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Disse a voz. Ela a ouviu ecoar em sua mente e se perguntou quantas vezes haviam chamado o nome dela.

      Ela olhou para cima e reconheceu Kendrick, olhando para ela. De pé ao lado dele estava seu irmão Godfrey, junto com Srog, Brom, Kolk e vários outros. Do outro lado dela estava Steffen. Gwen odiava as expressões de seus rostos. Eles olhavam para ela como se ela fosse uma pobre coitada, como se ela tivesse retornado do mundo dos mortos.

      “Minha irmã.” Kendrick disse, sorrindo. Ela podia ouvir a preocupação em sua voz. “Diga-nos o que aconteceu.”

      Gwen balançou a cabeça, cansada demais para contar tudo.

      “Andronicus.” Ela disse, com voz rouca, sua voz não era mais que um sussurro. Ela limpou a garganta. “Eu tentei… render-me… em troca da cidade… eu confiava nele. Estúpida…”

      Ela balançou a cabeça vez após vez, uma lágrima rolou pelo seu rosto.

      “Não, você é nobre.” Kendrick corrigiu apertando-lhe a mão. “Você é a pessoa mais corajosa de todos nós.”

      “Você fez o que todo grande líder teria feito.” Godfrey disse dando um passo adiante.

      Gwen balançou a cabeça.

      “Ele nos enganou…” Gwendolyn disse. “… Ele me atacou. Ele mandou McCloud me atacar.”

      Gwen não pôde mais aguentar: ela começou a chorar enquanto falava as palavras, incapaz de conter-se. Ela sabia que isso não era próprio de um líder, mas ela não podia controlar-se.

      Kendrick tomou a mão dela entre as suas e a apertou suavemente.

      “Eles iam me matar…” Disse ela. “… Mas Steffen salvou-me…”

      Todos os homens olharam para Steffen com um novo respeito, ele estava, como sempre, lealmente ao lado de Gwen, com sua cabeça inclinada.

      “O que fiz foi muito pouco e muito tarde.” Ele respondeu humildemente. “Eu era um só homem contra muitos.”

      “Mesmo assim, você salvou nossa irmã e por isso, estaremos sempre em dívida com você.” Disse Kendrick.

      Steffen abanou sua cabeça.

      “Eu tenho uma dívida muito maior para com ela.” Respondeu ele.

      Gwen chorava.

      “Argon nos salvou a ambos.” Concluiu ela.

      O rosto de Kendrick ficou sombrio.

      “Nós vingaremos você.” Disse ele.

      “Não é por mim que eu que estou preocupada.” Disse ela. “É pela cidade… pelo nosso povo… Silésia… Andronicus… ele vai atacar.…”

      Godfrey deu um tapinha na mão dela.

      “Não se preocupe com isso agora.” Disse ele, dando um passo à frente. “Descanse. Deixe que nós discutamos essas coisas. Você está segura agora, aqui.”

      Gwen sentiu os olhos dela se fechando. Ela não sabia se estava acordada ou sonhando.

      “Ela necessita dormir.” Illepra disse, dando um passo à frente com atitude protetora.

      Gwendolyn ouvia tudo isso vagamente enquanto se sentia cada vez mais sonolenta. Ela entrava e saía do estado de inconsciência. Por sua mente passavam as imagens de Thor e logo as de seu pai. Ela estava tendo dificuldades para discernir o que era real e o que era um sonho e ouvia apenas trechos da conversa acima de sua cabeça.

      “Que tão sérias são as suas feridas?” Disse uma voz, talvez fosse a voz de Kendrick.

      Ela sentiu Illepra pousar a palma da mão em sua testa. E foram dela as últimas palavras que Gwen ouviu, antes que seus olhos se fechassem:

      “As feridas do corpo são leves, meu senhor. São as feridas do seu espírito, as mais profundas.”

*

      Quando Gwen acordou novamente, foi ao som de um fogo crepitante. Ela não podia dizer quanto tempo tinha passado. Ela piscou várias vezes enquanto olhava ao redor do quarto escuro. Ela viu que a multidão havia se dispersado. As únicas pessoas que permaneceram foram Steffen, sentado em uma cadeira ao lado da cama; Illepra, que estava sobre ela, aplicando uma pomada no seu pulso e apenas mais outra pessoa. Era um homem idoso e gentil que a olhava com preocupação. Ela quase o reconheceu, mas tinha dificuldade em identificá-lo. Ela sentia-se tão cansada, muito cansada, como se não tivesse dormido há anos.

      “Minha senhora?” O homem idoso disse, inclinando-se. Ele segurava algo grande em ambas as mãos, ela olhou para baixo e percebeu que era um livro com uma capa de couro.

      “Sou eu Aberthol.” Disse ele. “Seu antigo professor. Está me ouvindo?”

      Gwen engoliu saliva e assentiu lentamente, abrindo um pouco os olhos.

      “Eu estive esperando horas para vê-la.” Disse ele. “Eu a vi mexer-se inquieta.”

      Gwen assentiu lentamente, lembrando-se dele, grata por sua presença.

      Aberthol inclinou-se e abriu o grande livro, Gwen podia sentir o peso dele em seu colo. Ela ouviu o farfalhar de suas páginas pesadas enquanto ele as folheava.

      “É um dos poucos livros que eu salvei.” Ele disse. “… Antes do incêndio da Casa dos Eruditos. É o quarto volume dos anais dos MacGils. Você o leu antes. Dentro dele há histórias de conquistas, vitórias e derrotas é claro, mas há também outras histórias. Histórias de grandes líderes feridos. De feridas do corpo e feridas do espírito. Todos os tipos de lesões que possamos imaginar, minha senhora. E eu vim aqui para dizer-lhe isto: até mesmo os melhores homens e mulheres sofreram as formas mais inimagináveis de tratamento, lesões e tortura. A senhora não está sozinha. A senhora é apenas uma partícula da roda do tempo. Há inúmeros outros que sofreram coisas muito piores do que a senhora; muitos que sobreviveram, prosseguiram e se tornaram grandes líderes.

      “Não se sinta envergonhada.” Disse ele, agarrando-lhe o pulso. “É isso o que eu quero dizer-lhe. Nunca se envergonhe. Não deve haver nenhuma vergonha em sua pessoa, somente honra e coragem pelo que tem feito. A senhora é tão grande quanto qualquer líder que o Anel já viu. E isso em nada a diminui, de forma alguma.”

      Gwen, tocada por suas palavras, sentiu uma lágrima rolar pelo seu rosto. Suas palavras eram exatamente o que ela precisava ouvir e ela se sentia muito grata por elas. Naturalmente, ela sabia e entendia que ele estava certo.

      No entanto, ela ainda estava muito afetada emocionalmente e tinha dificuldades para sentir o que ele dizia. Uma parte dela não poderia deixar de sentir que de alguma forma, ela tinha sido afetada para sempre. Ela sabia que isso não era verdade, mas era assim como ela se sentia.

      Aberthol sorria enquanto ele segurava um livro menor.

      “Lembra-se deste aqui?” Perguntou ele, virando sua capa de couro vermelho. “Era o seu livro favorito de toda a infância. As lendas de nossos pais. Há uma história em particular aqui que eu gostaria de ler para você, para ajudá-la a passar o tempo.”

      Gwen estava comovida pelo gesto, mas ela não aguentava mais. Ela balançou a cabeça tristemente.

      “Obrigada.” Ela disse, com voz rouca, outra lágrima rolou pelo seu rosto. “Mas eu não posso ouvi-lo agora.”

      O rosto dele refletiu sua decepção e em seguida, ele assentiu, entendendo.

      “Em outra ocasião.” Disse ela, sentindo-se deprimida. “Eu preciso ficar sozinha. Eu gostaria, por favor, que me deixassem sozinha. Todos vocês.” Disse ela, virando-se e olhando para Steffen e Illepra.

      Todos eles se levantaram e fizeram uma pequena reverência, em seguida, se viraram e saíram da sala apressadamente.

      Gwen se sentiu culpada, mas ela não podia evitar isso; ela queria enroscar seu corpo como se fosse uma bola e morrer. Ela ouvia os passos de todos atravessando a sala, ouviu a porta fechar-se atrás deles e olhou ao redor para assegurar-se de que o quarto estivesse vazio.

      Mas ela se surpreendeu ao ver que

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