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seu valor, mais nada.

      Kassiani deixara de ser incluída nas festas familiares. Não a convidavam para jantares ou eventos. Transformara-se na filha esquecida.

      – Agradeço-te por teres vindo imediatamente – estava a dizer o pai. – Lamento ter-te incomodado, mas temos um problema.

      O pai de Kassiani era um armador como Damen, mas greco-americano, nascido e criado em São Francisco. Sabia que estava nervoso, mas a sua voz não o traiu. Antes pelo contrário, parecia positivo e otimista.

      E Kass alegrava-se por isso. As pessoas não deviam trair os seus medos nas negociações e a fusão da Naval Dukas com o empório Alexopoulos graças ao casamento de Damen e Elexis era uma transação comercial. Uma transação que, nesse momento, estava em perigo.

      O pai não podia devolver o dinheiro que Damen investira na Naval Dukas, que estava à beira da ruína devido a uma má gestão. A empresa teria ido à falência sem uma injeção de dinheiro e Damen fora esse investidor. Mantivera o seu compromisso, mas, agora, Kristopher tinha de lhe dizer que os Dukas não iam cumprir a sua parte do acordo.

      Kass olhou pela janela da vila. O sol refletia-se nas águas brilhantes do mar Egeu, de uma cor turquesa vibrante, mais claras do que as águas turvas do Oceano Pacífico.

      – Não sei se entendo – disse Damen, então. O seu tom era amistoso, mas Kass sabia que aquilo era apenas o prelúdio da batalha.

      Os pugilistas chocam as luvas antes de começar o combate e os jogadores de futebol apertam as mãos.

      Damen e o pai estavam a cruzar as espadas.

      Kass olhou para ambos. Damen não parecia um magnata. Era demasiado atlético, demasiado imponente. Tinha a pele bronzeada e o aspeto de um homem que trabalhava no cais, não à frente de uma secretária. Contudo, era o seu perfil que mais chamava a atenção. Eram essas feições esculpidas, tão severas como tudo nele: A testa larga, as maçãs do rosto altas, a cana do nariz, que parecia ter sido partido mais de uma vez.

      Era um lutador, pensou, e não aceitaria bem a notícia que o pai estava prestes a dar-lhe.

      – Temos um problema. A Elexis foi-se embora – anunciou Kristopher, então. – Espero que volte em breve, mas…

      – Não temos um problema, tu tens um problema – interrompeu Damen.

      – Eu sei – assentiu o pai –, mas pensei que deveríamos avisar os convidados enquanto temos tempo.

      – Não vamos cancelar o casamento. Não haverá promessas falhadas nem humilhação pública. Está claro?

      – Mas…

      – Prometeste-me a tua melhor filha há cinco anos e espero que cumpras o prometido.

      «A tua melhor filha.»

      Kassiani mordeu o lábio inferior para conter a dor e a humilhação.

      Então, viu que Damen olhava para ela com uma expressão séria e com as pestanas pretas espessas a emoldurar uns olhos intensos de cor cinzento-escura. Não sabia o que pensava, mas esse olhar breve intensificou a sua dor.

      Ela não era «a melhor filha» e nunca seria.

      Damen virou-se para o seu pai, esboçando um sorriso desdenhoso.

      – Vemo-nos amanhã na igreja – disse. – Com a minha noiva.

      E, depois, saiu da sala.

      Capítulo 1

      Era o dia perfeito de maio para um casamento na Riviera Ateniense. O céu era de um azul muito claro e sem nuvens e o sol refletia-se nas paredes da capela minúscula, com o mar Egeu e o templo de Poseidon como cortina de fundo. A cerimónia e o copo-d’água teriam lugar na vila histórica de Damen em Cabo Sunião. A temperatura era perfeita e agradável, nem muito quente nem muito húmida.

      Em circunstâncias normais, uma noiva sentir-se-ia feliz, mas Kassiani não era uma noiva normal. Nem sequer deveria ser uma noiva, mas, naquela manhã, Kristopher Dukas tomara a decisão drástica de a trocar pela irmã e, portanto, Kassiani estava à frente da porta da capela, com um nó no estômago, à espera do sinal para entrar.

      Havia muitas possibilidades de aquilo não acabar bem e receava que o noivo a deixasse plantada no altar ao ver que não era a irmã. Damen não era tolo. De facto, era um dos homens mais poderosos do mundo e não gostaria de ser enganado.

      E ela não gostava de enganar os outros. Era a filha mais nova de Kristopher Dukas, a menos notável em todos os sentidos. No entanto, quando o pai a encurralara naquela manhã, exigindo que o fizesse para salvar a família, tivera de aceitar. Casar-se-ia com Damen Alexopoulos, não para salvar a empresa do pai, mas para se salvar.

      Casar-se com Damen seria uma saída. Fugiria da casa do pai e fugiria do seu controlo porque, com vinte e três anos, estava decidida a ser mais do que a opaca, trôpega e aborrecida Kassiani Dukas.

      Casar-se com o magnata Damen Alexopoulos não mudaria o seu aspeto físico, mas mudaria a forma como os outros a viam. Obrigá-los-ia a reconhecê-la como alguém importante, mesmo que parecesse patética.

      A música do órgão começou a tocar no interior da capela e o pai, baixinho, roliço e com o cabelo grisalho, fez-lhe um gesto impaciente.

      Kass conteve um suspiro. O pai não gostava dela. Quando era criança, não entendera a sua frieza com ela porque era muito carinhoso com Elexis, mas, quando crescera, fora capaz de descobrir o mistério.

      Kristopher não era um homem atraente, mas ansiava ser respeitado. Ter dinheiro era uma forma de o conseguir, assim como ter uma família atraente. E enquanto Elexis era a clone da falecida mãe, que fora modelo antes de se casar, infelizmente, ela parecia-se com o pai, de quem herdara a constituição e o queixo marcado. E isso não era o que uma mulher queria quando a mãe fora uma modelo famosa.

      Kassiani deixou escapar um suspiro. Esses pensamentos não a ajudavam nada. A sua autoestima, sempre escassa, estava a desaparecer nesse momento. E, então, o pai estalou os dedos.

      Aparentemente, chegara a hora.

      Tremia quando o pai levantou o véu pesado de renda para cobrir o seu rosto.

      Estava aterrorizada e, no entanto, experimentava uma calma estranha. Assim que entrasse na capela, não poderia voltar atrás. Elexis defraudara o pai e toda a família. Ela não faria tal coisa.

      Por uma vez, poderia fazer alguma coisa pelo negócio familiar. Quisera trabalhar na Naval Dukas desde que estava na escola. Até estudara Gestão e Direito Internacional na universidade de Stanford, mas o pai rejeitara-a, recusando-se a contratá-la ou a ouvir as suas ideias. Era um homem muito antiquado e achava que o lugar da mulher era em casa, a ter herdeiros, preferivelmente masculinos.

      Depois de vinte e três anos a ser uma vergonha para a família, finalmente, podia ajudar o pai, salvando-o da ruína e da humilhação.

      Kassiani respirou fundo, levantou a cabeça e entrou na capela ortodoxa. Era muito pequena, só cinco filas de bancos de cada lado do corredor estreito. Demorou um instante a habituar-se à penumbra do interior, mas, então, viu o noivo.

      Damen Michael Alexopoulos estava à frente do altar com o padre. Com um fato elegante e escuro, tinha um aspeto mais formidável do que no dia anterior.

      Suspeitaria de alguma coisa? Teria percebido que não era Elexis? O véu era tão grosso que mal conseguia ver através da renda, mas Damen não demoraria muito a perceber a diferença de estatura e constituição. Não podia ser Elexis, a rainha do Instagram.

      Mesmo com aqueles sapatos incómodos de salto alto, Kassiani continuava a ser baixa. E o espartilho antiquado, necessário para que conseguisse vestir o vestido, não conseguia disfarçar as suas curvas terminantes quando Elexis era tão magra.

      – Sabe – murmurou.

      – Não sabe

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