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como balas. O aviso que Susie lhe fizera a respeito do chantagista e dos seus amigos sinistros, deu-lhe forças para lutar desesperadamente. Com o braço que tinha livre, procurou atingir brutalmente o agressor. Uma cadeira, diversos objectos e os seus óculos rolaram pelo chão, enquanto se debatia ferozmente por se libertar.

      Apesar de não ser uma mulher baixa nem delicada, os seus cinquenta e poucos quilos obrigaram-na a render-se e a aceitar o facto de que não podia competir com aquele homem.

      – Por favor… solte-me! – suplicou, sem parar de lutar.

      – Inglês? És inglesa?! – sussurrou educadamente o desconhecido.

      «Deve ser um dos amigos do empregado», pensou.

      – Claro que sou inglesa! – exclamou.

      – Uma mulher?! – aquela voz provinha do extremo oposto do quarto.

      – Já tinha reparado nesse pormenor – respondeu o homem que a segurava, antes de começar a falar com o outro em castelhano.

      «Com certeza estão a decidir o que vão fazer com o meu corpo», disse para consigo, esforçando-se por compreender o que estavam a dizer. Porém, era inútil; não entendia uma palavra. «Será que alguém vai dar pela minha falta?». Amargurada, chegou à conclusão de que tal só aconteceria na manhã seguinte.

      Não tinha jantado com os pais, desculpando-se com uma forte dor de cabeça, e quando saiu de casa, Susie ainda não tinha parado de beber. O que significava que, naquele momento, devia estar mal disposta ou a dançar até amanhecer, no clube mais próximo.

      – Vou soltar-te, mas não tentes fugir.

      Depois de ter assentido com a cabeça, Kate decidiu fazer o contrário assim que surgisse a primeira oportunidade.

      Livre e com os pés em chão firme, levantou ligeiramente a cabeça e virou-se para os seus agressores, cega pela luz que provinha da lanterna.

      – Querem desviar isso dos meus olhos, por favor? – pediu, protegendo-os com as mãos.

      Sem os óculos, via apenas os contornos do homem que se encontrava mais distante dela. Em contrapartida, o seu agressor estava suficientemente perto para o poder ver com clareza. Tal como ela, estava vestido de preto dos pés à cabeça. Aliás, essa era a única semelhança entre eles.

      Atordoada, pestanejou várias vezes enquanto assimilava os atributos do assaltante, que ironicamente era o espécimen mais perfeito do sexo oposto que algum dia vira. De entre os seus infindáveis atributos, destacavam-se os ombros largos, as ancas estreitas, as pernas robustas e o rosto.

      E que rosto! Uma testa alta, típica de uma pessoa inteligente; um nariz ligeiramente fino, como uma marca da herança árabe que tão bem caracterizava a população espanhola; as maçãs do rosto bem esculpidas e uma pele bronzeada, quase dourada. A boca era uma combinação intrigante de controlo e de paixão. Os ossos do rosto salientes e perfeitamente delineados harmonizavam-se e conferiam ao seu dono um semblante que nunca passaria despercebido numa multidão. Aquela beleza aliada aos resplandecentes olhos azuis, contornados por espessas e longas pestanas escuras, era simplesmente irresistível.

      De repente, os assombrosos olhos azuis estreitaram-se, enquanto a submetiam a um exame tão exaustivo como o dela. Contudo, o que viu não pareceu impressioná-lo.

      – Diga-me, menina, onde está o González? – perguntou o homem, impaciente.

      Capítulo 2

      Kate negou com a cabeça, sem proferir uma única palavra.

      O homem olhou de novo para ela, antes de se dirigir ao companheiro e de lhe dar uma ordem, em castelhano. Imediatamente, este apagou a luz.

      Durante uns momentos, a escuridão foi total, e Kate achou que, se agisse de imediato, teria tempo de fugir dali, antes que alguém tivesse oportunidade de a impedir de o fazer. Afinal, o que é que tinha a perder? «Muito; além disso, nem sequer conseguiste as fotografias e os negativos», pensou.

      – Nem te atrevas a fazê-lo!

      Ela deu um salto ao ouvir a ordem mordaz que surgiu do escuro e que destruiu por completo as suas intenções de fuga. O outro homem afastou a cortina, e o luar inundou o quarto revelando o perfil vincado do seu agressor, que tinha todo o aspecto de ser o chefe.

      – Esperavas que aparecesse, esta noite? – indagou, retomando o interrogatório.

      – Não conheço o González – replicou a jovem com sinceridade.

      Kate começou a desconfiar de que se encontrava no meio de um conflito entre criminosos. Precisava de agir com prudência; não podia dizer nada que piorasse a sua situação.

      A sua sinceridade não foi suficiente para suavizar a expressão austera do homem que a interrogava.

      – Então, estás aqui por acaso? – perguntou e observou atentamente a roupa que ela usava. – Vestida dessa maneira?! – os seus lábios cruéis e fascinantes deixaram escapar um suspiro impaciente.

      – Olha quem fala! – exclamou, olhando alternadamente para os dois homens, também eles vestidos de preto. Kate sorriu ao pensar que aquilo mais parecia uma convenção de ladrões mascarados de preto.

      – Estás a divertir-te imenso com tudo isto, não? – indagou o homem num tom rude e agressivo.

      O outro homem permaneceu na penumbra do quarto. Devia estar satisfeito por ser o companheiro a conduzir o interrogatório. Tendo em conta o seu porte atlético, provavelmente era ele quem se encarregava da parte física dos negócios. Se bem que o outro não necessitasse da sua ajuda para esse efeito, concluiu Kate, observando o seu entroncado corpo. «Pára com isso!», aconselhou-a uma vozinha no seu interior.

      Depois de respirar fundo, na tentativa de afastar o medo e as especulações libidinosas, procurou analisar a situação com objectividade. Finalmente, chegou à conclusão de que se quisesse sair dali, teria de falar com aquele homem. Ainda que a sua expressão não fosse nada animadora. Já tinha visto estátuas de pedra com feições mais suaves.

      – Claro. É divertidíssimo ser atacada no escuro por um bandido estúpido e enorme – comentou com amargura, ao mesmo tempo que esfregava as costas doridas. – De certeza que amanhã vou estar cheia de nódoas negras – gemeu.

      – Se me tomas por um bandido pouco inteligente, não achas que me devias tratar com mais respeito?

      – Isso é uma ameaça? – perguntou, atenta ao olhar vigilante do homem que revelava uma astúcia sagaz.

      – Se fosse uma ameaça, ter-te-ias apercebido de imediato.

      – Então, não passou de uma manobra para me intimidar – apreensiva, reparou no brilho que brotava daquele olhar arrepiante. Contudo, Kate não queria ser alvo daquele tipo de interesse que parecia despertar nele. A sua liberdade só seria viável se ele a considerasse inofensiva e atoleimada. – Tenho o hábito de conceder o benefício da dúvida seja a quem for, no entanto, creio que esse princípio não se aplica a este caso – declarou, indo contra a sua decisão inicial. – És um bandido da pior espécie. Provavelmente, devia estar calada, mas sempre que me enervo não consigo parar de falar… fui sempre assim…

      – Acho que não estás nervosa – interrompeu-a, calmamente. – Julgo que por detrás desses olhos grandes e inocentes és tão dura como uma pedra. Estavas aqui à espera do González? Ou ele pediu-te para vires aqui buscar alguma coisa? Por acaso, ele sabe que nós andamos à procura dele? Então?

      – Não lucras nada com essas intimidações – advertiu-o Kate, consciente de que o deixara confuso, e questionou-se sobre se estaria a ser atrevida ou simplesmente estúpida ao enfrentá-lo. Na realidade, não conseguia evitá-lo; havia algo nele que a incitava a desafiá-lo.

      – Não sou um malfeitor – retorquiu, irritado.

      Ela sorriu com amável incredulidade, e pareceu-lhe

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