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ANTIAMERICA. T. K. Falco
Читать онлайн.Название ANTIAMERICA
Год выпуска 0
isbn 9788835428541
Автор произведения T. K. Falco
Жанр Детская проза
Издательство Tektime S.r.l.s.
Alanna tirou a carta de condução de Jessica da carteira. O gorila arrancou-lhe a identificação da mão. Ele segurou o cartão contra a luz de néon a piscar sobre a entrada. Os seus olhos alternaram entre a foto da carta de condução e o seu rosto. Podia olhar o quanto quisesse. Jamais alguém perceberia que era falsa. Ela inscreveu-se no DMV1 enquanto se fazia passar pela verdadeira Jessica.
As contas bancárias que criara em nome de Jessica usavam o número de segurança social de uma menina de cinco anos. O número fora roubado da mesma empresa de registos médicos. As agências de crédito não verificam os números. Alanna não estava a usar as contas para roubar mais ninguém, então eles não tinham razões para suspeitar. Quanto à menina, levaria anos até que tivesse idade suficiente para se preocupar com o seu histórico de crédito.
O segurança devolveu-lhe a carta de condução e abriu a porta para ela. Ela apercebeu-se da expressão estoica do seu rosto no espelho na parede da entrada. A adrenalina da emoção de ontem era uma memória distante. O resultado fora um estado de entorpecimento emocional que a deixou isolada do resto do mundo. O estado de espírito perfeito para passar algum tempo numa casa de narguilé.
O interior do salão estava banhado por uma luz roxa. Sofás de veludo vermelho e mesas pretas alinhavam nos dois lados da passagem do tapete vermelho, com o bar na outra extremidade. O proprietário optou por uma atmosfera europeia opulenta em vez da decoração usual do Médio Oriente, que a tornou popular entre turistas estrangeiros ricos, bem como a máfia russa.
A sala estava vazia, exceto por dois casais sentados com um narguilé prateado à mesa à sua esquerda e Natalya no bar. Quanto menos pessoas, melhor. Menos hipóteses de a FCCU se aproximar dela. Guardou a carta de condução de Jessica na carteira e retirou duas notas de vinte. Após colocar a carteira na mochila, deu uma espreitadela à palma da mão direita.
A visão de sangue seco provocou-lhe um leve arrepio. Alanna estivera a cavar a sua pele com as unhas durante a maior parte da tarde. Estabelecera um plano para manipular o seu melhor amigo. Em dias calmos como o de hoje ela era incapaz de sentir verdadeiros remorsos, por isso contentou-se com a variedade autoinfligida. Enquanto caminhava até à extremidade esquerda do bar, deixou cair os braços para os lados.
Natalya observou-a enquanto colocava os copos numa bandeja. Andava na casa dos trinta, mas parecia jovem o suficiente para o vestido preto decotado que usava. O novo penteado castanho encaracolado curto fê-la parecer mais velha. Após colocar gelo num copo, encheu-o com Coca-Cola de uma pistola de refrigerante. Era a última pessoa na Terra que lhe serviria álcool. Não que Alanna tivesse qualquer desejo de provar uma única gota.
Natalya bateu com o copo no balcão com uma carranca. “És uma miúda muito imprudente. Não leste a minha mensagem a dizer para não vires cá?”
“É uma emergência. Não tenho outro lugar.”
O rosto de Natalya iluminou-se. “E se o Bogdan aparece aqui e vê-te?”
“Disseste que ele não vem cá.”
“Ele ainda aparece de vez em quando. Assim como os seus amigos.”
Alanna bebeu um gole do copo e limpou a boca. “Eles não sabem que estou aqui. Contanto que não me vejam, eu estarei segura.”
“Menti na cara dele quando me perguntou por ti. Percebes em que situação me estás a meter?”
Alanna ergueu as mãos no ar. “Desculpa. Eu compenso-te. Se quiseres, posso voltar a espiar a tua namorada.”
“Ela já não é minha namorada.”
“Estás melhor assim. És boa demais para ela. Se ela te voltar a arranjar problemas, avisa-me. Mando a polícia atrás dela.”
“Não preciso da tua ajuda para lidar com ela. Não precisas de outra desculpa para te meteres em problemas.”
Alanna apontou para o corredor à esquerda do bar que levava à sala VIP. “Posso usá-la, certo?”
Natalya revirou os olhos. “Podes ficar com o quarto até às nove.”
“Obrigada. O meu amigo deve estar aí a chegar.”
“Nem um minuto mais. O meu chefe vem cá por volta das dez. Estarei metida em problemas se ele te vir lá. Ele é muito rigoroso.”
“Rigoroso? Andas a traficar mesmo debaixo do nariz dele.”
Natalya apoiou as duas mãos no balcão. Ele não sabe porque eu sou cuidadosa. Devias tentar um dia destes. Trouxeste o dinheiro?”
Alanna colocou a mão esquerda no balcão. Natalya fez deslizar um saco de plástico em troca das notas dobradas. Ela levou o dinheiro ao bolso sem se preocupar em contar. As drogas recreativas eram destinadas aos clientes que a espancaram enquanto ela trabalhava no bar. Alanna já não era mais uma cliente habitual, mas ambas ainda se protegiam uma à outra.
Alanna pô-la em contacto com fornecedores baratos na Zona Fantasma — o site do mercado negro onde ela vendia os seus dados de identidade. Natalya mantinha-a informada sobre Bogdan e os seus comparsas da máfia russa, vendendo-lhe ocasionalmente um saco de erva sem cobrar nada e protegia-a nas suas escolhas irracionais de vida. Desta vez, Alanna estava sem energia para lutar.
Guardou o saco no bolso antes de falar ao ouvido de Natalya. “Se o Bogdan aparecer, avisa-me. Fujo pelos fundos.”
“Vou ficar de olho nele. Mas não demores. É melhor não estares aqui quando isto encher.”
Alanna piscou o olho antes de pegar o copo do balcão. “Fico a dever-te uma. Liga-me um dia destes. Agora que estás solteira, podemos ficar no teu sofá a ver a Netflix.”
Natalya sorriu timidamente. Tinha razão em estar preocupada. Não só por ter mentido a Bogdan. Ela era a competição dele. Ele dirigia uma empresa de drogas para os seus chefes russos. Búlgaros. Rijos. Um sociopata com um temperamento mil vezes pior que o da mãe de Alanna — tirando os gritos e berros. Todo queimado à superfície, nos seus olhos e carranca quase permanente. Não era alguém com quem se quisesse estar quando entrou em erupção.
Bogdan era a razão pela qual Alanna mostrou a identificação de Jessica à porta. Ele pode não se lembrar que ela existiu. Ou pode matá-la à primeira vista. É melhor errar por precaução. Ela não teria cá vindo, exceto por ter de assumir que a FCCU vigiava cada movimento seu. Qualquer pessoa com quem ela se encontrasse em sua casa ou na deles, levantaria a suspeita dos federais. O Feliz Acaso serviu de lugar público para onde ela poderia ir com um pouco de privacidade.
A iluminação fluorescente do clube no teto guiou-a pelas casas de banho até à sala VIP. Um cheiro forte a purificador de ar inundou as suas narinas quando ela entrou pela porta. A câmara acendeu-se no mesmo néon roxo foleiro do exterior. Um sofá circular de couro vermelho com almofadas de tecido ocupava metade do quarto. Cadeiras de couro a combinar e duas mesas pretas cobriam ambas as paredes. Cortinas escarlates finas penduradas nas bordas do sofá, com uma mesa preta no centro.
Após colocar a bebida e o pacote de Natalya na mesa central, deixou-se cair no sofá. Retirou alguns de erva do saco de plástico. A erva era outra das razões para ela ter escolhido este local para a reunião. A FCCU não reagiria bem se a visse comprar a um traficante de rua. Pegou no rolo de papel que tinha na bolsa, em seguida, colocou-o na mesa ao lado dos sacos de erva antes de meter mãos à obra.
Minutos depois, foi interrompida por uma mensagem de Brayden no seu pré-pago. Ele estava a reclamar do seu atraso devido ao trânsito e perguntou-lhe por que ela escolheu encontrar-se com ele em South Beach. Mal sabia ele o problema em que ela se estava a meter para mantê-lo fora do alcance dos federais. Eles já andavam a caçar uma pessoa que era importante para ela. Nem pensar que iria pôr o seu melhor amigo no radar deles.
Quando acabou de enrolar, acendeu uma das pontas com o isqueiro para acalmar os nervos. Normalmente só fumava nos seus dias de maior ansiedade. Se automedicar-se sempre que a sua vida se descontrolava