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madeira? Alguma coisa era de aço, como a amurada, e não tinha um mastro ou velas no convés. Era como se eles estivessem em uma armadura da Idade das Trevas, mas com certeza aquilo afundaria. Armaduras não flutuavam. Temia estar preso em um sonho estranho, mas só que o tapa que a rapariga tinha dado no seu rosto doeu o bastante para assegurar a sua consciência. Ele poderia mesmo estar na época errada como a Sra. Baker tinha sugerido?

      Não era possível… ainda assim, ele se ouviu fazendo a pergunta que pensou que seria recebida com bufos e escárnio.

      – Que ano é este?

      A Sra. Baker bateu na mão do filho quando ele abriu a boca para responder e ela disse:

      – Estamos em 2015. – A voz gentil disse aquilo de forma tão suave que ele quase não ouviu. Com certeza ele tinha ouvido errado.

      Christophe recuou vários passos e sacudiu a cabeça. Isso é…

      – Impossível – sussurrou. Essa mulher estava brincando com os seus temores? Ela achava que ele era tão fácil de enganar?

      Qualquer outra explicação faria sentido?

      Josiah sorriu depreciativamente, esfregou os olhos com o polegar o indicador.

      – Que dia você acha que é? – Então, baixinho, ele adicionou – Isso vai ser interessante.

      – Dezoito de junho. – Christophe odiou o tremor na própria voz. Não podia aceitar que aquilo era verdade, mas ele olhou para Josiah quando adicionou – Do ano de nosso Senhor de 1715. – O homem não gostava dele, e o curvar dos lábios e o balanço desdenhoso de cabeça o comprovou. Eu tinha sido sugado pelo oceano e pousei em outra era?

      A Sra. Baker se limitou a assentir.

      – Três séculos. Exatamente como nas histórias. Sempre em três. – Ela olhou para ele, os olhos castanhos brilhando. – Pobrezinho. Você deve estar tão confuso, tão perdido. – Segurando a bengala com força, ela adicionou – Quero que me conte tudo.

      Josiah ergueu a mão para pôr um fim àquela conversa, e então um barulho estranho veio da caixa preta presa à camisa dele. Vozes abafadas se seguiram antes do estouro bizarro de sons entrecortados. Christophe olhou para aquilo boquiaberto.

      Definitivamente incomum. Em 1715… Deus, estava pensando mesmo naquilo. Esfregou a testa, verificando se estava febril, mas a pele continuava fresca ao toque. Talvez estivesse tudo acontecendo em sua cabeça.

      – Vá fechar o seu turno – disse a Sra. Baker para Josiah quando ele xingou baixinho. – Quero conversar com o nosso amigo.

      – Ele está armado – disse Josiah, sério. Apontando para ele como se ele fosse sair matando todo mundo. Christophe não o culpava por querer discutir, e sorriu enquanto eles se debicavam sobre se ele iria ou não matá-la a sangue frio antes de roubar o navio e condenar a todos. Só de eles pensarem que ele, sozinho, seria capaz de roubar um navio desse tamanho, o deixou de ânimo elevado, que voltou a diminuir por causa da confusão do navio em si e sua… eletricidade.

      – Ele não vai atirar em mim – disse a Sra. Baker. Ela era algum tipo de bruxa? Cabelo grisalho, encurvada, e a bengala… ela se encaixava no papel, mas havia menos gargalhadas e cânticos do que ele imaginava. – Eu tenho as respostas que ele precisará. – Aquilo era verdade, e ele não atirava em pessoas aleatórias. Normalmente, elas mereciam, ou era questão de vida ou morte.

      Josiah puxou a mãe para longe para falar com ela em particular, mas Christophe ainda podia ouvir o que ele dizia.

      – Mãe, os contos dos nossos ancestrais foram criados para nos dar lições sobre moral. Para tratarmos todos com respeito, assim como gostaríamos de ser tratados. Que a gente pode ser recompensado de formar inimagináveis, se nossa alma não for contaminada pelo mal. – Josiah se inclinou para que eles se olhassem olho no olho. – Aquele homem não tem a alma pura. Viagem do tempo não existe. Ele está brincando com a senhora. Está tirando vantagem da sua bondade. Olhe para ele, pelo amor de Deus!

      Ela examinou Christophe e então meneou a cabeça.

      – Como você sabe se a alma dele não é pura? Isso me parece uma suposição, se quiser saber. Ele com certeza parece um pirata de 1715, se alguma vez eu tivesse visto um. Eu aposto uma boa quantia com você de que a arma e a espada são autênticas. Quer apostar? – Ela arqueou a sobrancelha, e Christophe escondeu uma risada por trás de uma tosse fingida. A idade não tinha apagado o fogo dela, nenhum pouco.

      – Virou historiadora agora? – Josiah sacudiu a cabeça. – Além do mais, a senhora se lembra do que os nossos ancestrais estavam fazendo em 1715? Se ele estiver falando a verdade, o que não está, por que a senhora iria querer ficar sozinha com ele?

      Christophe cruzou as mãos atrás das costas e encontrou o olhar atravessado de Josiah com a cabeça erguida.

      – Eu nunca comprei ou possuí um escravo, se é isso o que está sugerindo. – Lá na Inglaterra, a prática não era comum. No máximo, servos podiam ser contratados para pagar um débito ou uma viagem pelo mar, mas era só quando chegaram às colônias que a prática cruel foi apresentada à sua família. Embora o pai tenha conseguido o cargo de governador, o que os fez mudar da Inglaterra, ele não tinha sido capaz de dissuadir os outros da prática bárbara, e a Coroa estava preocupada demais para ouvir qualquer coisa que o pai tinha a falar sobre o problema. Resumindo, o rei Jorge não se importava, contanto que as colônias continuassem leais e pegando os impostos devidamente. A situação não foi tão tranquila quanto ele desejava.

      – Isso não existe mais – disse a Sra. Baker, séria, a boca formando uma linha fina. – Tenho certeza de que isso não será um problema.

      Sem hesitar, ele respondeu com um sincero “não, senhora”. Nunca gostou da escravidão, e ficou feliz por ela ter acabado. Talvez a senhora até fosse lhe contar o desenrolar dos fatos, mas, ao perguntar, teria que aceitar que ele tinha, mesmo, viajado trezentos anos para o futuro.

      – Bom. O respeito ainda é difícil de conseguir, mesmo depois de tanto tempo. Os horrores que os homens podem impor aos outros são aterrorizantes. – Ela alisou uma ruga na longa saia preta, modesta comparada com o que as mulheres mais novas a bordo daquele navio vestiam, mas muito diferente dos vestidos que tinha crescido vendo as mulheres usarem. – Eu sei que você é um homem decente, está na sua aura, e você não olhou nenhuma vez para mim ou para Josiah como se estivéssemos passando de qualquer tipo de limite. Mas notei um momento de incerteza quando você olhou para isso aqui. – Ela ergueu a mão com o anel de diamante.

      – Ele deve ter pensado que a senhora o roubou. – Josiah passou um braço protetor em volta da mãe. – Homens daquele tempo teriam pensado.

      Revirando os olhos, Christophe apontou para o anel.

      – Se uma pessoa de uma classe inferior tivesse roubado algo assim, ela não teria a coragem de usá-lo à vista de todo mundo. Pensei que fosse um símbolo de status, confirmando em minha mente que eu não estava no navio de alguém que comete as atrocidades das quais você pensa que sou capaz. – Ele olhou para a Sra. Baker. – Entenderei, no entanto, se a senhora quiser seguir seu rumo e se me considerar culpado por associação.

      A Sra. Baker meneou a cabeça e deu um tapinha no rosto de Josiah.

      – Meu filho está sendo superprotetor, já que meu marido ficou em casa. Estou viajando para Nassau para visitar uns parentes, é bom ter um filho que trabalha em uma companhia de cruzeiro e que pode conseguir descontos para a mãe. – Ela estreitou os olhos para ele e então adicionou – As mulheres também têm direitos iguais agora. Você acha que pode lidar com uma mulher dizendo o que deve fazer, talvez até mesmo uma mulher de cor como eu, sem que seu orgulho seja ferido? – O fogo voltou para o espírito dela. Christophe gostou daquela mulher.

      Soltando uma risada, ele disse:

      – Eu tinha uma mãe, uma preceptora e duas irmãs. Cresci com mulheres me dizendo o que fazer. – Embora ele entendesse por que ela tinha trazido aquele assunto à tona. Os homens do seu tempo estavam acostumados a terem todo o controle. Tudo começava

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