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funcionar outra vez, não sei sequer se está bem, e muito menos por onde começar a procurar.” Bateu no anel com a outra mão, frustrado, tentando novamente pô-lo a funcionar.

      Sem dizer mais nada, Angelica encaminhou-se para a entrada do cemitério, ao mesmo tempo que se repreendia pelo seu egoísmo. Estivera tão ocupada com Syn e com os monstros, que não estivera lá para dar cobertura a Zachary… a única vez que ele precisara dela.

      A sua visão ficou turva pelas lágrimas e limpou-as com raiva, apenas para se deparar com uma parede chamada Syn. Os braços dele envolveram-na para a amparar, mas antes que pudesse conter-se, começou a debater-se contra ele. Bateu-lhe no peito com os punhos pequenos, sabendo que de nada serviria, mas o seu primeiro instinto era livrar-se do que quer que a impedisse de encontrar o seu melhor amigo.

      “Larga-me”, sibilou Angelica, mais zangada consigo própria do que com Syn. Era por isto que não se queria aproximar de ninguém. Escolhera a amizade de Zachary porque ele era forte e não lhe daria razões para chorar. Se Zachary tinha perdido os sentidos no seu próprio fogo… então algo de muito errado se passava com ele.

      Syn agarrou-lhe o pulso e puxou-a diretamente para si com um rosnado. “Vou mostrar-te outra coisa que podemos fazer juntos.” Colou os lábios aos dela, numa tentativa de aliviar a fome ciumenta que sentira crescer dentro de si.

      Angelica estacou e arregalou os olhos no momento em que os lábios dele pousaram nos seus. Sentiu os joelhos a fraquejar quando Syn lhe chupou lentamente o lábio inferior. O movimento era tão lento e sexual que quase sentiu as coxas em chamas. A ânsia de retribuir o beijo dominou-a.

      Antes que pudesse prosseguir com a urgência crescente, Syn terminou o beijo e Angelica viu-se novamente fitando os seus olhos escuros de ametista. No seu estado meio aturdido, demorou algum tempo até se aperceber de que existia agora uma parede atrás dele e que a brisa que antes soprava já não lhe acariciava a pele.

      Syn esperou que a sua parceira saísse do estado de êxtase que acabara de lhe provocar, antes de lhe soltar o pulso. Não precisava de a beijar para conseguir realizar o teleporte, mas se ela pensasse que precisava… não ia corrigir o engano.

      Angelica movimentou-se em volta, surpresa por se encontrar no escritório de Storm. Os seus olhos perscrutaram a divisão rapidamente, antes de se fixarem em Zachary. Zachary estava dentro de uma barreira transparente… deitado numa cama formada pelas próprias chamas, tal como Jason tinha descrito. Soltou um soluço fraco ao vê-lo naquele estado.

      Aproximou-se da barreira com passos lentos. Nunca tinha visto chamas tão negras vindas dele e sabia que isso não podia ser um bom presságio.

      “O que se passa?”, sussurrou, perguntando-se se Zachary conseguia ouvi-la.

      Colocando as mãos na barreira, viu um rio do que parecia água resplandecente correndo entre os seus dedos e desaparecendo antes de chegar ao chão. O revestimento ficou de um tom azul elétrico à volta das mãos e ela empurrou-o… testando a sua robustez.

      “Zachary, abre os olhos. Por favor… deixa-me apenas saber que estás bem.” Angelica sentia a esperança desmoronar a cada segundo que passava e ele não respondia.

      O cabelo louro de Zachary adejava à volta do seu rosto e o corpo quase imóvel oscilava suavemente nas chamas, o que mostrava que eram as chamas que estavam a mantê-lo suspenso acima do chão. O que a assustava mais era a sua completa imobilidade… não conseguia sequer perceber se respirava.

      “É um feitiço, Zachary? Foi alguém que te fez isto? Estou a ir… aguenta.” Fechou os olhos e começou a tentar abrir mentalmente as fechaduras à volta da barreira. Ela era capaz de o fazer… ela ia fazê-lo… por Zachary.

      Syn tinha permanecido em silêncio, dando-lhe privacidade para estar com o amigo, mas não era capaz de suportar o seu sofrimento por mais tempo. Colocando-se atrás de Angelica, pousou as palmas das mãos no escudo, acima das mãos dela… fortalecendo-o, em vez de ajudar a derrubá-lo.

      “Porquê? Por que me estás a travar?”, perguntou Angelica, sem compreender.

      “Porque não acredito que o teu amigo Zachary ficasse muito satisfeito se acordasse e descobrisse que te tinha magoado com o seu fogo de fénix. Ele não está a morrer… está a restabelecer-se. E, pela aparência disto, quando acordar vai trazer consigo todo o seu poder.”

      Angelica voltou as costas para a barreira, não querendo ver a imagem sinistra de Zachary a arder. Com necessidade de sentir-se protegida, envolveu com os braços a cintura de Syn e escondeu o rosto no seu peito quente.

      Syn dobrou os braços à volta dela, dando-lhe o conforto que ela procurava silenciosamente. Fitou Zachary e interrogou-se em silêncio sobre o que teria acontecido a Angelica nesta vida, se não a tivesse encontrado. Será que a amizade entre ela e Zachary teria evoluído para algo mais íntimo?

      Apertou os braços à volta dela, enterrando o rosto no seu cabelo escuro, e decidiu não ficar a remoer sobre isso. Ela amava a fénix ternamente, e por isso ele sentia-se no mínimo agradecido…, mas estava na altura de a sua parceira se relembrar daquilo que o amor verdadeiro realmente significava.

      Capítulo 3

      Damon cruzou os braços e encostou-se ao barracão onde estavam guardadas as ferramentas usadas pelos cuidadores do cemitério. Havia poucos caçadores naquela área, uma vez que estava localizada mesmo no canto do cemitério gigantesco e era bastante isolada. Parecia também constituir um refúgio para muitos dos Spinnan que tinham sobrevivido até àquele momento, quase como se estivessem a tentar reagrupar-se e esconder-se.

      Tinha prometido deixar Alicia praticar luta e, no final de contas… este era um lugar excelente para ela o fazer… desde que ele estivesse lá como árbitro. Estes Spinnan eram fracos, em comparação com a maior parte das coisas que corriam pela cidade no momento, mas mesmo assim Damon só permitia que Alicia combatesse contra um de cada vez.

      Sempre que um Spinnan destemido tentava juntar-se a outro para lutar contra ela, Damon dizimava-os antes que se aproximassem o suficiente para a distrair daquele contra quem ela estava a combater. Destruir os monstros que se lançavam a Alicia para a atacar estava a dar-lhe satisfação e Damon estava a divertir-se bastante. Ela era boa… para um principiante.

      Damon notou também um decréscimo drástico do número de criaturas desde a explosão de há algumas horas, e concluiu que alguém tinha encontrado e destruído o ninho. Pessoalmente, não se teria importado de dar uma olhada no demónio que criara aquelas criaturas medonhas, mas afastou essa ideia. Provavelmente, era tão horrendo como aquelas coisas.

      Ao ouvir o som de passos e vozes vindos da orla de árvores abaixo da pequena colina onde se encontrava, Damon deu a volta pela esquina do barracão e foi investigar. Esta ponta do cemitério estava revestida de pinheiros altos e imponentes, que o separavam dos arredores suburbanos.

      Estando assim tão perto das casas, Damon sentia curiosidade em relação ao porquê de ninguém ter ouvido nada durante a noite, nem ter vindo investigar. Houve algumas vezes em que pensou ter visto o brilho de uma barreira à volta da propriedade, mas descartou essa ideia, acreditando tratar-se da sua imaginação. Se uma barreira tinha sido instalada, então talvez os caçadores de demónios não fossem tão inúteis como ele pensara.

      Já tinha quase chegado à linha de árvores quando dois homens surgiram de lá, estacando ao vê-lo. Vislumbrando através das árvores a silhueta branca de uma estrutura, inferiu que o edifício de manutenção principal devia estar no lado oposto ao deles, e que estes homens tinham acabado de chegar para trabalhar.

      Aqueles tipos não podiam ter usado nenhuma das estradas principais para chegar ali… as estradas tinham sido bloqueadas. Além disso, o facto de Damon não ter ouvido quaisquer motores de carros aproximando-se indicou-lhe que os homens viviam a uma distância percorrível a pé.

      “Bom dia”, disse Damon, aproximando-se deles, de modo a poder pô-los sob o seu domínio.

      Os dois homens franziram a testa. Muitas coisas estranhas tinham ocorrido no cemitério nos últimos dois dias e isso deixou-os desconfiados de qualquer pessoa que parecesse indicar problemas…

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