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      Era muito provável que isso viesse a suceder, caso os pais decidissem retirar-lhe a generosa mesada.

      – O que seria… muito desagradável – admitiu Kate, imaginando a cara dos pais se vissem as fotografias da filha mais nova seminua. Nem queria pensar no que poderia acontecer se caíssem nas mãos da imprensa. Recordou-se, então, de vários jornais sensacionalistas que iriam adorar publicar fotografias comprometedoras da filha do juiz de um supremo tribunal.

      – E se ele as envia para o Chris?! Meu Deus do céu, estou perdida! Ele jamais acreditaria que nunca fui para a cama com o Luís.

      – E não foste?

      – Estás a ver? Até tu acreditas nisso! O Luís não passou de uma diversão; íamos juntos às discotecas, era simpático comigo… Kate, não acreditas em mim – acusou-a, abruptamente. – Podes dizer a verdade…

      – Eu acredito em ti, Susie. Agora, cala-te. Deixa-me pensar – pediu Kate, concentrando-se no problema.

      A ruga entre as densas sobrancelhas que, tal como as pestanas, eram bastante escuras, contrastando com o cabelo louro que as duas irmãs tinham herdado da mãe, ficou ainda mais vincada.

      Ao contrário da irmã, a boca de Kate era demasiado grande e o nariz comprido e fino; traços que nunca tinham atraído homem algum. Os olhos cor de amêndoa, sem dúvida o melhor do seu rosto, infelizmente escondiam-se por detrás de uns óculos redondos com aros de metal.

      Com ou sem óculos, a primeira impressão que se tinha de Kate Anderson era a de uma mulher jovem, com uma inteligência sagaz e perspicaz, e com inesgotáveis reservas de energia.

      «A Susie é parecida comigo; a Kate é a mais ajuizada». Kate não se recordava do número de vezes que ouvira a mãe proferir aquelas palavras, defendendo, perante as pessoas, aquilo que parecia considerar como deficiências. «O que tem a menos na aparência tem de sobra em personalidade», afirmava o seu pai, mais benevolente.

      Já tinha aprendido a conviver com aquelas definições. A sua sensatez proporcionava-lhe um estilo de vida que apreciava, ainda que ocasionalmente. Ao ver a reacção dos homens quando a irmã entrava numa sala, desejava não fazer parte do grupo de mulheres que desejavam adquirir alguns dos seus atributos, como o sex-appeal.

      Kate sentou-se na cadeira de vime, colocou os pés em cima desta e abraçou-se às pernas, apoiando o queixo nos joelhos. Descontrolada, foi incapaz de conter a raiva.

      – Afinal, por que razão é que te envolveste com esse fulano? Supostamente tens um compromisso com o Chris. A vossa relação está a correr bem ou resolveste reconsiderar a tua decisão?

      – Kate, não comeces outra vez com essa ideia de que sou nova de mais para casar! – explodiu Susie. – Não sou como tu. Não pretendo enveredar por uma carreira profissional, e o facto de estar comprometida não impede que me divirta de vez em quando – argumentou, fazendo um movimento brusco com a cabeça.

      Essa atitude não impressionou Kate. Sabia que a irmã era voluntariosa, mas não era tão insensível como queria aparentar.

      – Diversão! Não podias ter-te limitado a jogar voleibol na praia?

      – Se tivesses vindo na semana passada como disseste, não me teria aborrecido tanto – retorquiu com um sorriso forçado.

      Susie tinha de arranjar uma maneira de a responsabilizar pelo sucedido; já era habitual.

      – Eu tinha de trabalhar, sabes muito bem disso.

      – Trabalhar?! – suspirou com enfado. – Só pensas nisso. Não me admira nada que o Seb te tenha deixado. Desculpa, foi um comentário infeliz – acrescentou, visivelmente arrependida. – A verdade é que antes do Luís aparecer as férias estavam a ser um verdadeiro inferno. O pai e a mãe faziam questão que eu os acompanhasse; todos os dias íamos visitar igrejas horríveis e coisas desse género. Sempre achei que umas férias em família nesta idade seriam dramáticas.

      – Pensei que tinhas mudado de opinião quando soubeste que era o pai que as ia pagar – Kate não conseguiu evitar o comentário.

      – E agradeço a Deus por não termos feito as reservas naquele hotel horroroso nas montanhas para onde querias ir. A única coisa que se podia fazer por lá era contemplar a erva a crescer.

      – E também não havia um Luís.

      – Muito sinceramente, Katie, em relação às fotografias… Julgo que ele deitou alguma coisa na minha bebida quando estávamos na piscina. Recordo-me apenas de ter chegado ao meu quarto. Sentia-me tonta e só tinha bebido um copo de vinho branco…

      – Que estupidez! Deveríamos chamar a polícia! – exclamou Kate, enojada.

      – Deixa-te de parvoíces, Kate! – replicou Susie, enfurecida. – Normalmente sou muito cuidadosa com essas coisas. Nunca deixo o meu copo na mesa; levo-o sempre comigo. E naturalmente nunca aceito bebidas de homens que não conheço…

      – Naturalmente – repetiu Kate num murmúrio.

      Nunca lhe passara pela cabeça ser tão cuidadosa como a irmã, ainda que na verdade nunca tivesse saído com um estranho. Os seus pretendentes ou eram amigos dos seus amigos, ou eram colegas de trabalho.

      – O que mais me surpreende é o facto de ele nunca me ter tentado tocar. O que lhe interessava realmente era o dinheiro do papá e não eu.

      – Felizmente!

      – Fui mesmo estúpida. Já andava a arquitectar um plano para me livrar dele, diplomaticamente. Pensava que estava louco por mim. Meu Deus, Kate! E agora, o que é que eu faço?

      – Não te preocupes Susie, vai correr tudo bem. Espero eu! – acrescentou, e abraçou a irmã.

      – Emprestas-me o dinheiro para lhe pagar? – Susie levantou a cabeça e encarou-a com ansiedade.

      – Não lhe vamos dar nem um tostão. Eu vou conseguir as fotografias e os negativos.

      – Como?

      – Bem, ainda não sei.

      – Ouve, Kate. Não acho que seja uma boa ideia. Não creio que ele as entregue. Além disso, vi-o a conversar várias vezes com uns tipos de aspecto bastante duvidoso. Não sei porquê, mas tenho a impressão de que ele pode ser um homem muito vingativo. E confesso-te que, em parte, foi isso que me atraiu nele… aquela faceta perigosa – admitiu, constrangida. – Sabes a que me refiro – declarou, enquanto a irmã compunha os óculos. – Não, julgo que não entendes. Sei que me consideras uma pessoa extremamente egoísta, mas acredita que não conseguiria dormir se te acontecesse alguma coisa.

      – Não te preocupes. Não tenho intenções de deixar que me façam mal – tranquilizou-a Kate, ao mesmo tempo que limpava o nariz.

      Durante uma hora, no meio daquela escuridão, Kate vigiou a casa do pessoal até ter a certeza de que não estava lá ninguém.

      Quando tentou abrir a porta, sentiu-se gelar com os nervos; os seus batimentos cardíacos abafavam qualquer outro som.

      Não se lembrava de algum dia se ter sentido tão assustada, nem sequer na primeira vez que teve de comparecer diante de um juiz, como advogada.

      Depois de ter aberto a porta com relativa facilidade, guardou o cartão de crédito, que utilizara como chave, e pôs o capuz preto da camisola para esconder a cabeleira loura.

      Com a lanterna, foi iluminando o chão e abrindo caminho por entre a roupa espalhada pelo tapete. Nunca se sentira tão mal em toda a sua vida. Quando tudo aquilo tivesse terminado, iria beber um copo e tomar um banho relaxante.

      Colocou a lanterna em cima da cómoda, abriu a primeira gaveta com as mãos trémulas. Ao sentir que tocava num envelope grosso, pensou que aquele era o seu dia de sorte.

      No entanto, essa segurança transformou-se em pânico quando, de repente, um feixe de luz proveniente de uma lanterna potente iluminou o quarto. Antes

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