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deu uma gargalhada. “Não seja ridículo.”

      “Talvez tenha encantamentos entremeados nela. Lembra daquela garota em onde foi?” Dagra franziu o cenho enquanto mencionava a lembrança nebulosa. “Aquela que Maros resgatou?”

      “Dificilmente diria que ele veio em seu socorro,” Oriken disse. “Ela foi perseguida por abelhas após perturbar um ninho.”

      “Dag tem um ponto,” Jalis disse. “Aquela garota usou magia para fazer um carvalho voltar a ser uma muda.”

      “Assim nos disseram.”

      Dagra arrepiou. “Bem, eles a levaram para o Arkh depois disso, portanto deve haver uma verdade nisso.” A joia estava começando a se soltar.

      Oriken zombou. “Se eu visse com meus próprios olhos, eu acreditaria. Não considero tudo que ouço como verdade.”

      “Eu sei.” Dagra suspirou.

      “Ela era uma fada-de-nascença, Orik,” Jalis disse baixinho. Dagra podia sentir seu hálito quente em seu pescoço enquanto o observava trabalhar. “Diga o que quiser sobre algumas outras coisas, mas posso lhe assegurar que fadas-de-nascença realmente existem.”

      Oriken não respondeu e a conversa cessou. Enquanto Dagra trabalhava, sua imaginação também. Em sua mente, ele viu novamente a cova do enterro exposto cheio de teias de aranha. Em algum lugar atrás da parede sedosa jazia um parente retorcido e murcho da sua cliente. E por trás da placa em que ele agora trabalhava, jaziam os ossos da ancestral mais antiga de Cela, Cunaxa.

      Um esqueleto agora, ele garantiu para si mesmo. Apenas ossos. Nada a temer. Ele alavancou a lâmina para frente e para trás e com uma torção final a joia funerária deslizou da pedra…

      As órbitas dos olhos preenchidas com teias de aranha olhavam para ele. Em mudo horror, ele encarou de volta. O abrigo da joia agora emoldurava as feições afundadas de Lady Cunaxa Chiddari, cobertas com fios de seda e espiando através da fresta. A pele se esticava sobre o crânio como couro fervido, com tufos de cabelo fundidos na carne mumificada. A testa e as maçãs do rosto estavam enfeitadas com crescimentos escabrosos e o ricto terrível e sem lábios sorria para ele como se deleitado por ter companhia após longos séculos de solidão. Seus dentes enegrecidos se deslocaram e quebraram. Horrorizado, Dagra observava enquanto as teias se rasgavam e a boca se esticava mais e a mandíbula escorregou atrás da placa e caiu no chão com um ruído surdo.

      “Gah!” Dagra saltou para trás, proferindo os nomes da Díade na esperança de que eles o tirassem do corredor pagão e o levassem de volta para a charneca. Bile subiu em sua garganta enquanto ele desviava o olhar do crânio encarquilhado.

      “É apenas um cadáver, Dag,” Jalis disse baixinho.

      “Ele se moveu!”

      “Você perturbou sua posição, só isso.”

      Saliva nadava em sua boca. Ele a engoliu. “Sim. Apenas um cadáver. É claro. Um cadáver, é claro!” Ele emitiu uma risadinha breve, mas maníaca. Captando os olhares divertidos dos seus amigos, ele pigarreou e se recompôs.

      A joia estava nas mãos de Oriken. Ele a segurou no alto e olhou para ela, sem sentir medo do cadáver medonho que os observava. Jalis pegou a lamparina do pódio e a segurou perto do ombro de Oriken. A luz brilhou da superfície multifacetada da joia. Sua frente era circular, a faixa de prata apertada ao redor da circunferência, aparentemente forjada no lugar. De lado, a joia era mais plana, mas avolumava-se no centro ao redor de um núcleo sombreado que se quebrou em prismas na luz da lamparina. O ponto escuro fez Dagra se lembrar de ovos de gema preta do balukha do anoitecer ou um borrão de tinta dentro de uma escultura sólida de vidro. Ele estava começando a corrigir sua avalição sobre o valor estético da joia.

      Oriken passou a mão pela parte de trás da joia. Seu rosto franziu em desgosto. “Vamos ter de dar uma esfregada nela mais tarde. Tem um pouco do rosto dela preso na joia.”

      O estômago de Dagra revirou-se e seus joelhos cederam. Ele agarrou-se ao pódio ao lado dele em busca de apoio.

      Jalis abriu sua mochila e passou um cobertor para Oriken. Ela segurou a mochila aberta enquanto ele embrulhava a joia e a enfiava dentro da mochila. Ela puxou o cordão firme e deu um nó, prendeu as alças da mochila e a pendurou no ombro.

      “É melhor que seja sua roupa de cama e não a minha,” Dagra disse a ela. Quando soltou o pódio, seu olhar pousou na cabeça sem olhos, nariz e agora sem mandíbula de Cunaxa. Enquanto ele encarava zangado a matrona Chiddari, a cabeça deslocou-se novamente.

      “Doce mãe dos profetas! Não me diga que aquilo não aconteceu!” A cabeça estava inclinada de viés, como uma criança atenta e curiosa para saber do que se tratava a comoção.

      “Você pode soltar meu braço agora, Dag,” Jalis disse.

      Ele murmurou um pedido de desculpas e cambaleou para a parede, apoiou-se nas pedras e vomitou. Quando acabou, ele passou a manga na barba e virou-se para ver Jalis e Oriken olhando para ele sombriamente, seus rostos inundados pelo brilho da lamparina.

      Dagra forçou uma risada. “Não sei de onde isso veio.” Ele recusou o lenço oferecido por Jalis. “Não. Estou bem, sério. Apenas um…” Ele podia sentir o cadáver olhando para ele, mas manteve sua atenção firmemente em Jalis. “Temos o que viemos procurar. Vamos dar o fora daqui. Não faz sentido demorar, certo?”

      Jalis assentiu e virou-se para ir embora, mas Oriken colocou uma mão em seu ombro. “Por que não nos mimamos com alguns extras na saída?” Ele apontou para as pedras preciosas em cima dos pedestais e nos recessos onde as pedras preciosas piscavam das sombras. Enquanto Jalis considerava suas palavras, ele pressionou o ponto. “Deveríamos, pelo menos, levar as que estão nestes pedestais para nossa cliente já que elas obviamente vêm como um pacote com a joia. Certo? Se ela não as quiser…” Ele deu de ombros.

      Jalis não pareceu convencida.

      “Caminhe e fale,” Dagra disse. Ele pegou a lamparina de Jalis e seguiu pelo corredor, seus amigos acompanhando para seguir a única fonte de luz.

      “O contrato não menciona nada além a joia,” Jalis disse. “Se levamos mais, nossas ações poderiam ser consideradas um sacrilégio.”

      Dagra cuspiu um palavrão. “Este lugar inteiro é irreverente.”

      Oriken zombou. “Como pode estar bem roubar o maior tesouro, mas errado levar os menores?”

      “Ei,” Jalis disse, “Não faço as regras.”

      Oriken suspirou. “Não é como se Dag não tivesse embolsado uma pedra.”

      “Oh, sua criança!” Dagra virou-se. “Sério? É uma ninharia sem valor! Um pedregulho bonito de um túmulo saqueado!”

      Jalis resmungou baixinho. “É isso o que você pensa, Dag ou é o que você espera?”

      “Não comece com isso novamente. Agora não. Vamos apenas voltar para casa, voltar para a riqueza e um banho quente.”

      “Você não conseguirá nenhum argumento de mim aí,” ela disse. “Orik, os túmulos nesta cripta pertencem aos ancestrais da nossa cliente. Se perturbamos qualquer um deles ao remover suas pedras preciosas – a maioria das quais parece ser relativamente inútil de qualquer maneira, como Dagra diz – estaremos efetivamente roubando da própria Cela, independentemente das nossas intenções, por mais ostensivas que elas possam ser.” Ela olhou para Oriken intensamente. “Dagra encontrou sua pedra preciosa no entulho quebrado; ele pode mantê-la, mas deixamos o resto.”

      “Você é o chefe,” Oriken disse com um suspiro. “Mas e a cidade?”

      Jalis sugou o ar através dos dentes e olhou para ele de soslaio. “Vamos conversar sobre isso depois que deixarmos o cemitério. Já desperdiçamos mais de metade do dia.”

      Oriken olhou para ela por um momento, mas não disse mais nada e a conversa caiu

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