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anónimo, não era o seu lugar. Parecia… diferente, demasiado poderoso e carismático. Até bêbado, era encantador e atraente. Mas, para além da sensualidade, aquele homem mostrava uma dor que a fez recordar a dela, a sua própria tristeza.

      – Porque devia estar lindamente? – O homem arqueou uma sobrancelha escura. – Por muitas razões. Sou rico, poderoso, no topo da minha carreira e posso ter qualquer mulher. Tenho casas em Milão, Londres e Creta. E um iate de doze metros de comprimento, um avião privado… – Levantou a cabeça para olhar para ela com aqueles olhos azuis trocistas. – Quer que continue?

      – Não – respondeu Maisie, intimidada com a lista impressionante. Aquele não era o seu lugar, pensou. Devia estar no último andar, com o presidente e os vice-presidentes da empresa, ou ter um andar só para ele. Quem seria, questionou-se. – Mas vivi o suficiente para saber que essas coisas não dão felicidade.

      – Viveste o suficiente? – repetiu ele, olhando para ela com interesse. – Pareces uma estudante.

      – Tenho vinte e quatro anos – disse Maisie, com um ar digno. – E sou uma estudante. Limpo escritórios para pagar os estudos.

      – É de noite, não é? – murmurou o desconhecido, virando-se para olhar para as luzes do edifício Chrysler. – Uma noite escura e fria.

      Maisie sentiu uma certa apreensão. Sabia que não estava a falar do tempo.

      – Porque está aqui, a beber sozinho num edifício vazio?

      Ele continuou a olhar para o céu escuro durante uns segundos e, depois, virou-se para ela com um sorriso nos lábios.

      – Mas o edifício não está vazio. Porque haveria de beber sozinho? – perguntou, pousando o copo na secretária e empurrando-o para ela.

      – Não posso – disse Maisie, dando um passo atrás. – Estou a trabalhar.

      – A trabalhar?

      – Limpo estes escritórios. Este é o último escritório do andar.

      – E já quase acabaste.

      Era verdade, mas não importava. Eram quase três da madrugada e tinha aulas no dia seguinte.

      – Mesmo assim, não posso beber álcool. E devia continuar a limpar…

      Ele apontou à volta: Uma secretária, algumas cadeiras e um sofá de pele apoiado contra a parede.

      – Não acho que haja muito para limpar.

      – Tenho de esvaziar o caixote do lixo, aspirar…

      Por alguma razão estranha, Maisie ficou corada.

      – Então, deixe-me ajudar – ofereceu-se o desconhecido. – E, depois, beberemos um copo.

      – Não, eu…

      – Porquê?

      O homem levantou-se da cadeira com um equilíbrio surpreendente, considerando que devia ter bebido quase toda a garrafa de uísque, e tirou do carrinho um pano e uma embalagem de detergente. Depois, afastou os papéis da secretária e começou a limpar enquanto Maisie o observava, atónita. Nunca acontecera uma coisa dessas. Nunca encontrara um empregado que trabalhava até muito tarde. Em geral, deixavam-na limpar enquanto continuavam a trabalhar, suspirando de vez em quando para deixar claro que era um incómodo.

      O homem acabara de limpar a secretária e estava a limpar a mesa de café que havia à frente do sofá.

      – Não vai ajudar-me? Estou a começar a pensar que é uma preguiçosa – brincou.

      – Quem é? – perguntou ela.

      – Antonio Rossi – respondeu ele, pegando no caixote do lixo e esvaziando-o no caixote do carrinho. – E quem é a senhora?

      – Maisie.

      – É um prazer conhecê-la, Maisie – declarou, apontando para o aspirador. – Só falta aspirar e, depois, poderemos beber um copo.

      Era linda, pensou Antonio. Maisie, dissera que se chamava. Parecia surpreendida com a sua atitude e ele também estava um pouco surpreendido.

      Gostava de Maisie, com os seus caracóis ruivos, os seus olhos verdes grandes e essa figura voluptuosa parcialmente escondida por baixo da bata azul do uniforme. Queria beber um copo com ela. Precisava de esquecer e, com os anos, descobrira que o álcool era a melhor forma de o fazer. O álcool ou o sexo.

      Antonio, impaciente, tirou-lhe a aspirador da mão e ela deu um salto. Os seus caracóis saltaram à volta do rosto bonito e ovalado. Tinha sardas no nariz, como um pó dourado.

      – Eu faço-o – disse. E começou a aspirar o escritório. O barulho quebrava o silêncio, que se tornou ensurdecedor quando o desligou.

      Maisie observava-o, perplexa, e ele não estava suficientemente bêbado para não se sentir culpado por seduzir uma empregada num edifício vazio a meio da noite. Mas ela aceitaria ou ir-se-ia embora, de modo que não tinha de se sentir culpado. Já tinha pecados suficientes para expiar.

      Além disso, talvez não levasse a sua avante. Talvez ela fosse casada ou tivesse namorado. Embora achasse que não estava a imaginar a faísca que vira nos seus olhos. Só para pôr essa teoria à prova, tocou nos seus dedos enquanto arrumava o aspirador e viu que as suas pupilas se dilatavam. Sim, a faísca estava lá. Definitivamente, estava lá.

      – Bom, então, bebemos esse copo?

      – Não devia…

      Antonio tirou outro copo da gaveta da secretária e serviu uma dose generosa de uísque.

      – «Não devia» é uma expressão tão aborrecida, não acha? Não devíamos deixar que um «não devia» decidisse as nossas vidas.

      – Isso não é uma contradição?

      Ele riu-se, adorando o seu engenho.

      – Exatamente – confirmou, enquanto lhe oferecia o copo. Ela aceitou-o, sem parar de olhar para os olhos dele.

      – Porque está aqui?

      – Não sei a que se refere. – Antonio bebeu um gole de uísque, desfrutando do ardor do álcool na garganta, um consolo bem-vindo.

      – Neste edifício vazio, a estas horas e a beber sozinho.

      – Estava a trabalhar.

      Até as lembranças amargas começarem a embargá-lo, como acontecia naquele dia todos os anos. E em muitos outros dias se ele o permitisse.

      – Trabalha aqui? – perguntou ela, incrédula.

      – Não de forma habitual. Contrataram-me para me encarregar de uma certa operação.

      – Que tipo de operação?

      Ele hesitou porque, embora a aquisição fosse de conhecimento geral, não queria inspirar rumores. Porém, então, decidiu que Maisie, certamente, não conhecia nenhum dos empregados, de modo que era inofensiva.

      – Dedico-me a avaliar os riscos de uma aquisição e tento minimizar as perdas e os danos durante a mudança de poder.

      – Esta empresa foi adquirida por outra?

      – É verdade. Conhece alguém que trabalhe aqui?

      – Só as empregadas da limpeza. Os nossos postos de trabalho estão em perigo? – perguntou ela, sem conseguir disfarçar o seu medo.

      – Não, não me parece. Seja quem for o proprietário, terá de limpar os escritórios.

      – Ah… – murmurou ela, deixando escapar um suspiro de alívio. – Ainda bem.

      – Brindamos a isso? – sugeriu Antonio. – Os vossos são dos poucos empregos que não se verão afetados pelas mudanças.

      – Ena, é uma pena.

      – Mas não para ti.

      –

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