiu ele.

      – De repente, transformaste-te em médico?

      Grace afastou-se da bancada, cruzando os braços.

      – Estás doente. Acontece com todos.

      – Exactamente. E o mundo não pára porque alguém tem uma constipação. Disse que terei os cheques prontos a tempo e assim será. Além disso, tenho outro trabalho para fazer que não tem nada a ver com o Circle M e não quero atrasar-me.

      Mike não conseguiu conter-se.

      – Trabalhar, trabalhar e trabalhar. Não fazes mais nada! – exclamou.

      – Sim, trabalho muito. No caso de não teres percebido, não tenho um calendário social cheio e, como o resto do mundo, tenho contas para pagar!

      Virou-se, zangada consigo própria por ter caído nas provocações de Mike. Caiu-lhe a toalha do cabelo e ela segurou-a com uma mão, afastando o cabelo da cara com a outra.

      Mike olhou para ela durante um bom bocado.

      – Estás com problemas financeiros, Grace? – perguntou, preocupado.

      – Não… não tenho esse tipo de problemas – Grace suspirou. – Mas também não tenho dinheiro a mais.

      – Deixa-me ajudar-te.

      Ela olhou para ele nos olhos, hesitando levemente devido à preocupação sincera que viu reflectida neles. Mas não, não era um problema dele e há muito tempo que ela aprendera que só podia depender de si própria. Endireitou-se.

      – Obrigada, mas estou bem. Eu gosto de trabalhar, Mike.

      – Não posso preocupar-me contigo?

      – Já não tenho doze anos, Mike – indicou Grace, tentando manter-se calma. – Já não tens de me defender.

      Mike riu-se, suavizando um pouco o ambiente.

      – Parece-me que houve um tempo em que eras tu que me defendias.

      Grace corou, desejando que ele se esquecesse daquilo. Mesmo quando eram crianças, ela defendera-o quando os outros não o tinham feito.

      – Obrigada pela tua preocupação, mas estou bem. Deves ter trabalho para fazer. Levarei os cheques quando tiver acabado de os fazer.

      Não esperou que ele se fosse embora. Pegou nos documentos e dirigiu-se para a sala. Quando ouviu a porta traseira a fechar-se, respirou fundo.

      Mike deu uma última palmadinha afectuosa a Thunder e saiu do estábulo. Thunder e Lightning tinham sido os primeiros cavalos que comprara.

      Durante os anos, o seu caminho cruzara-se com o de Grace e, sempre que isso acontecera, ele preocupara-se com ela, mesmo que ela não percebesse.

      Quando ela conhecera o seu marido, ele estivera nos circuitos e, quando regressara, ela já se fora embora… Casara-se com dezanove anos e fora viver para Edmonton. Não podia mudar o passado. Afinal de contas, ele é que se fora embora.

      Mas desejava Grace de todas as maneiras possíveis. Durante um longo período de tempo, abandonara a ideia de estar com ela, já que pensava que desperdiçara a sua oportunidade. Mas naquele momento… voltara e sabia que, se fizesse as coisas bem… haveria esperança.

      Então, viu o carro dela a chegar. Cumprira com a sua palavra sem importar que estivesse doente…

      Grace ouviu como ele abriu a porta principal. Na verdade, estivera à espera de o ouvir. Escolhera esperar na cozinha em vez de o fazer no escritório íntimo. Não queria estar lá muito tempo, pois não queria contagiar Alex ou Maren.

      Embora não levantasse o olhar, soube quando Mike se aproximou da porta. O ar mudou.

      – Olá, Mike! Já tenho os cheques prontos.

      – Óptimo! – exclamou ele, entrando na cozinha. – Fico contente por teres podido inclui-los na tua agenda.

      Quando ela levantou o olhar, custou-lhe manter a boca fechada. Mike estava… formidável. Respirou fundo, tentando manter-se calmo. Era irónico que conseguisse provocá-la sem fazer nada.

      O seu aspecto deixava claro que estava zangado com alguma coisa, mas ela não sabia o que podia ser.

      – Tomei alguns remédios e dormi um pouco – esclareceu, ainda um pouco congestionada. – Não me custou nada ter os cheques prontos.

      Então, voltou a concentrar a sua atenção nos envelopes com os cheques.

      – Queria trazê-los, já que tenho trabalho para fazer amanhã.

      – Doente?

      – Estou muito melhor, obrigada. Para tua informação, os meus planos eram ir para casa, fazer uma sopa e ver um filme até adormecer, para assim me levantar completamente curada – explicou, sem se incomodar em camuflar o sarcasmo do seu tom de voz.

      Mike esperou alguns segundos antes de falar.

      – Não pensaste em descansar durante alguns dias? Custa-te dizer que não às pessoas?

      Grace olhou para ele com os olhos esbugalhados devido ao tom de voz duro que ele empregara.

      – Não me custa fazê-lo. O que se passa? Achas que quero discutir isto contigo outra vez? Não! – gritou, virando-se.

      Perguntou-se porque é que tudo se transformava numa discussão com Mike nos últimos dias. Parecia que ele pensava que tinha o direito de decidir coisas sobre a sua vida.

      – Não me entendeste esta manhã. Não vou discutir sobre a minha agenda ou a minha saúde contigo.

      – Bom, está bem. É óptimo, Grace!

      – Sabes, Mike, eu não gosto desta atitude protectora que pareces ter adoptado ultimamente. O que te dá o direito de estabelecer como devo viver a minha vida?

      – O direito? – perguntou ele, aproximando-se dela. – O facto de ser óbvio que precisas que alguém o faça para não tomares decisões desastrosas! – a sua voz ecoou por toda a sala.

      – Fala mais baixo! – avisou ela. – Há outras pessoas nesta casa que provavelmente estão a tentar descansar.

      Mike pôs as mãos nos bolsos das suas calças, mas não se mexeu.

      – Esta é a minha vida, Mike – sussurrou, com dureza. – As minhas decisões. Os meus erros. Ninguém, incluindo tu, vai dizer-me o que posso ou não fazer. Francamente, ir trabalhar quando estou constipada não pode qualificar-se como uma «decisão desastrosa».

      – Odeio que te preocupes com todos menos contigo própria. Algum dia, Grace, vais abusar e então? O que farás?

      Naquele momento, acariciou a face de Grace, surpreendendo-a.

      – Só quero certificar-me de que estás bem.

      – Eu sei cuidar de mim própria – declarou ela, que estava a relaxar devido

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