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Mac Brody era um imbecil arrogante que fazia com que Casanova parecesse um monge, mas ele não era o único culpado. Também ela tivera alguma culpa naquele desastre.

      Às duas e um quarto de uma quinta-feira, Portobello parecia uma cidade fantasma, as bancas fechadas deprimiam-na ainda mais. Um par de turistas desconcertados, que evidentemente não tinham lido bem o guia de Londres, davam voltas por ali, mas a rua do famoso mercado estava deserta.

      Juno chegou à loja de Daisy, Funky Fashionista, da qual era gerente, e olhou para a montra que estivera a montar durante quatro horas no dia anterior, orgulhosa de si mesma... e de repente sentiu remorsos.

      Como podia ter sido tão irresponsável?

      Nervosa, passou uma mão pelo rosto, onde a barba de Mac Brody lhe tocara. Sabia muito bem porquê: assim que a beijou, o bom senso dela desapareceu completamente.

      Beijá-lo fora como entrar num raio de sol. Mas por que motivo o corpo dela o escolheu a ele, precisamente a ele, de entre todos os outros homens? Era incrível.

      Esquece o estúpido beijo, ordenou a si própria.

      Não era importante, não ia permitir que o fosse. O atraente Mac Brody deixaria louca qualquer mulher a duzentos metros de distância e ela estivera bem mais perto. Afinal de contas, era uma estrela de cinema, pensou ela. A sua reação fora um... acidente. Um acidente de proporções nucleares, sim, mas um acidente. Não significava nada porque não tencionava encontrar-se novamente com Brody.

      Juno suspirou quando chegou ao edifício da senhora Valdermeyer, que parecia o parente pobre do maravilhoso edifício georgiano onde viviam Daisy e Connor.

      Naquele momento, tudo o que queria era esconder-se no quarto dela e passar o resto do dia a rever a contabilidade da loja e a convencer-se a si mesma de que não acontecera nada.

      Mas não podia fazê-lo porque seis anos antes prometera que enfrentaria as situações sempre de frente. Naquela manhã, cometera um erro e desiludira duas pessoas de quem gostava muito.

      Fossem quais fossem as circunstâncias, tinha que contar a verdade a Daisy e pedir-lhe desculpa.

      – Estou muito feliz por teres vindo – Daisy segurava-lhe um braço enquanto a levava pelo corredor. – O tecido do vestido de noiva chegou finalmente de Nova Deli. É maravilhoso, vem vê-lo.

      – Fantástico – murmurou Juno, tentando mostrar entusiasmo enquanto entrava na ensolarada cozinha. – Onde é que está o Ronan?

      – A dormir a sesta – Daisy suspirou enquanto enchia o biberão de água. – Acreditas que nos acordou às quatro da manhã? Enfim, vamos deixar o meu pequeno monstro, temos que falar do teu vestido de dama de honor – disse depois, pondo o biberão a aquecer. – Não pretendo deixar que vás ao meu casamento de calças de ganga... mas o que é que te aconteceu à cara? É uma alergia?

      Juno levou uma mão à cara.

      – Pois... não sei.

      – Espera, vou procurar um creme de aloé vera, é muito bom para as erupções cutâneas.

      – Não, não é preciso, não me dói – disse Juno, engolindo em seco. – Daisy, tenho que falar contigo. Fiz algo muito irresponsável e...

      – Tu, irresponsável? – interrompeu-a a amiga. – Não acredito. És a pessoa mais sensata que conheço.

      Sim, bom, até àquele dia...

      – Vi o Mac Brody no aeroporto – começou a dizer Juno – e tentei dar-lhe o convite.

      – Viste o Mac, o irmão do Connor?

      – Foi uma ideia absurda tentar convencê-lo a ir ao casamento, mas eu sabia que vocês iriam ficar encantados e...

      – Espera aí – voltou a interrompê-la Daisy. – Estás a dizer que foste ao aeroporto de Heathrow esta manhã para procurar o Mac Brody?

      – Sim.

      A amiga soltou uma gargalhada.

      – Mas isso é fantástico. Conta-me todos os detalhes, por mais insignificantes que te pareçam. É realmente tão bonito como nos filmes?

      Juno corou.

      – A verdade é que não vi nenhum filme dele, mas é tão bonito como nas revistas. E tu não deverias dizer essas coisas, agora que és praticamente uma mulher casada.

      Nenhuma mulher era imune aos encantos de Mac Brody?, perguntou-se, irritada.

      – Posso ser praticamente casada, mas não sou cega – respondeu Daisy. – Além disso, é natural que o ache bonito porque o Connor e ele são muitíssimo parecidos.

      Juno assentiu com a cabeça. O rosto de Mac Brody estava-lhe gravado na memória para sempre.

      Os dois irmãos eram realmente muito parecidos. As feições de Mac Brody eram menos duras do que as de Connor e a cor dos olhos mais pura, mais azul, mas ambos eram altos, morenos e de clara ascendência celta. As maçãs do rosto salientes, as sobrancelhas bem definidas, o físico atlético e aquele ar de perigo... como podia não se ter apercebido até Daisy o mencionar?

      Talvez porque quando olhava para Connor o coração dela não disparava como lhe acontecia com o irmão dele.

      – O aspeto dele é indiferente, a questão é que se recusa a ir ao casamento. Disse-me até que não tinha irmão nenhum. Mas então perdi a paciência com ele... e queria pedir-te desculpa porque agora não há nenhuma possibilidade de que ele vá ao teu casamento.

      – Porque é que tens que me pedir desculpas? Já sabíamos que não iria. Na verdade, eu fui muito otimista ao escrever-lhe aquela carta. O Connor era igualmente teimoso quando o conheci, mas sabendo o que lhes aconteceu quando eram pequenos, não é surpresa nenhuma que o Mac renegue a família – Daisy soltou um longo suspiro.

      O que acontecera à família de Mac Brody?

      Juno esteve prestes a perguntar, mas conteve-se. Talvez houvesse algo mais do que ela pensara. Mas Mac Brody tinha razão sobre uma coisa, não era assunto dela e já se tinha metido em problemas suficientes.

      – Imagino que o Mac precise de uma família tanto quanto o Connor – continuou Daisy. – Mas provavelmente ainda não se apercebeu disso. Bom, conta-me, o que é que te pareceu?

      – O que é que isso importa?

      Talvez Mac Brody não fosse um imbecil como ela pensara, talvez tivesse razões para tratar Connor daquela maneira. Mas não importava o que pensava dele porque não fazia tenção de voltar a vê-lo.

      – A revista Blush nomeou-o o homem mais sexy do planeta e, segundo dizem, neste momento não tem namorada – continuou Daisy. – Imagino que seja um homem ao qual nem sequer tu és imune.

      Então, Juno viu a armadilha. Desde que se apaixonara por Connor, a amiga tentava, por vezes subtilmente outras vezes nem tanto, convencê-la a voltar a sair com alguém. E convidou Mac Brody para o casamento para que o conhecesse...

      – Aconteceu algo! – exclamou Daisy então. – Eu sei, vejo-o na tua cara.

      – Não aconteceu nada...

      – Beijaste-o!

      Juno olhou para ela, perplexa. A sua amiga era vidente?

      – Isso que tens na cara não é uma erupção, é o toque de uma barba... O Mac deve ter vindo diretamente de Los Angeles, pelo que imagino que não tenha tido tempo de se barbear – disse Daisy, com uma precisão aterradora.

      Ah, então não só era capaz de ler-lhe os pensamentos, como também era uma Sherlock Holmes.

      – Foi um erro, não sei como é que aconteceu – começou a dizer Juno. – Tinha que se esconder de um fotógrafo e então...

      Então o quê? O beijo queimara-lhe os neurónios?

      – Não teve a menor importância.

      –

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