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      Não voltaria a expor-se a uma situação vulnerável, não podia. Tinham-lhe esmigalhado tantas vezes o coração que a seguinte poderia ser a definitiva.

      – Todos vão ver-nos como um casal – respondeu ele. – Viveremos juntos. Visitaremos os amigos e a família e receberemos como um casal.

      – Seremos o acompanhante principal um do outro?

      – É uma forma fantástica de o expressar. Além disso, algum dia, é possível que sejamos pais…

      Eva engasgou-se com a comida, bateu no peito, tossiu ruidosamente e bebeu um gole de água diretamente da garrafa.

      – Estás bem…? – perguntou Daniele.

      – Não. Achava que tinhas dito alguma coisa sobre sermos pais.

      – Disse-o. Se vamos casar-nos, dormiremos na mesma cama.

      – E não achas que devias ter-mo dito?

      – Não achei que houvesse necessidade de o dizer com todas as letras. Os casais dormem juntos, querida, e eu vou dormir contigo – indicou. – O facto de dormirmos juntos é outro estímulo para que nos casemos.

      – Não quero ter relações sexuais contigo.

      – Acho que essa é a primeira mentira que me disseste. Não podes negar que te atraio.

      – Se me atraísses, não teria rejeitado a tua oferta de ir para a suíte.

      – Se não te atraísse, não terias hesitado antes de a rejeitar. Achas que não sei quando uma mulher me deseja? Sei interpretar a linguagem corporal e mostras todos os sinais de ser uma mulher que reprime o desejo e entendo, não pode ser fácil reconhecer que desejas um homem que te incomoda tanto.

      – Sempre foste tão egocêntrico?

      – Tive de exercitar durante anos, mas, finalmente, consegui. Além disso, ainda não negaste que te atraio.

      – Não me atrais.

      – Duas mentiras em dois minutos? Isso não está bem para uma mulher que vai ser a minha esposa.

      – Não aceitei…

      – Ainda, mas vais aceitar. Ambos sabemos.

      – Quero deixar uma coisa clara, se aceitar casar-me contigo, não terei relações sexuais contigo.

      – Eu também vou deixar uma coisa clara, quando nos casarmos, dormiremos na mesma cama. Se temos relações sexuais nessa cama ou não, depende de ti.

      – Não vais impor os teus direitos conjugais?

      – Não tenho de os impor. Podes negá-lo à vontade, mas há atração entre nós e aumentará quando estivermos na mesma cama.

      – Vais tentar obrigar-me?

      – Nunca. Não posso prometer que não tente seduzir-te, és uma mulher muito sensual e teria de ser um santo para não tentar, mas respeito a palavra «não». Assim que a disseres, viro-me e durmo.

      Esteve prestes a perguntar se tencionava ter uma amante. O razoável era que, se não ia ter relações sexuais com ele, as tivesse com outra mulher.

      No entanto, isso era um assunto diferente e a intuição dizia-lhe que era melhor deixá-lo como estava. Passara seis anos sem ir para a cama com alguém e não sentira a falta. Sentira a falta dos abraços, mas não do sexo, algo que, no fundo, sempre a defraudara. Não entendia como as pessoas lhe davam tanta importância, mas davam, e não esperava que Daniele se contivesse.

      – Se aceitar, quererei continuar a trabalhar.

      – Não precisarás de trabalhar.

      – Vais deixar de trabalhar? Não precisas de trabalhar. Podias reformar-te neste momento e não te faltaria nada durante o resto da tua vida.

      – Queres trabalhar? – perguntou ele.

      – Adoro o meu trabalho.

      – Já não poderás trabalhar no acampamento.

      Ela ficou atónita. Adorava trabalhar no acampamento. Poderia dizer-se que o seu trabalho era administrativo, mas era útil. Aprendera coisas que não teria aprendido em nenhum outro lugar e, à sua maneira, fora crucial para muitas pessoas que tinham perdido tudo.

      – Não posso deixá-lo – sussurrou ela.

      – Porquê? A organização perderá uma empregada, mas ganhará três milhões de dólares por ano e o salário que vais perder será compensado com a pensão que vou dar-te.

      – Não se trata do dinheiro.

      – De que se trata?

      Eva respirou fundo. Como podia explicar-lhe que o trabalho no acampamento lhe dera um sentido? Encontrara esperança no meio de tantas privações e exatamente quando achara que não restava esperança. Além disso, mesmo que encontrasse as palavras, Daniele não se importaria. Para ele, o dinheiro era o mais importante.

      Isso fez com que tomasse uma decisão.

      – Cinco milhões por ano. Essa é a quantia que terás de pagar à minha organização se quiseres que me case contigo. Além disso, quero-o por escrito, num documento legal.

      – Fará parte do nosso contrato pré-nupcial – replicou ele.

      – O meu advogado vai aprová-lo.

      – Claro.

      – Preciso de avisar com um mês de antecedência…

      – Não – interrompeu ele. – É demasiado tempo. Temos de organizar muitas coisas e não podem esperar. Quero que nos casemos em Itália o mais depressa possível. Comunicarás aos teus chefes que vais despedir-te imediatamente ou fico com a mala e procuro outra esposa.

      Viu a expressão de indignação dela depois do aviso.

      – Vou fazer com que alguém apto ocupe o teu lugar até conseguirem encontrar um substituto permanente – acrescentou ele.

      – E se não encontrares alguém?

      – Encontrarei. Contudo, amanhã, assim que entregar o dinheiro, ficaremos noivos. Não poderás mudar de ideias.

      – Não o farei, desde que o meu advogado aceite que o contrato pré-nupcial é inquebrável.

      – Então, combinado? Vais casar-te comigo? Vais deixar o trabalho e acompanhar-me a Itália amanhã?

      – Tenho de passar por minha casa antes de ir para Itália.

      – Qual é a desculpa para isso?

      – Tu és italiano, mas vão considerar-me uma forasteira. Trabalhei no ministério de Assuntos Exteriores e sei do que estou a falar. Tenho de passar por minha casa em Haia para ir buscar os documentos que as autoridades do teu país me pedirão.

      – Mandarei alguém buscá-los.

      – Não vou deixar que um desconhecido rebusque entre as minhas coisas.

      – Muito bem, levo-te aos Países Baixos, mas mais nada, não vou permitir mais atrasos. Isto significa que estamos de acordo? Digo aos meus advogados para redigirem o contrato pré-nupcial?

      Eva pigarreou e tentou não fazer caso a todas as objeções que lhe ecoavam na cabeça. O que importava que estivesse a aceitar um casamento frio e sem sentimentos quando passara seis anos numa vida fria e sem sentimentos? Casar-se com Daniele significava que a Blue Train Agency beneficiaria generosamente do seu dinheiro, algo muito mais vantajoso do que tê-la como empregada. Como Daniele dissera, casar-se com ele significava que todos saíam a ganhar.

      No entanto, uma voz repetia-lhe na cabeça que, para haver um vencedor, também tinha de haver um perdedor.

      Como podia ser a perdedora? Não ia dar o coração a Daniele, só a sua presença física. Não fez caso dessa voz e observou-o.

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