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aqui é silenciosa e de última tecnologia. As luzes e as sirenes assustariam os cavalos.

      Claro. Nadim insistira em instalar um sistema semelhante de segurança na sua própria quinta, recordou ela. Tentou pensar em alguma forma de não ter de passar um tempo indefinido sob as ordens daquele homem, embora ela própria se tivesse oferecido.

      – Sou jóquei e trabalho na quinta familiar. Não posso deixar as minhas obrigações como se nada fosse.

      Barbier percorreu-lhe o corpo com o olhar antes de responder.

      – Jóquei? Então, como não ouvi falar de ti?

      – Ainda não participei em muitas corridas – respondeu ela, corada. Fora para universidade e licenciara-se, por isso, estivera alguns anos fora do mundo das corridas. Embora não tivesse de explicar isso a Barbier.

      – Sim, claro. Ser jóquei é um trabalho árduo. Tens aspeto de ser frágil e mimada. Não te imagino a acordar ao amanhecer e a passar um dia inteiro de treino árduo, como a maioria dos jóqueis faz. As tuas mãos bonitas ficariam sujas demasiado depressa.

      Ela escondeu as mãos atrás das costas, consciente de que não tinham nada de bonito. No entanto, não as quis mostrar a Barbier, nem sequer em sua própria defesa. Ainda continuava a pensar na forma como dissera que não era o seu tipo.

      A injustiça do seu ataque deixara-a sem palavras. A família sempre trabalhara arduamente na quinta. Acordavam antes do nascer do sol todos os dias da semana, independentemente do tempo que estivesse. Nunca tinham tido uma vida confortável e luxuosa. Nem sequer quando Nadim investira uma grande soma no negócio familiar.

      – E para quem montas?

      – Para as cavalariças da família O’Sullivan – indicou ela, tentando parecer tranquila. – Estou habituada a trabalhar e, acredites ou não, preparo-me para ser jóquei desde que era adolescente. Só porque sou mulher…

      Ele levantou uma mão para a interromper.

      – Não tenho problemas com as jóqueis femininas. Mas incomodo-me com as pessoas que se aproveitam das ligações familiares.

      Nessa teve de se conter para controlar a indignação. Tivera de trabalhar muito mais arduamente do que os outros para demonstrar a sua capacidade à sua própria família.

      – Posso garantir-te que, para mim, ser jóquei não é um capricho. Nada disso – declarou ela, num tom carregado de emoção.

      Barbier observou-a sem se deixar impressionar.

      – Bom, tenho a certeza de que a quinta da tua família sobreviverá sem ti.

      Nessa percebeu que estava perdida. Quer saísse por aquela porta ou ficasse, não podia fazer nada. No entanto, só havia uma forma de conter a situação e fazer com que não atingisse o resto da família. Tinha de fazer o que Barbier queria. Desejou poder voltar atrás e estar tranquila na sua cama, na sua casa. Ainda que, na verdade, algo dentro dela se alegrasse por não ter sido assim. Não se arrependia de ter conseguido ver aquele homem de perto.

      Ao perceber os seus próprios pensamentos, Nessa ficou ainda mais nervosa. O sangue amontoava-se nas veias de uma forma que nunca experimentara antes.

      Contudo, como podia trair o irmão e a família, sentindo-se atraída por aquele homem, questionou-se, envergonhada. Talvez fosse tudo por causa dos nervos da situação.

      – E o que vou fazer aqui? – perguntou ela, tentando não se imaginar fechada numa torre e a pão e água.

      Barbier observou-a de cima a baixo, como se pensasse no que poderia ser capaz de fazer.

      – Oh, não te preocupes. Encontraremos alguma coisa para te manter ocupada. Vais pagar a dívida do teu irmão com o teu trabalho – declarou ele e endireitou-se da secretária onde estivera apoiado. – Farei com que o Armand te escolte até tua casa para que vás buscar o que precisas. Podes dar-me as chaves do teu carro.

      Era possível que aquilo estivesse realmente a acontecer, interrogou-se Nessa. E não podia fazer nada para o impedir. Com reticência, tirou a chave do bolso e deu-a a Barbier.

      – É um Mini vintage. Duvido que caibas lá dentro – troçou ela, embora não tivesse muita vontade de se rir. Não imaginara que a noite acabaria assim. Fora uma parva ao pensar que podia entrar nos escritórios de Barbier com tanta facilidade.

      Ele pegou na chave.

      – Não vou ser eu a tirar o carro de lá.

      É claro. Seria um dos seus empregados, encarregado de se tratar dos pertences da mulher que estaria presa ali.

      Porém, Nessa não era amante dos dramatismos e tentou controlar os nervos. Estava a cinco quilómetros da sua própria casa, afinal de contas. E o que é que aquele homem podia fazer? Uma vozinha maliciosa no seu interior disse-lhe que o pior não tinha a ver com fazê-la pagar pelos pecados de Paddy, mas com a forma como a fazia sentir. Como se estivesse numa montanha russa em cima de um precipício.

      Barbier virou-se e abriu a porta do escritório, onde esperava um guarda-costas enorme. Falaram em francês, tão depressa que Nessa não conseguiu entender nenhuma palavra.

      Depois, Barbier virou-se para ela.

      – O Armand vai levar-te a casa para que vás buscar as tuas coisas e vai trazer-te de volta.

      – Não posso voltar de manhã?

      Ele abanou a cabeça e fez-lhe um gesto para que passasse à sua frente. Sem abrir a boca, Nessa atravessou a porta e seguiu o guarda-costas corpulento para a saída. No exterior, havia um carro à espera. Armand abriu-lhe a porta.

      Durante um segundo, Nessa hesitou. Se corresse suficientemente depressa, podia sair pela porta exterior e ser livre.

      – Nem sequer penses nisso – avisou Barbier, atrás dela.

      No escuro, parecia ainda mais imponente. Alto, moreno e sério. O seu rosto era um estudo de masculinidade.

      Agarrou-se à porta do carro, precisando de alguma coisa para a segurar.

      – E o que acontecerá quando voltar para aqui?

      – Informamos-te quando estiveres aqui.

      – E se me recusar? – quis saber ela, em pânico.

      – Como queiras, mas já disseste que não queres envolver a tua família – indicou ele, encolhendo os ombros. – Se te recusares a voltar, garanto-te que essa será a menor das tuas preocupações.

      Ela tremeu. Não tinha escolha e sabia. Sentindo-se derrotada, virou-se e entrou no carro.

      Pelas janelas de vidros fumados, viu como Barbier se afastava para o edifício principal. O carro pôs-se a caminho, mas ela continuou em silêncio, sem sequer dizer a Armand a morada da sua casa. Pensou que, se conseguisse convencer Paddy a voltar para provar a sua inocência sem envolver mais ninguém da família, então, o seu cativeiro breve nas mãos de Barbier valeria a pena.

      Sem dúvida, a situação devia ter um lado positivo. Se Barbier descobrisse que estava disposta a chegar muito longe para provar a inocência do irmão, daria a Paddy a possibilidade, pelo menos, de se explicar, pensou.

      No entanto, porque é que isso era menos atraente do que o facto de voltar a ver Barbier? Nessa repreendeu-se, olhando para o seu reflexo na janela do carro. Ela não era o seu tipo, recordou-se, com humilhação.

      Quando Nessa regressou um pouco depois, estava tudo escuro e em silêncio. Armand deixou-a com um homem de meia-idade que tinha aspeto de ter acabado de se levantar e cara de poucos amigos. Apresentou-se como Pascal Blanc, capataz das cavalariças, braço direito de Barbier e antigo chefe de Paddy.

      Não disse mais nada ao princípio. Levou-a para um quarto espartano por cima das cavalariças. Obviamente, era lá que os empregados dormiam. Mas, pelo menos, estava limpo e era confortável.

      Depois de a informar das regras básicas e dos horários,

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