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Se não te casares no prazo de seis semanas, o que acontecerá?

      – Perderei o trono e o título.

      – E a quem os dariam?

      – O testamento não o especifica. Terei de convocar um referendo.

      – Será o povo a decidir quem será o xeque?

      – Sim.

      – Parece-me muito democrático – afirmou ela, sorrindo.

      – Kadar é uma monarquia constitucional. A sucessão sempre foi dinástica. O referendo é, simplesmente, a forma do meu pai de me tornar as coisas muito difíceis.

      – E não queres obedecer.

      – Não especialmente, mas reconheço que é necessário. – Passara mais de três semanas a tentar encontrar uma forma de fugir do testamento do pai. Não queria casar-se nem ser forçado a fazê-lo. O pai controlara as suas ações, pensamentos e desejos durante demasiado tempo.

      Mas, mesmo morto, continuava a controlá-lo e a magoá-lo.

      – Porque é que, então, não convocas o referendo? – perguntou Olivia.

      – Porque perderia – afirmou ele, num tom leve que passara tanto tempo a usar que se transformara numa segunda pele: A personagem do playboy. Mas falar do pai e da possibilidade de Khalil ser xeque porque o povo não o queria começava a destruir a personagem e receava o que Olivia pudesse ver. – São os riscos de não ter passado muito tempo em Kadar – acrescentou, num tom brincalhão. – Mas espero remediá-lo em breve.

      – Mas não a tempo para o referendo.

      – Exatamente. É por isso que preciso de aparecer com a minha noiva e garantir ao meu povo que está tudo bem. O meu pai deixou o país num estado de agitação política, dividido pelas decisões que tomou há vinte e cinco anos. Estou a tentar por todos os meios reparar o mal e fazer com que reine a paz em Kadar.

      – E se não encontrares a rainha?

      – Vou encontrá-la, mas preciso de um pouco mais de tempo. Os meus homens estão à procura dela no deserto.

      Khalil introduzira um homem leal a ele entre os empregados de Aziz, alguém que lhe dera a mensagem de que o avião de Elena se atrasara por causa do mau tempo. Khalil subornara o piloto do jato real para que desviasse o aparelho para uma zona remota do deserto, onde, juntamente com os seus homens, recebera Elena quando saíra do avião.

      Era o que sabia, a partir do testemunho de duas testemunhas: O comissário de bordo, que vira, impotente, Elena a desaparecer num todo-o-terreno; e uma empregada que vira um dos homens de Aziz a rondar por sítios onde não deveria estar.

      Aziz suspirou. Sim, tivera um plano bem levado a cabo porque Khalil tinha muitos seguidores, apesar de ter abandonado o país com sete anos e de ter regressado há seis meses. O povo recordava o menino que fora o filho amado do xeque Hashem, o seu verdadeiro filho.

      Aziz era o intruso, o pretendente.

      Sempre fora, desde os quatro anos de idade, quando o tinham levado para o palácio. Recordava que o pessoal fingia não ouvir os pedidos humildes da sua mãe e que os serviam com desprezo. Ele estava perturbado e a mãe, desesperada. No fim, ela fechara-se nos aposentos femininos e raramente era vista em público.

      Aziz tentara conquistar o pessoal do palácio, o povo e, sobretudo, o pai, sem nenhum resultado, sobretudo, no que dizia respeito ao seu pai. No fim, acabara por desistir.

      Só faltavam quarenta minutos para a conferência de imprensa. Tinha de convencer Olivia a aceder.

      – Se não encontrar a Elena, terei de me reunir com o Khalil. Talvez possamos negociar. – Embora não quisesse vê-lo nem negociar com ele. A lembrança da última vez que se tinham visto causava-lhe um nó no estômago. O rapaz que ele, com quatro anos, considerava o seu meio-irmão olhara para ele como se fosse algo peganhento e repugnante colado à sola do seu sapato. Depois, o seu pai levara-o para o quarto de jogos para ficar com o filho que sempre favorecera, o que preferia, mesmo depois de saber que não era sangue do seu sangue.

      Apesar de o ter banido, o pai agarrara-se à lembrança de Khalil e desprezara o filho que tornara herdeiro por necessidade, não por vontade própria.

      Aziz obrigou-se a parar de recordar e virou-se para Olivia.

      – De todos os modos, não deves preocupar-te com nada disto. A única coisa que te peço é que venhas comigo à varanda durante dois minutos. As pessoas vão ver-te de longe e vão ficar satisfeitas.

      – Como podes ter a certeza?

      – Esperam a Elena e verão a Elena. Anunciei que chegou esta tarde.

      – Quando eu cheguei.

      – Exatamente. As pessoas esperam vê-la e já estarão no pátio. Dois minutos, Olivia, é a única coisa que te peço. Depois, poderás voltar para Paris.

      – Durante quanto tempo?

      – A que te referes?

      – Vais mesmo precisar de uma casa em Paris e de uma governanta quando te casares e reinares em Kadar, no caso de encontrares a rainha Elena?

      Observou-a durante uns segundos, perturbado ao perceber que se preocupava com o seu emprego.

      – A minha intenção é manter a casa de Paris – disse, apesar de nem sequer ter pensado nisso. – Enquanto tiver a casa, terás trabalho nela.

      Viu a expressão de alívio do rosto de Olivia.

      – Então, estamos de acordo?

      Ela abanou a cabeça.

      – Não…

      – Faltam quarenta minutos para enfrentar as câmaras e os jornalistas. – Aziz deu um passo para ela com as mãos estendidas em atitude de rogo e o sorriso que tantos corações conquistara, embora não o dela. – És a minha única esperança, Olivia, a minha salvação. Por favor.

      – Não exagere, Majestade.

      – Aziz.

      Observou-o durante uns segundos e ele percebeu, nos seus olhos, o dilema com que se debatia. Depois, ela assentiu levemente.

      – Muito bem – acedeu, em voz baixa. – Vou fazê-lo.

      Capítulo 3

      Numa questão de segundos, Malik voltou à sala e Aziz começou a falar com ele em árabe. Olivia teve a sensação de ter entrado num universo paralelo. Como ia fazer-se passar pela rainha Elena?

      Apesar da sua relutância a aceder ao plano de Aziz, percebeu que lhe dava jeito fazê-lo, já que o seu emprego estava nas mãos dele. E, apesar de Aziz não a ter subornado ou chantageado de forma direta, Olivia entendera a mensagem subjacente: «Faz isto e terás trabalho durante o tempo que quiseres.»

      E o seu trabalho e a sua vida em Paris eram tudo o que desejava e esperava ter.

      Não agira unicamente de forma interesseira, pensou, enquanto seguia Malik pelos corredores do palácio. Entendia o dilema de Aziz e não desejava aumentar a instabilidade do país. Não sabia se fingir ser outra pessoa seria de ajuda, mas, pelo menos, proporcionaria mais tempo a Aziz.

      E era de esperar que ninguém se apercebesse e que, no dia seguinte, estivesse de volta a Paris.

      – Por aqui, menina Ellis.

      Malik abriu a porta de um quarto. Olivia observou o quarto, onde tudo era sumptuoso: Desde a cama com dossel, aos sofás de brocado e ao toucador de madeira de teca.

      – A Mada e a Abra vão ajudá-la a preparar-se – informou Malik, sorrindo. As duas mulheres cumprimentaram-na timidamente. – Receio que o inglês delas não seja muito bom, mas garanto-lhe que está em boas mãos. – Com um assentimento leve de cabeça, deixou

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