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ao fim e ao cabo, todos acabavam por se casar. Era o que as pessoas faziam, sobretudo, os aristocratas, mas os tempos, como os costumes sociais, também mudavam.

      Daniele era muito novo quando o avô morrera e o pai herdara o património. Além disso, como era o segundo filho, sempre soubera que Pietro herdaria quando o pai morresse e não se importava. Odiava esse castelo cheio de correntes de ar e goteiras que era como um poço sem fundo por onde o dinheiro desaparecia, mas, sobretudo, odiava a ideia do casamento. Durante toda a sua vida adulta, sentira uma satisfação perversa por continuar solteiro, por ser a antítese do Pietro sério e cumpridor.

      No entanto, Pietro estava morto.

      Durante dois meses, agarrara-se à esperança de que Natasha, a esposa de Pietro, estivesse grávida e esperasse um menino. Então, o filho herdaria o património e ele poderia continuar a viver como sempre gostara de viver.

      Efetivamente, Natasha estava grávida, mas, infelizmente, Pietro não era o pai. Começara uma aventura com Matteo antes de o cadáver do marido ter arrefecido. Matteo, o primo que vivera com eles como mais um irmão desde que tinha treze anos. O próprio canalha contara-lhe pessoalmente que ela estava à espera de um filho dele. Nesse momento, só podia seguir dois caminhos. Ou encontrava uma esposa e renunciava a todas as suas liberdades apreciadas para herdar um património que não queria ou o seu primo ingrato herdaria tudo o que o pai e o irmão tanto tinham adorado.

      Cerrou os dentes e pensou na mãe, no amor e no orgulho que sentia pela família e por esse património que adquirira ao casar-se aos dezanove anos. Então, compreendeu que só havia um caminho.

      – Tenho de me casar.

      – Sim.

      – E depressa.

      – Sim. Pensaste em alguém? – perguntou Francesca.

      Sabia como odiava a ideia de se casar e também tinha uma cabeça mais incisiva para os assuntos legais do que Pietro. Se não conseguia pensar numa forma de anular a cláusula sem que Matteo ficasse com tudo, era porque não podia fazer-se.

      Prometeu-se que a anularia algum dia, que a próxima geração de Pellegrini não teria de pagar esse preço.

      Daniele pensou em todas as mulheres com quem saíra ao longo dos anos. Calculava que as que continuavam solteiras, quase cem porcento delas, correriam para uma loja de vestidos de noiva antes de ele acabar o pedido.

      Então, lembrou-se da última, da única que não acabara na sua cama. Tocou no nariz arroxeado. Os pensos que Eva lhe pusera continuavam lá. Também se lembrou da tristeza que se refletia nos seus olhos azuis cristalinos cada vez que olhava para ele.

      Fora a sua tradutora durante a primeira viagem a Caballeros, há um mês. Numa ilha onde a cor dominante era o castanho e a desolação, resplandecia como um farol na penumbra ou, pelo menos, o seu cabelo, que apanhara num rabo de cavalo infantil, resplandecera. Era de um tom de vermelho que só podia ter saído de um frasco e contrastava com a sua pele como o alabastro. Devia ter de pôr protetor solar de fator cinquenta para a manter tão branca. O contraste era tão bonito que não conseguia imaginar que outra cor, nem sequer a natural, a favorecesse tanto.

      Embora usasse apenas umas calças de ganga velhas e a t-shirt oficial da Blue Train Aid Agency, Eva Bergen era, provavelmente, a mulher mais bonita que conhecera nos seus trinta e três anos de vida e, com toda a certeza, a mais sensual… e odiava-o.

      Olhou para a cara de preocupação da irmã e esboçou um sorriso.

      – Sim. Conheço a mulher perfeita para me casar.

      Uma hora depois, quando saiu do apartamento, pensou que, independentemente do que acontecesse, a mãe estaria finalmente contente com uma decisão que tomara.

      Eva ficou pacientemente na fila para entrar no compartimento dos duches. O acampamento tinha uma quantidade limitada de água limpa e racionava-se zelosamente. Transformara-se numa perita em tomar banho em sessenta segundos com água morna de três em três dias. Ela, como o resto da equipa, sentia remorso e alívio quando, a cada três fins de semana, podia ir a Aguadilla e reservar uma quarto num hotel simples. Lá, pago por ela, podia passar horas no duche, pintar o cabelo, fazer a manicura e lavar a pele enquanto tentava sufocar os problemas de consciência por todas as pessoas acolhidas no acampamento que não podiam tirar alguns dias para ter esses caprichos.

      Se havia algo que não faltava no acampamento era os telemóveis. Todos pareciam ter um, até as crianças que não tinham mais nada. A moda naquele momento era um jogo grátis com bolas às cores que explodiam e se multiplicavam. Um génio da tecnologia ligara todos os jogadores do acampamento, acolhidos e trabalhadores, para que competissem entre si. Eva, como todos, transformara-se numa viciada e estava prestes a bater o seu recorde e de ficar entre os cem primeiros jogadores. Nesse momento, enquanto jogava na fila para tomar um duche, tinha três adolescentes ao lado que fingiam estar tranquilos, embora a observassem com avidez.

      O telemóvel vibrou-lhe na mão, mas ela não fez caso.

      – Devia atender – disse Odney, o mais velho dos adolescentes.

      – Podem ligar outra vez – replicou Eva.

      Odney, com um sorriso malicioso, arrebatou-lhe o telemóvel, carregou no botão para atender e levou-o ao ouvido.

      – É o telefone da Eva, como posso ajudá-lo? Em inglês? – perguntou Odney à pessoa que ligava. – Falo muito mal. Quer falar com a Eva?

      Eva esticou uma mão, olhando fixamente para ele e aguentando um sorriso. Odney, com um sorriso, devolveu-lho.

      – O telemóvel não guardou o jogo… – comentou ele, num tom satisfeito.

      Eva adorava os rapazes de todas as idades do acampamento. Dirigiu-se finalmente à pessoa que ligara.

      – Sim?

      – Eva, és tu?

      A graça do momento desapareceu por completo.

      – Sim, quem fala? – perguntou ela, embora o tom de voz e o sotaque de Daniele Pellegrini fossem inconfundíveis.

      – Sou o Daniele Pellegrini. Tenho de te ver.

      – Fala com a minha secretária e marca uma hora.

      Ela não tinha secretária e ele sabia.

      – É importante.

      – Tanto faz. Não quero ver-te.

      – Quererás ver-me quando souberes porque tenho de o fazer.

      – Não, não quererei, és um….

      – Um homem que tem uma proposta que favorecerá o teu acampamento – interrompeu ele.

      – O que queres dizer? – perguntou ela.

      – Encontra-te comigo e descobre. Prometo-te que te compensará e ao teu acampamento.

      – O meu próximo fim de semana de folga é…

      – Estou a chegar a Aguadilla. Farei com que te tragam.

      – Quando…?

      – Esta noite. Vou mandar alguém dentro de duas horas.

      Depois, desligou.

      Capítulo 2

      Ficou atónita quando viu o hotel luxuoso a que o motorista de Daniele a levava. Era o mesmo hotel em que jantara com ele quando a enganara para sair com ela. O Hotel Éden era o mais luxuoso de Aguadilla e era lá que os ricos se hospedavam. Tinha as únicas calças de ganga limpas e uma camisa preta por engomar porque houvera um corte de eletricidade no acampamento.

      Da primeira vez, quando Daniele a levara ao hotel, porque se dignara a conduzir o carro, ficara imediatamente furiosa.

      – Disseste que era uma conversa informal sobre o hospital.

      Achara que jantariam em algum dos muitos restaurantes

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