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ele, pois não sabia se conseguira esconder a sua reação com ela. Odiava admiti-lo, mas sentia uma certa admiração por aquela intrusa.

      Parecia obcecada com defender o irmão, mesmo quando sabia que podia chamar a polícia e, numa questão de minutos, fazer com que a levassem dali, algemada. Podia fazer com que todo o peso da lei caísse sobre ela, graças à sua equipa eficiente de advogados.

      No entanto, a polícia não costumava estar entre as suas soluções para as situações difíceis. Sobrevivera nas ruas de Paris quando era criança e sabia que a vida era um teste de resistência. Também, por experiência própria, aprendera que a polícia nunca estava presente quando era preciso. Por isso, dizer que não confiava neles seria um eufemismo.

      Luc gostava de tratar das coisas à sua maneira. Talvez tivesse sido por isso que os rumores o tinham transformado numa espécie de mito.

      – E o que fazemos agora? Se estás disposta a tornar-te responsável pelo teu irmão, então, talvez devesses passar-me um cheque no valor de um milhão de euros.

      Nessa ficou pálida. Um milhão de euros era mais dinheiro do que alguma vez veria, pensou. A menos que a sua carreira como jóquei descolasse e lhe dessem a oportunidade de montar em corridas importantes.

      – Não temos tanto dinheiro – disse ela, com toda a firmeza de que foi capaz.

      – Bom, não podemos ir mais longe, então. A coisa está bastante feia. Graças ao que o teu irmão fez, agora, terei de dar outro milhão de euros ao Gio Corretti para que não faça perguntas nem se inquiete por não ter recebido o pagamento.

      Nessa sentiu-se enjoada. Não tinha pensado nisso.

      – Porque não falas com ele e lhe explicas o que aconteceu?

      Barbier riu-se.

      – Não acho que seja boa ideia alimentar rumores. As pessoas dirão que invento histórias para não pagar as minhas dívidas.

      A cabeça de Nessa dava voltas. Precisava de se sentar.

      – Estás bem?

      Ela tentou respirar, a sala tornou-se mais pequena. Barbier aproximou-se. Parecia gigantesco. E era a pessoa mais imponente que alguma vez vira.

      Era demasiado rico, demasiado bonito, demasiado bem-sucedido. Nessa engoliu em seco.

      – Gostaria de poder devolver-te o teu dinheiro agora. Mas não posso. Sei que o meu irmão é inocente, por muito difícil que pareça.

      Não conseguira convencer Paddy a voltar para enfrentar Barbier e provar a sua inocência. Esforçando-se, tentou pensar no que podia fazer para compensar as ações de Paddy.

      – A única coisa que posso fazer é oferecer os meus serviços enquanto o meu irmão não está cá. Se me tiveres, aceitarás que estou disposta a fazer tudo o que puder para provar que o Paddy não é culpado?

      Durante um instante, as palavras de Nessa ficaram a flutuar no ar e ela teve a esperança de ter, finalmente, conseguido fazer com que Barbier a ouvisse. No entanto, ele endireitou-se com uma expressão sombria.

      – Devia ter sabido que essa máscara de inocência não podia ser verdadeira – troçou ele, com um olhar de desdém. – Tenho de admitir que teria sido mais fácil se tivesses entrado pela porta principal vestida de uma forma um pouco mais sedutora. Ainda que, de qualquer forma, tenha de te dizer que não és o meu tipo.

      Nessa tentou compreender a que se referia. Então, percebeu que interpretara mal o que dissera. Envergonhada, corou de humilhação e raiva.

      – Sabes que não me referia a isso.

      Ele arqueou uma sobrancelha.

      – A que te referias, então?

      Ela fez um esforço para manter a calma, apesar de tudo naquele homem a tirar do sério.

      – O que queria dizer é que farei tudo o que estiver ao meu alcance para te convencer de que o meu irmão é inocente.

      Capítulo 2

      Luc ficou a olhar para Nessa O’Sullivan, a digerir as suas palavras.

      «Farei tudo o que estiver ao meu alcance para te convencer de que o meu irmão é inocente.»

      Que tipo de proposta era essa? E porque desfrutara tanto de causar tanta inquietação quando lhe chamara farsante? Primeiro, oferecera-se diretamente e, depois, fingira que não fora assim.

      Luc tinha vontade de se rir. Nenhuma pessoa podia ser tão inocente como Nessa O’Sullivan tencionava fazê-lo acreditar. Talvez as crianças, antes de crescerem e de serem manipuladas pelo ambiente.

      Então, recordou que lhe dissera que não era o seu tipo. Era verdade, no entanto, não podia ignorar como o seu sangue ardia à frente dela. Pensou que devia ser por causa da raiva. Mas sabia que era apenas desejo puro.

      Sabia que devia ter-se ido embora há um bom bocado e tê-la deixado nas mãos das autoridades. Tinha provas suficientes para a condenar, juntamente com o irmão. Mas também sabia que não tinha de ser a única opção.

      A jovem olhava para ele com cautela, como se receasse o seu próximo movimento. Era uma mulher que suscitava o seu interesse, reconheceu ele. Era algo que não acontecia há muito tempo.

      O que podia perder se não chamasse a polícia? Afinal de contas, as forças da ordem pública não eram melhores do que a equipa seleta de segurança que contratara para seguir os passos de Paddy O’Sullivan.

      Uma coisa estava clara. Não ia deixar que a intrusa se fosse embora. Não confiava nela. Não tencionava deixá-la ir até recuperar cada cêntimo do dinheiro que lhe tinham roubado. Se ela era cúmplice, tê-la por perto seria a melhor forma de chegar até ao ladrão.

      Quando cruzou os braços, Luc observou como Nessa ficava tensa, como se estivesse a preparar-se para o pior. Nesse momento, parecia desafiante e vulnerável ao mesmo tempo. Sem dúvida, devia estar a fingir, pensou ele. Não podia deixar-se enganar.

      – Dizes que queres convencer-me de que o teu irmão é inocente?

      Nessa enjoou-se ao pensar que Barbier interpretara que estava a oferecer-lhe o seu corpo, como uma espécie de… Não queria pensar nisso. E é claro que esse homem nunca repararia em alguém como ela, mas também não era preciso humilhá-la.

      – Sim – afirmou Nessa, erguendo o queixo.

      Barbier observava-a com intensidade. Era impossível adivinhar o que pensava, pensou Nessa e, instintivamente, passou a língua pelos lábios. Quando ele seguiu o movimento com o olhar, o coração dela acelerou.

      Os seus olhos encontraram-se novamente.

      – Muito bem. Não vais afastar-te da minha vista até o teu irmão prestar contas das suas ações e eu recuperar o dinheiro.

      Ela abriu a boca, mas foi incapaz de falar.

      – O que queres dizer com não sair da tua vista?

      – Isso, exatamente. Ofereceste-te para ocupar o lugar do teu irmão e, até ele voltar, serás minha, Nessa O’Sullivan, e farás o que te pedir.

      – Vais reter-me como uma espécie de… refém? – perguntou ela, sem conseguir acreditar.

      Ele sorriu.

      – Não. Podes ir-te embora quando quiseres. Mas não conseguirás chegar ao teu carro antes de a polícia te alcançar. Se quiseres que acredite que não tens nada a ver com isto e que o teu irmão é inocente, então, ficarás aqui e farás o que puderes para ser útil.

      – Como sabes que vim de carro? – quis saber ela, tentando acalmar o pânico que crescia no seu interior.

      – Estiveste sob vigilância assim que estacionaste essa sucata junto dos muros da minha propriedade.

      Nessa corou ao

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