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      – O que significa isso?

      – É um brinde italiano.

      – Ah… É italiano?

      – É verdade.

      – O uísque é muito forte, não estou habituada.

      – Ena, agora, sinto-me culpado…

      Antonio não acabou a frase. «Culpado.» Sentia-se culpado por tantas coisas… Coisas que não podia mudar. Coisas que nunca esqueceria.

      – Nunca estive em Itália. É bonita?

      – Algumas cidades são lindas.

      Maisie bebeu outro gole de uísque.

      – Sabe a fogo.

      – E queima como o fogo. – Antonio bebeu o resto do uísque, saboreando o ardor e desejando o esquecimento. Se fechasse os olhos, via o rosto do irmão, o seu sorriso, os seus olhos brilhantes, tão jovem e despreocupado. Mas, se os mantivesse fechados, esse rosto mudaria, tornar-se-ia apagado e pálido. Veria o pavimento vermelho de sangue por baixo da sua cabeça, embora nunca tivesse visto o irmão assim. Nunca tivera oportunidade.

      Era por isso que precisava de continuar a beber. Para poder fechar os olhos.

      – Porque está aqui? – insistiu Maisie, olhando para ele com uma expressão incerta. – Tinha um aspeto tão triste… tão triste como eu me senti muitas vezes.

      Essa admissão surpreendeu-o.

      – Porque se sentia triste?

      Maisie fez uma careta.

      – Os meus pais morreram quando eu tinha dezanove anos. Quando o vi, pensei nisso. Parecia… enfim, parecia tão triste como eu me senti nessa altura. Às vezes, continuo a sentir-me assim.

      A sua sinceridade surpreendeu-o. Mais do que isso, essa verdade sem enfeites deixou-o sem fala. Finalmente, encontrou as palavras, mas não eram as que esperava.

      – Porque eu também perdi alguém e estava a pensar nele esta noite.

      O que estava a fazer? Nunca falava de Paolo com ninguém e muito menos com uma desconhecida. Tentava não pensar nele, mas fazia-o sempre. Paolo estava sempre na sua mente e na sua alma. Perseguindo-o, acusando-o. Fazendo-o recordar.

      – Quem perdeu? – perguntou ela, com um brilho de compaixão nos olhos.

      Era tão encantadora… O cabelo ruivo emoldurava um rosto ovalado de expressão aberta e acolhedora e os lábios suculentos eram tão tentadores… Queria abraçá-la, mas mais do que isso, queria falar com ela. Queria contar-lhe a verdade ou, pelo menos, a parte da verdade que podia revelar.

      – O meu irmão – esclareceu, em voz baixa. – O meu irmão mais novo.

      Capítulo 2

      – Ah… – murmurou Maisie, olhando para aquele homem tão atraente e tão triste que o seu coração se partia por ele. – Lamento muito.

      – Obrigado.

      – Eu também tenho um irmão mais novo e nem quero imaginar…

      Não poderia perder Max. Era a sua única família, mas, agora que acabara o curso, vivia a sua própria vida, exigindo uma independência que a fazia sentir-se ao mesmo tempo orgulhosa e triste. Finalmente, chegara a hora de perseguir os seus próprios sonhos, mas, às vezes, era uma ocupação muito solitária.

      – Mas perdeu os seus pais – disse ele, pondo as mãos nos bolsos das calças enquanto se dirigia para a janela para olhar para o céu. – Como aconteceu?

      – Um acidente de viação.

      Maisie reparou que Antonio ficava com os ombros tensos.

      – Um condutor bêbado?

      – Não, alguém que conduzia a demasiada velocidade. Passou um sinal vermelho e bateu de frente no carro dos meus pais. – Maisie respirou fundo. Cinco anos depois, continuava a partir-lhe o coração. Já não era uma ferida aberta, mas uma chaga antiga e profunda que seria sempre parte dela. – O único consolo é que morreram no ato.

      – Que rico consolo…

      – Pelo menos, é qualquer coisa – replicou ela. Às vezes, era a única coisa que tinha. – Como é que o seu irmão morreu?

      Antonio demorou um instante a responder, como se estivesse a ponderar o que ia dizer, a debater o que podia contar-lhe.

      – Do mesmo modo – replicou, finalmente. – Um acidente de viação, como os seus pais.

      – Lamento muito. É horrível que a irresponsabilidade de alguém possa causar a morte de uma pessoa que amamos, não é?

      – Sim – assentiu Antonio. – Horrível.

      – Era alguém que conduzia a toda a velocidade ou…?

      – Sim – interrompeu ele, num tom seco. – Alguém que ia a demasiada velocidade.

      Maisie percebeu que não queria falar disso.

      – Lamento – repetiu, pondo impulsivamente uma mão no seu braço. Tinha a manga da camisa arregaçada até ao cotovelo e tocou no braço nu, na pele quente e suave. Sentiu um arrepio e quase afastou a mão o mais depressa que podia, mas, por alguma razão, não o fez. Não conseguia fazê-lo.

      Continuaram assim, imóveis, durante uns segundos tensos, até Antonio se virar. Maisie viu um brilho nos seus olhos azuis penetrantes e sentiu uma corrente de calor e de desejo que arrasou todo o pensamento racional. Devia disfarçar, pensou. Só quisera consolá-lo, mas, agora, sentia algo completamente diferente. E avassalador.

      Olhava para ele, sustendo a respiração, sentindo-se presa, mas de um modo maravilhoso e excitante.

      – Quantos anos tem o seu irmão? – perguntou Antonio.

      Maisie conseguiu respirar fundo enquanto afastava a mão do seu braço.

      – Vinte e dois.

      – Então, tinha dezassete quando os vossos pais morreram.

      – Sim.

      – E o que fizeram sem pais?

      – Trabalhar – respondeu ela. Não queria contar-lhe o desgosto e a surpresa que sentira ao descobrir que não tinham economias e que a casa estava hipotecada. O dinheiro sempre fora uma preocupação durante a sua infância, mas, depois da morte dos pais, transformara-se num medo avassalador. Claro que um homem como Antonio Rossi, com o seu iate e as suas casas por todo o mundo, não quereria saber nada disso.

      – Trabalhar – repetiu ele, olhando para ela nos olhos. – Cuidou do seu irmão?

      – Sim, claro.

      Max fora tudo para ela depois da morte dos pais e continuava a custar-lhe não o ver todos os dias. Sentia a falta de precisar dela, mas há muito tempo que não precisava. Emocionalmente, pelo menos.

      – Como se chama? – perguntou ele.

      – Max – respondeu Maisie. – Acabou o curso agora e está a estagiar em Wall Street.

      – Wall Street. – Antonio assobiou. – Parece que as coisas estão a correr bem.

      – Sim, parece que sim. Mas estávamos a falar de ti. Como se chamava o seu irmão?

      Antonio hesitou e Maisie percebeu que não queria falar disso.

      – Paolo – disse Antonio, finalmente, deixando escapar um suspiro. – Tinha menos cinco anos do que eu. Faz hoje dez anos que morreu.

      – Hoje…

      – Daí o uísque – esclareceu ele, deixando escapar uma gargalhada amarga. – O dia dezasseis de janeiro é o dia mais terrível do ano.

      –

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