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– disse o capitão Morgan, dando um olhar corajoso e persistente demais para o seu peito —, eu morri e fui para um veleiro de devassidão como recompensa? Essa é a vida após a morte?

      Serena cuspiu marimbondo. Ele está usando falas de pirata? Sério? Além do mais, ele estava dando mole para ela? De todos as respostas em que pôde pensar, o melhor que veio a sua mente foi:

      – Você me chamou de rapariga? – Quando ele se limitou a piscar como resposta, ela suspirou, fazendo o possível com o que tinha, por pior que fosse. – É claro que chamou. – Movimentando a mão para fazer xô para ele, ela adicionou – Vá fazer suas devassidões em outro lugar. Eu estou indo para a cama. Tente se resolver antes de voltar lá para aquela multidão. Boa noite.

      Ela deu as costas para ele e deu no pé, talvez um pouco rápido demais. Becky Ann ficaria de cara com o que ela fez. Quando Serena dissesse a ela que o ator pirata meio que deu em cima dela e ela fugiu intocada, a amiga lhe daria um sacode. Ela sabia que Serena era um horror na arte da pegação, mas ela não a teria deixado fugir como uma corça assustada.

      Na verdade, provavelmente foi um presente do céu Becky Ann ter ficado doente porque ela os teria trancado no armário de limpeza até se convencer de que eles tinham feito vários dribles e marcado ao menos um gol. A melhor amiga era extremamente à vontade com a sexualidade. E no que dizia respeito ao seu método de formar casais, era à vontade demais. Era exaustivo se esquivar das ideias da amiga sobre diversão quando ela, com um drinque na mão e um sorriso maligno nos lábios, mandava Serena passear.

      Enquanto enfiava a mão no bolso procurando pelo cartão, ela olhou para trás e soltou um gritinho. O capitão Morgan a seguira e esperava a alguns metros de distância com um brilho quase que ansioso nos olhos. Ele ergueu uma sobrancelha dourada e cruzou os braços quando ela não conseguiu destrancar a porta.

      – Abra a porta da cabine, rapariga. Estou cansado, mas tenho estamina o bastante para cuidar de você primeiro.

      O significado das palavras dele foi como um soco no estômago, liberando todo o frio que estava lá dentro. Tudo aquilo fez as suas partes entrarem em alerta máximo: preparando, esperando, ansiando. Ah, merda. Ela fodeu com tudo.

      – Mas que diabos? – aquilo era ela, fodendo com as coisas. – Você não vai entrar. Esse é o meu quarto. Vá procurar o seu. – Ele estava sendo assustador, não estava? Então por que a respiração dela ficou profunda, quase como se ela estivesse pensando em permitir que ele entrasse no quarto?

      Aquilo jamais aconteceria. Não poderia seduzir um homem nem se tentasse. Faltava confiança, ela se sentiria boba… e muito, muito ansiosa.

      O pirata balançou a cabeça.

      – Eu vou ficar com você até aportarmos. Talvez você possa resolver o mistério desse… navio. – Ele fez um gesto abrangendo o ambiente.

      Aquilo era de verdade?

      – Hum, que tal… não. – Mistério? Que mistério? Sua mente e o seu corpo a puxavam para direções opostas. Ao menos sua mente tinha bom senso, e estava dizendo para ela se fechar no quarto e trancar a porta. Esse homem é perigoso, mas não por ele ser um pirata falsificado. Estava atraída por ele, e ela não iria se envolver com ninguém naquele cruzeiro, não importa o que Becky Ann dissesse.

      O pirata pareceu pensar naquilo, coçou a barba no queixo, mostrando os múltiplos anéis de prata que brilhavam à luz. Ambas as orelhas tinham argolinhas de ouro. Nunca tinha sido do tipo que tinha uma quedinha por homens com piercing, mas eles caíam bem nele.

      – Eu gosto da perseguição, amor. Posso esperar a noite toda. – O sorriso espertalhão implicava que ele estava bem ciente de que ela o desejava. Uma pena, para ele, que aquilo não tinha a mínimo de importância.

      – Não estou brincando de nada. – A voz dela tinha soado tão rouca para ele quanto soou aos seus ouvidos?

      Ele invadiu o seu espaço pessoal, colocando a mão sobre a porta e enjaulando-a com o corpo. Serena prendeu a respiração e ele ergueu a outra mão para afastar o cabelo do seu rosto com carícias suaves. Ela tremeu quando ele murmurou:

      – Você está. – As mãos dele eram grandes, calejadas e quentes. Como seria a sensação delas sobre o seu corpo nu?

      Não, não iria pensar naquilo.

      O cheiro de mar, suor, rum temperado e alguma coisa que não reconheceu tomou os seus sentidos, e ela quase podia acreditar que ele tinha saído de um navio pirata para tomar tudo e qualquer coisa que ele quisesse… dela. Ela franziu o nariz.

      – Que cheiro é esse?

      Surpreso, o capitão Morgan recuou e levou a lapela do casaco marrom escuro ao nariz e deu uma fungada.

      – Pólvora.

      Imagens dele atirando, com a pistola que estava enfiada no cinto da espada, em piratas vis penetraram em seus pensamentos. Canhões retumbando, madeira quebrando. Pancadas de água enquanto corpos caíam sobre as laterais de um navio alto ostentando o sinistro Jolly Roger preto na bandeira. Coisas que não acharia atrativas, mas que de alguma forma, achava. Filmes demais.

      – Certo. Eu não ouvi pistolas disparando. Só os fogos de artifício. Podemos deixar a encenação de pirata de lado, capitão Morgan? Você pode sair do personagem quando estiver perto de mim. Não vou contar para o seu chefe. – Talvez ele fosse ter problemas caso saísse do personagem assim como acontece nos parques temáticos.

      O pirata franziu o cenho, toda a provocação tinha sumido de seus traços.

      – Eu me chamo Christophe Jones, e eu não sou capitão. Não houve explosões porque o seu veleiro não estava por perto quando o meu afundou sob o ataque. – Christophe cruzou os braços novamente e murmurou – Nem tenho certeza de como vim parar a bordo desse… – Ele olhou em volta, desconfiado. – … mamute. – De certa forma, ele parecia um pouco aflito. Por causa do tamanho do navio?

      A tripulação o trouxe a bordo e o colocou para trabalhar como pirata para pagar a passagem dele depois de ele ter sobrevivido a um naufrágio? Aquilo era absurdo. Ela deveria ligar para o sindicato dos trabalhadores quando aportassem.

      – Sinto muito pelo acontecido – respondeu Serena, sem saber o que mais dizer sobre os comentários estranhos. – Mas eu ainda não vou deixar que você entre no meu quarto.

      Cristophe, mais uma vez, deu um sorriso pretencioso, colocando mãos possessivas em seus quadris e puxando-a para perto. Apesar do seu desconforto por ser objeto da atenção dele, o desejo se acendeu por todo o seu corpo. Essa onda de excitação e luxúria era paixão? Tivera intimidade com os namorados no passado, mas de alguma forma aquilo era diferente. Por que ele estava vestido como um pirata? Não, nunca curtiu muito desse negócio de faz de conta. Não conseguia apontar o que o fazia ser tão… interessante.

      – Eu vou fazer valer a pena. – Ele levou uma mão à algibeira presa ao cinto e tirou de lá duas moedas com caras de velha. – Pago adiantado.

      Seu cérebro não compreendeu o propósito.

      – Pagamento pelo quê?

      Christophe levou os lábios aos dela com força, quase como se ele acreditasse que nunca mais voltaria a beijar uma mulher e quisesse aproveitar a experiência ao máximo. A língua dele tinha gosto de rum caribenho e a cabeça dela nadou. Ele trilhou beijos por sua bochecha e ela o puxou para mais perto, não acreditando no que estava acontecendo e desejando que nunca terminasse. Daquela forma ela não teria que recuar e quebrar o encanto. Então ele sussurrou:

      – Pelos seus serviços, é claro.

      CAPÍTULO DOIS

      A bela rapariga seminua se afastou bruscamente dos seus braços e lhe deu um tapa na cara. A cabeça de Christophe virou para o lado e a dor formigou marcando a sua pele. Momentaneamente atordoado, ele levou a mão à bochecha e a encarou. Uma mulher jamais tinha lhe dado um tapa.

      – Oh, não me olhe assim. Babaca machista.

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