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que pareciam de ouro.

      Uma das mulheres disse alguma coisa em árabe e Olivia abanou a cabeça.

      – Lamento, mas não entendo.

      Sorrindo, a mulher indicou a sua roupa e os botões da sua blusa. A outra mulher mostrou-lhe uma embalagem para pintar o cabelo e Olivia entendeu que devia despir-se.

      Ficou em cuecas e sutiã, tremendo de frio. Sentiu vergonha. Tinha uma vida solitária e não recordava a última vez que alguém, exceto o médico, a vira em roupa interior.

      Uma das mulheres pôs-lhe uma toalha aos ombros e a outra preparou a tinta.

      – Como se chama? – perguntou à mulher que lhe pusera a toalha.

      – Mada – respondeu ela, sorrindo.

      – Obrigada, Mada – agradeceu, antes de a conduzir ao lavatório. Fechou os olhos enquanto Mada lhe pintava o cabelo e percebeu que não perguntara se seria temporário. Abra, a outra mulher, cobriu-lhe o cabelo com um gorro de plástico.

      Olivia nem sequer tivera tempo para perguntar a Aziz se aquilo era legal. Fazer-se passar por alguém, sobretudo alguém da realeza, era um crime? E se a detivessem? E se alguém percebesse que não era Elena e vendesse a história à imprensa estrangeira?

      Talvez descobrissem outros segredos. Não suportava a ideia de saberem do seu passado, de as pessoas a julgarem. Já o faziam com muita dureza.

      E o pai, pensou, ver-se-ia desonrado. Depois de ela ter vendido a sua alma, há dez anos, para lhe evitar a vergonha, a ideia de, de todos os modos, acabar humilhado causou-lhe uma satisfação surpreendente e desmedida, seguida do conhecido sentimento de culpa.

      Um aparecimento. Dois minutos. E tudo teria acabado.

      Segundos depois, Mada indicou-lhe que voltasse ao lavatório e inclinasse a cabeça para passar o cabelo por água. Quando acabou, Olivia olhou-se ao espelho e ficou surpreendida. Parecia outra. A pele parecia mais pálida e os olhos, mais afundados, escuros e grandes. O seu cabelo castanho-claro tornara-se preto. Não se parecia com a rainha Elena, mas também não se parecia com ela própria. Talvez, de certa distância, conseguisse passar por ela.

      Mada deu-lhe a mão e levou-a de volta ao quarto, onde lhe tinham deixado a roupa em cima da cama: Um fato cinzento e uma blusa de seda cor de marfim. Olivia vestiu-se depressa. Uns sapatos de salto pretos completavam o traje. Olivia hesitou, já que usava sempre sapatos rasos. Mas olhou para eles e pareceram-lhe um calçado muito sensual, que era uma palavra que não queria ver associada a ela e a Aziz.

      Depois, pentearam-na com um coque e maquilharam-na muito mais do que ela costumava fazer. Sentia-se uma impostora.

      Que era precisamente o que Aziz queria que fosse: Uma impostora convincente.

      Bateram à porta e Malik entrou.

      – Está pronta, menina Ellis?

      – Sim.

      Olhou para ela de cima a baixo e assentiu, dando a sua aprovação.

      – Venha comigo, por favor.

      Enquanto o seguia, com os sapatos a ecoar no chão de mármore, disse, num tom levemente mordaz:

      – É evidente que a Mada e a Abra estão ao corrente do plano e que ambas se parecem mais com a rainha Elena do que eu. Pelo menos, ambas têm o cabelo da mesma cor do que ela. Porque não pediram a uma delas?

      – Nenhuma das duas possui a segurança em si própria nem a capacidade suficientes para levar a substituição a cabo. Nem sequer se sentiriam confortáveis a vestir roupa ocidental.

      – Mas o Aziz e o senhor confiam nelas?

      – Claro. Muito poucas pessoas estão a par deste engano, menina Ellis. A menina, o xeque Aziz, a Mada, a Abra e eu.

      – E a tripulação do avião real, para além do empregado que me escoltou até aqui.

      – É verdade – confirmou Malik, com uma inclinação leve da cabeça. – Mas trata-se de um grupo reduzido cujos membros são leais ao xeque.

      – O Aziz não está em Kadar há tempo suficiente para ganhar a lealdade do povo.

      – É o que ele parece achar. Mas há mais gente que lhe é leal do que pensa.

      Antes de Olivia conseguir responder, Malik abriu a porta de uma sala decorada que tinha uma varanda ampla. Do outro lado da divisão, Olivia avistou o pátio cheio de gente. Algumas pessoas esticavam o pescoço para tentar ver o novo xeque e a futura esposa.

      Olivia sentiu um nó no estômago e levou a mão à boca.

      – Por favor, não vomites – pediu Aziz, num tom seco, ao entrar na sala. – Ias estragar a roupa bonita que usas. – Parou à frente dela e estudou-a de cima a baixo com os seus olhos cinzentos, em que ela viu um brilho de aprovação masculina que lhe contraiu o estômago. Nunca olhara para ela assim. – O cabelo escuro favorece-te. Os saltos também. Muito. Quase lamento que essa cor seja temporária. – Aziz sorriu.

      Ela ergueu o queixo e reprimiu os sentimentos que Aziz despertava tão facilmente no seu interior. Porque reagia assim quando não o fazia antes?

      – Desde que pareça a rainha Elena…

      – Creio que o farás muito bem. Sei que te peço muito, Olivia, mas estou profundamente agradecido pela tua ajuda.

      – Só quero voltar para Paris.

      – E vais fazê-lo. Mas, primeiro, a varanda. – Indicou as portas. Apesar de estarem fechadas, Olivia ouvia o clamor da multidão. Engoliu em seco.

      – Já deste a conferência de imprensa?

      – Há uns segundos.

      – Perguntaram-te porque a rainha Elena não estava nela?

      – Alguns jornalistas fizeram-no e disse-lhes que estavas cansada da viagem e a preparar-te para conhecer o teu novo povo. De todos os modos, neste país, não é habitual que uma mulher apareça à frente dos meios de comunicação social e faça declarações.

      – Mas a Elena fê-lo muitas vezes. É a soberana do seu país.

      – É verdade, mas, em Kadar, vai limitar-se a ser a esposa do xeque. Essa é a diferença.

      Olivia percebeu um pouco de amargura na voz de Aziz e questionou-se a que se devia.

      – Porque é que a rainha Elena acedeu a casar-se contigo se vai ter menos direitos aqui? Suponho que não tenha sido por amor.

      – Claro que não. – Aziz esboçou um sorriso. – A aliança era boa para ambos por diferentes motivos.

      – Falas no passado. Já não é boa?

      – Será quando a encontrar. Mas, por enquanto… – Apontou para a varanda. – O nosso povo, que nos adora, espera por nós.

      Olivia sentiu-se nervosa, mas assentiu.

      – Muito bem.

      – É importante que saibas – disse Aziz, em voz baixa, enquanto se dirigiam para a varanda – que, embora o meu casamento com a Elena fosse por conveniência, as pessoas pensam que é por amor. Querem que seja.

      – Embora tenham ficado noivos há apenas algumas semanas?

      – As pessoas acreditam no que querem acreditar – comentou Aziz, encolhendo os ombros.

      – E o que é que isso tem a ver com o meu aparecimento?

      Aziz sorriu, brincalhão, e acariciou-lhe a face. Para Olivia, foi como receber uma descarga elétrica. Recuou instintivamente.

      – Devemos comportar-nos como se estivéssemos loucamente apaixonados. No entanto, tenta reprimir-te nas tuas demonstrações de afeto. Ao fim e ao cabo, este é um país conservador.

      Ela abriu a boca, indignada, apesar de

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