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forma, ganhar a confiança da tripulação e do capitão, o suficiente para que acabasse sendo elevado a contramestre do Calypso. Provavelmente porque ele era um dos poucos que tinha o mínimo de bom senso para fazer o maldito trabalho. Ele era letrado, e o dono anterior do posto morreu de disenteria. Uma forma horrorosa de ser morrer.

      Quando o Calypso começou a afundar, Christophe hesitou por um mero segundo antes de partir para a ação. Agora, quem restou da sua antiga tripulação ou estava morto ou tinha sido levado prisioneiro junto com o Serpente do Mar. Ninguém procuraria por ele. Já tinha passado muito tempo para que alguém descobrisse a sua identidade e pedisse um resgate. E tudo ficaria bem mais uma vez. Finalmente.

      Resignando-se a ficar vivo, e longe dos dentes dos tubarões, ele só desejou chegar à terra, o que tinha começado como um plano tão decente quanto a maioria dos planos decentes começava. Ele parou de remar para descansar os braços, mas o cabelo da nuca se arrepiou e ele olhou em volta. O primeiro sinal para voltar a remar para o outro lado deveria ter sido o brilho abaixo da superfície.

      A coisa o rodeava, um brilho azul-esverdeado debaixo da água, espalhando-se cerca de quinze metros em todas as direções. Christophe parou para admirá-lo e tentava, ao mesmo tempo, desvendar a causa. A água escura se agitava ao redor do brilho. Nenhuma luz que já tinha visto, seja de lamparina ou de fogo, já criou um brilho assim. Um homem supersticioso presumiria que aquilo era algum trabalho de bruxaria ou magia negra, mas ele não acreditava em mágica. Ele ria de tais disparates – isso se não estivesse olhando para uma luz que parecia vir de outro mundo e que estava brilhando bem no meio do oceano.

      As listras da pele do seu companheiro tubarão ficaram claramente visíveis enquanto ele o rodeava com os dentes afiados e mortais. Em volta dele, cardumes de peixes brancos se afastavam freneticamente para todas as direções. Aquele foi o segundo sinal para a retirada, mas era tarde demais.

      Um enorme redemoinho se formou abaixo, lento de início. Explosões brilhantes de água turquesa giravam, ficando cada vez mais largo e profundo, até que o meio se afundou e o rugido do mar sugou o bote como uma tromba d’água em uma tempestade de luzes. Não pôde fazer mais nada além de jogar a mochila sobre o ombro e se segurar com a vida enquanto a corrente capturava o bote e a embarcação começava a girar indo para o fundo do abismo.

      Havia tantas coisas que desejava para a vida. Casamento, filhos. Fazer a diferença, ainda que não soubesse de que forma. A pirataria tirou tudo dele, e ele se permitiu ter esperança, talvez esperança demais, de que poderia voltar ao caminho a que tinha se proposto antes.

      Nunca voltaria.

      Christophe ia morrer, sem dúvida, e se não fosse afogado, então seria pela pressão de ser engolido pelo vórtice. De qualquer forma, o rum iria com ele; um pequeno prazer ao qual se agarrar na vida após a morte.

      18 de junho de 2015

      Eu queria me apaixonar por um homem diferente de qualquer outro que eu já conheci.

      Serena abriu os olhos enquanto o meteorito sumia. Fazer um desejo para uma estrela-cadente era meio infantil, mas o conforto do ato tinha sido mais nostálgico que qualquer coisa. Momentos mais tarde, os fogos de artifício se acenderam no céu com explosões de ouro, azul, violeta, verde e vermelho. As explosões de luzes azuis e verdes eram particularmente vívidas, refletindo na água que seguia o rastro do navio, quase como se tivessem sido disparadas por debaixo da superfície. Lindo.

      Os passageiros foram só “óóó” e “aaa” enquanto apontavam para o efeito. Com vários outros estouros acima, o navio sacudiu e virou para a esquerda, indo em direção ao lugar ali na água que tinha emitido a luz azul-esverdeada. Serena segurou a amurada com força para se equilibrar. Na água, os reflexos dos fogos de artifício diminuíam, mas o brilho pareceu quase girar ali por um instante, como o ralo de uma banheira. Quando piscou, ele desapareceu.

      Uma criança começou a chorar atrás dela, provavelmente assustada por causa do movimento brusco do navio, e o tumulto a fez voltar para a realidade.

      – Por favor, permaneçam calmos – alguém disse no sistema de autofalante. – Algo bateu no navio. Provavelmente um… tubarão-baleia? – O sistema de comunicação desligou com um estalido seco. Serena engoliu o impulso de rir. Eles anunciaram mesmo que tinham batido em um tubarão, como se eles não tivessem certeza de que tinham batido mesmo? Não achava que aquele seria o tipo de coisa que anunciariam, mas quem era ela para saber?

      Ao seu lado, uma mãe segurava os pequenos com força enquanto eles tentavam espiar sobre a amurada, esperando ter um vislumbre do tubarão-baleia que foi capaz de agitar um navio de cruzeiro. Não parecia plausível, mas, se era mentira, o que mais poderia ter causado o movimento?

      – O navio não machucou o turbarão, machucou? – uma garotinha perguntou enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto. – Coitadinho do tubarão.

      Serena se afastou da amurada enquanto um homem magro com óculos bifocais olhava ao redor, a paranoia gravada em seus olhos arregalados.

      – Esse navio é grande demais para sofrer o baque do golpe de um tubarão-baleia – ele deu voz aos pensamentos dela antes de se virar para o amigo, que se limitou a erguer uma sobrancelha, então ele prosseguiu. – Estamos no Triângulo, cara! Alienígenas.

      Ela bocejou e achou que aquela era a sua deixa para voltar para a cabine. Alienígenas e Triângulo das Bermudas eram duas coisas nas quais não acreditava e não começaria a acreditar agora. A nostalgia de infância por fazer um pedido para uma estrela-cadente desapareceu, e a meia-noite parecia uma ótima hora para ir para a cama. Os vinte e oito não a estavam tratando com bondade no que dizia respeito a ficar acordada até tarde, mesmo tendo aquela idade pelo total de um dia. Costumava ser muito boa em só ter duas horas de sono, mas ultimamente… se não dormisse ao menos de 6 a 8 horas, ficava com o humor de uma fera. Além do mais, era para ela se divertir na viagem.

      Divertido não era exatamente a palavra que ela usaria para se referir ao cruzeiro que fez pelo Caribe para comemorar o aniversário. Duas das suas amigas cancelaram em cima da hora, e Becky Ann acabou ficando tão enjoada hoje mais cedo que até mesmo os medicamentos que deram para ela não estavam ajudando. Ela teria que ficar na enfermaria até que o navio aportasse no dia seguinte.

      As primeiras horas sem Becky Ann foram ok, mas acontece que no dia do seu aniversário, Serena acabou zanzando por aí sozinha, sem falar com ninguém. Verdade seja dita, isso a salvou dos esforços da amiga de lhe arranjar alguém, a maioria dos homens ali estavam com suas esposas e filhos, de qualquer forma. Mal podia esperar para voltar para casa, sério. Fariam uma última parada nas Bermudas e então voltariam para as Bahamas.

      Ela foi caminhando em direção às cabines do navio e uma multidão apressada chamou a sua atenção.

      – É o Jack Sparrow! – alguém gritou animado.

      – Não, dã. Ele é louro. – Isso foi dito como se fosse um sacrilégio colocar os dois na mesma frase. Que Deus não permita.

      Parando na base da curta escadaria que conduzia aos quartos, Serena olhou rapidamente para trás, na direção da gritaria, bem na hora que uma pequena horda de mulheres e crianças passavam em uma animada troca de murmúrios.

      – Mas eu quero tirar uma foto com ele – a mulher disparou. – Você já tirou uma.

      – Você é um rato imundo e desprezível? – um garotinho perguntou com a voz maravilhada.

      – Você diz coisas como “faça o navio em pedaços?”

      Uma mulher murmurou “Eu o faria em pedaços.”

      – Por que você não vai procurar a sua irmã, Tommy? E deixa a mamãe falar com o pirata bonzinho?

      – Você é um pirata de verdade? Posso segurar a sua espada?

      – Oh, meu Deus, Lisa, olha o traseiro dele. Ele é genuíno e sexy. O cruzeiro investiu mesmo neste ator.

      Retrocedendo até chegar

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