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a glória de vos servir.

– oOo —Á MESMA

      Dama d'estranho primor,

      Se vos for

      Pezada minha firmeza,

      Olhae não me deis tristeza,

      Porque a converto em amor.

      E se cuidais

      De me matar, quando usais

      D'esquivança,

      Irei tomar por vingança

      Amar-vos cada vez mais.

      Porém vosso pensamento,

      Como isento,

      Seguirá sua tenção,

      Crendo qu'em tanta affeição

      Não haja accrescentamento.

      Não creais

      Que desta arte vos façais

      Invencibil;

      Que Amor sôbre o impossibil

      Amostra que póde mais.

      Mas ja da tenção que sigo,

      Me desdigo;

      Que se ha tanto poder nelle,

      Tambem vós podeis mais qu'elle

      Neste mal que usais comigo.

      Mas se for

      O vosso poder maior

      Entre nós,

      Quem poderá mais que vós,

      Se vós podeis mais que Amor?

      Despois que, Dama, vos vi,

      Entendi,

      Que perdêra Amor seu preço;

      Pois o favor que lh'eu peço,

      Vos pede elle para si.

      Nem duvido

      Que não póde, de sentido,

      Resistir;

      Pois em vez de vos ferir,

      Ficou de vos ver ferido.

      Mas pois vossa vista he tal

      Em meu mal,

      Que posso de vós querer?

      Que mal poderei valer,

      Onde o mesmo Amor não val.

      Se attentar,

      Nenhum bem posso esperar:

      E oxalá

      Que vos alembrasse ja,

      Sequer para me matar.

      Mas nem com isto creais

      Que façais

      Meus serviços mais pequenos;

      Porqu'eu, quando espero menos,

      Sabei qu'então quero mais.

      Nada espero;

      Mas de mi crede este fero,

      Qu'em ser vosso,

      Vos quero tudo o que posso,

      E não posso quanto quero.

      Só por esta phantasia

      Merecia

      De meus males algum fruito;

      E não era certo muito

      Para o muito que queria.

      De maneira,

      Que não he, na derradeira,

      Grande espanto,

      Que quem, Dama, vos quer tanto,

      Que outro tanto de vós queira.

– oOo —A HUMAS SUSPEITAS

      Suspeitas, que me quereis?

      Qu'eu vos quero dar lugar

      Que de certas me mateis,

      Se a causa, de que nasceis,

      Vós quizesseis confessar.

      Que de não lhe achar desculpa,

      A grande mágoa passada

      Me tẽe a alma tão cansada,

      Que se me confessa a culpa,

      Te-la-hei por desculpada.

      Ora vêde que perigos

      Tẽe cercado o coração,

      Que no meio da oppressão

      A seus proprios inimigos

      Vai pedir a defensão!

      Que, suspeitas, eu bem sei,

      Como se claro vos visse,

      Que he certo o que ja cuidei;

      Que nunca mal suspeitei,

      Que certo me não sahisse.

      Mas queria esta certeza

      Daquella que me atormenta;

      Porque em tamanha estreiteza

      Ver que disso se contenta,

      He descanso da tristeza.

      Porque se esta só verdade

      Me confessa limpa e nua

      De cautela e falsidade,

      Não póde a minha vontade

      Desconforme ser da sua.

      Por segredo namorado

      He certo estar conhecido

      Que o mal de ser engeitado

      Mais atormenta sabido

      Mil vezes, que suspeitado.

      Mas eu só, em quem se ordena

      Novo modo de querella,

      De medo da dor pequena,

      Venho a achar na maior pena

      O refrigerio para ella.

      Ja nas iras m'inflammei,

      Nas vinganças, nos furores,

      Que ja doudo imaginei;

      E ja mais doudo jurei

      De arrancar d'alma os amores.

      Ja determinei mudar-me

      Para outra parte com ira;

      Despois vim a concertar-me

      Que era bom certificar-me

      No que mostrava a mentira.

      Mas despois ja de cansadas

      As furias do imaginar,

      Vinha emfim a rebentar

      Em lagrimas magoadas,

      E bem para magoar.

      E deixando-se vencer

      Os meus fingidos enganos

      De tão claros desenganos,

      Não posso menos fazer,

      Que contentar-me co'os danos.

      E pedir que me tirassem

      Este mal de suspeitar

      Que me vejo atormentar,

      Indaque me confessassem

      Quanto me póde matar.

      Olhae bem se me trazeis,

      Senhora, pôsto no fim;

      Pois neste estado a que vim,

      Para que vós confesseis,

      Se dão os tratos a mim.

      Mas para que tudo possa

      Amor, que tudo encaminha,

      Tal justiça lhe convinha;

      Porque

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