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ar e nos olhos dele via a mesma promessa que recordava do seu primeiro encontro.

      – Sim, é verdade – murmurou. – Agora, dou-me conta.

      Gianni seguira as instruções de Meg por uma questão de cansaço. Estava tão cansado que o seu corpo tinha assumido o controlo da sua mente, de modo que subiu para o seu quarto e, como se estivesse em piloto automático, tirou os sapatos e caiu sobre a cama.

      Quando acordou, o sol batia-lhe nos olhos e a fome fazia com que o seu estômago protestasse ruidosamente. Pegando no telefone, telefonou para a cozinha para que lhe trouxessem alguma coisa para comer. «Megan tinha razão», pensou. «Precisava de descansar e devia ter dormido durante horas.»

      Vinte minutos depois, de banho tomado, barbeado e sentindo-se ligeiramente mais humano, dirigiu-se para a sala de jantar da sua suíte, onde lhe tinham servido o pequeno-almoço, embora o seu relógio biológico lhe dissesse que deveria estar a jantar.

      Mas não parecia. De facto, não se parecia com nada que tivesse aparecido no menu da propriedade Castelfino nos seus trinta e dois anos de vida.

      – Isto tem muito bom aspecto – murmurou, pegando num exemplar de La Repubblica.

      – Está muito bom, signor Bellini. A chefe de jardinagem ofereceu-nos esse menu esta manhã – respondeu o mordomo.

      Gianni estava prestes a perguntar a quem se referia, mas então reparou numa coisa…

      – Este jornal é de segunda-feira. O que aconteceu ao jornal de domingo, Rodolfo?

      – O pessoal tinha instruções estritas para não o incomodar, signor Bellini.

      Gianni observou a bandeja, com expressão perspicaz. Em vez dos croissants e das salsichas de sempre, havia várias saladas e um prato de vidro com uma coisa que parecia um bolo.

      – Isto parece um trifle inglês… Não via isto desde que andava na escola. De onde saiu?

      – A chefe de jardinagem sugeriu algumas mudanças no seu menu, signor Bellini.

      – Era o que ia perguntar-te há pouco. Eu não sabia que tínhamos uma chefe de jardinagem – disse Gianni, suspeitando o que tinha acontecido. A rapariga inglesa que tinha aparecido na propriedade tinha feito o seu ninho assim que ele se virara.

      – A menina Imsey chegou recentemente, signor Bellini.

      – Bom, não te preocupes, não ficará aqui muito tempo. Estou mais interessado em habilidades práticas do que em títulos académicos. Quem se esconde da vida numa biblioteca, tem sempre medo do trabalho árduo – Gianni estava convencido do que dizia, mas a expressão de Rodolfo voltou a fazê-lo recear. – Não me digas que te deixaste enganar por aquele sorriso e aqueles olhos azuis… Aquela rapariga só está interessada numa coisa: no salário. Disse-mo ela mesma.

      O mordomo não parecia ter pressa em ir-se embota. Era evidente que tinha mais alguma coisa a dizer.

      – Mais alguma coisa?

      O homem tossiu suavemente.

      – Talvez lhe interesse saber que a cozinheira não está de muito bom humor, signor.

      Gianni estava a servir-se de uma salada, mas parou ao ouvir aquelas palavras. Saber que Megan conseguia irritar a sua velha e orgulhosa cozinheira fê-lo sorrir.

      – E isso não tem nada a ver com a nova chefe de jardinagem, pois não?

      – Receio que sim, signor Bellini.

      – E a moral na cozinha está…

      – Mais elevada do que nunca – respondeu Rodolfo.

      – Sempre disse que a família Bellini sabia escolher o pessoal – murmurou Gianni, tentando disfarçar um sorriso de satisfação.

      Alguns minutos depois, dispunha-se a comer e, pela primeira vez na villa Castelfino, afastou um prato porque não sobrara nada e não porque lhe provocasse náuseas. Foi então que se apercebeu de que começava a sentir-se bem como não se sentia há anos.

      Para além da nova dieta, num único dia tinha dormido mais do que dormia normalmente numa semana.

      Mas então recordou a realidade: o seu pai tinha morrido, o futuro de centenas de hectares de terreno e de milhares de pessoas em todo o mundo dependia dele como novo conde de Castelfino. O seu negócio poderia ser ampliado agora, como tinha planeado.

      Suspirando, saiu para o terraço, para admirar a propriedade. Todas aquelas terras eram agora suas, sua responsabilidade. Até alguns dias antes, o seu vinhedo tinha ocupado apenas uma pequena parte da propriedade, mas isso ia mudar. Tudo ia mudar. As suas noites de excessos tinham ficado para trás. A partir daquele momento, o negócio vitivinícola ocuparia todo o seu tempo. Assim, poupar-se-ia a ter de pensar num aspecto do seu título nobiliárquico, que pesava sobre ele como a nuvem de cinzas de um vulcão.

      Não queria ser o último conde de Castelfino, mas também não queria ver uma criança a sofrer, porque esse era ainda um sabor amargo na sua boca.

      Mas nunca tinha olhado realmente para a paisagem que havia diante da sua janela. Talvez porque, simplesmente, sempre tinha estado ali. Agora, todos os vinhedos, oliveiras e carvalhos eram dele.

      E então viu Megan Imsey a empurrar um carrinho de mão cheio de ferramentas. Um chapéu de palha escondia a sua cara, mas Gianni conseguia ver que estava a divertir-se. Devia dirigir-se para o jardim amuralhado. Era o último projecto do seu pai, uma extravagância de estufas suficientemente cara para os deixar na ruína.

      Porque é que Megan ia para ali, quando já lhe tinha deixado claro o que pensava dos planos do seu pai? E que tipo de pessoa trabalhava quando não tinha de o fazer?

      Gianni sorriu. Só tinha de pensar nas vezes em que ele arregaçava a camisa para trabalhar. Graças a essa atitude, tinha conseguido uma boa reputação como produtor de vinho em poucos anos. Tinha-o feito como fazia tudo na sua vida: se se queria uma coisa, o melhor era fazê-la nós mesmos.

      Questionou-se então se a menina Imsey teria um interesse semelhante em controlar tudo. Aquele poderia ser o momento perfeito para o descobrir. Fazia um dia lindo e sentia-se sortudo…

      O sol da Toscana batia nas costas de Meg. Dizer que fazia calor era dizer pouco. Sob a camisa branca, as jardineiras e o chapéu de palha, usava uma camada de protector solar porque era de compleição pálida, mas estava cheia de calor.

      Ela estava sempre disposta a trabalhar, mas a villa Castelfino tinha uma novidade que a tornava especial. Cem anos antes, um antepassado de Gianni tinha construído um jardim coberto ao lado da casa para que a sua esposa inglesa não sentisse a falta da casa dela. Não se tinha feito nada com ele em todos aqueles anos, até que o pai de Gianni tivera a ideia de construir estufas de última geração para plantas exóticas e especiais. Os novos complexos estavam quase acabados, mas, naquela manhã ensolarada, interessava-lhe mais a parte do jardim que ainda estava intacta. A melancolia atraía-a e, sorrindo, abriu a porta de madeira e entrou num hectare de paraíso.

      Tinha passado os últimos meses a planeá-lo e a acompanhá-lo, durante as suas viagens a Itália. E no meio do jardim secreto havia um palácio de vidro… Ainda era necessário dar-lhe alguns retoques, mas o edifício principal estava quase acabado. Naquela manhã, com o telhado de vidro aberto para aproveitar a brisa, parecia um galeão com a maior vela içada. Na verdade, não conseguia entender que Gianni não gostasse do projecto e questionou-se como iria convencê-lo a continuar em frente.

      Não queria sequer imaginar que pudesse querer interromper o projecto das estufas e a sua auto-estima frágil não precisava de um novo golpe.

      Para se animar, dedicou a sua atenção à horta, que em tempos tinha produzido alimentos para toda a villa. Décadas de negligência tinham-na transformado num baldio de ervas daninhas e árvores de fruto dispersas, com os ramos a crescer em todas as direcções. Parou o seu carrinho de mão à sombra de uma delas, ao lado

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