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ficou surpresa ao vê-la parada ali, a ex-rainha, tão imponente e orgulhosa como de costume, olhando para ela com uma expressão mais fria do que nunca. Não havia nenhuma compaixão em seus olhos, nada sequer comparável à compaixão que Gwen encontrou nos olhos de outros visitantes.

      “Por que está aqui?” Perguntou Gwen.

      “Eu vim aqui para vê-la.”

      “Mas eu não desejo vê-la.” Disse Gwen. “Eu não quero ver ninguém.”

      “Eu não me importo o que você quer.” Disse sua mãe, indiferente e confiante. “Eu sou sua mãe e eu tenho o direito de vê-la quando eu quiser.”

      Gwen sentiu a velha raiva contra sua mãe arder; ela era a última pessoa que ela queria ver naquele momento. Mas ela conhecia bem sua mãe e sabia que ela não iria embora antes de dizer tudo o que tinha em mente.

      “Então diga o que quer.” Disse Gwendolyn. “Fale e me deixe em paz de uma vez por todas.”

      Sua mãe suspirou.

      “Você não sabe disso.” Disse a mãe. “Mas quando eu era jovem e tinha sua idade, eu fui atacada da mesma forma que você.”

      Gwen olhou-a chocada; ela não tinha ideia.

      “Seu pai sabia disso…” Sua mãe continuou. “… E ele não se importou. Ele se casou comigo mesmo assim. Na época, era como se meu mundo tivesse acabado. Mas não acabou.”

      Gwen fechou os olhos, sentindo outra lágrima rolar pelo seu rosto, enquanto tentava bloquear aquele assunto. Ela não queria ouvir a história de sua mãe. Era um pouco tarde demais para que sua mãe demonstrasse ter qualquer compaixão real para com ela. Será que ela simplesmente pensava que poderia entrar ali, depois de tantos anos de tratamento cruel, oferecer uma história empática e pretender que em troca, todo o dano fosse reparado?

      “A senhora já acabou?” Perguntou Gwendolyn.

      Sua mãe deu um passo à frente. “Não, Eu não acabei.” Disse ela, com voz firme. “Você é a rainha agora, então já é hora de que você aja como uma.” Disse sua mãe, com uma voz tão dura como o aço. Gwen percebeu uma força na voz dela jamais sentida antes. “Você se lamenta. Mas as mulheres todos os dias, em todos os lugares, sofrem destinos muito piores do que você. O que aconteceu com você não é nada no esquema da vida. Você me entende? Nada.”

      Sua mãe suspirou.

      “Se você quiser sobreviver e sentir-se à vontade neste mundo, você deve ser forte. Mais forte do que os homens. Os homens terão você, de uma forma ou de outra. A vida não se trata apenas do que acontece com você – trata-se de como você percebe isso. Como você reage a isso. É sobre isso que você exerce o controle. Você pode se acovardar e morrer. Ou você pode ser forte. “Isso é o que separa as garotas das mulheres.”

      Gwen sabia que sua mãe estava tentando ajudar, mas ela se ressentia da falta de compaixão de sua abordagem. E ela odiava receber um sermão.

      “Eu odeio você.” Gwendolyn disse para a mãe. “Eu sempre odiei.”

      “Eu sei disso.” Disse sua mãe. “E eu odeio você também. Mas isso não significa que não possamos nos entender. Eu não quero o seu amor, o que eu quero é que você seja forte. Este mundo não é governado pelos fracos e assustadiços, ele é governado por aqueles que levantam a cabeça diante da adversidade, como se ela não fosse nada. Você pode entrar em colapso e morrer, se quiser. Há tempo de sobra para isso. Mas isso seria tedioso, chato. Seja forte e viva. Verdadeiramente viva. Seja um exemplo para os outros. Porque um dia, eu lhe garanto, você vai morrer de qualquer jeito. E enquanto você estiver viva, você pode muito bem viver de verdade.”

      “Deixe-me em paz!” Gwendolyn gritou incapaz de ouvir outra palavra.

      Sua mãe olhou para ela friamente, então, finalmente, depois de um silêncio interminável, ela virou-se e saiu caminhando pomposamente do quarto como um pavão, batendo a porta atrás de si.

      No silêncio vazio, Gwen começou a chorar, ela chorou por um longo tempo. Mais do que nunca, ela desejava que tudo aquilo acabasse.

      CAPÍTULO SEIS

      Kendrick estava ali no amplo patamar da borda do Canyon, observando através da névoa serpenteante. Enquanto ele olhava, seu coração estava partindo-se por dentro. Ele se sentia arrasado ao ver sua irmã daquele jeito, se sentia destroçado, como se ele próprio tivesse sido atacado. Ele podia ver nos rostos de todos os silesianos que eles consideravam Gwen como mais do que apenas um líder, todos eles a viam como parte de sua família. Eles estavam desanimados, também. Era como se Andronicus tivesse ferido a todos.

      Kendrick sentia-se culpado. Ele deveria ter calculado que sua irmã mais nova faria algo assim, já que ele sabia o quanto ela era corajosa; o quanto ela era orgulhosa. Ele deveria ter previsto que ela iria tentar entregar-se antes que qualquer um deles tivesse a chance de detê-la. Ele deveria ter encontrado uma maneira de impedi-la de fazer isso. Ele conhecia a natureza dela, sabia como ela era confiável, conhecia seu bom coração e ele, como um guerreiro também sabia, melhor do que ela, da brutalidade de certos líderes. Ele era mais velho e mais sábio do que ela e ele sentia que a havia decepcionado.

      Kendrick também se sentia culpado por tudo aquilo, aquela situação terrível era uma carga pesada demais para ser colocada na cabeça de uma única pessoa: um governante recém-coroado, uma garota de dezesseis anos de idade. Ela não devia ter suportado o peso daquela situação sozinha. Tal decisão de peso teria sido difícil até mesmo para sua própria cabeça, até mesmo para a cabeça de seu pai. Gwendolyn fez o melhor que podia ser feito naquelas circunstâncias, e, talvez melhor do que qualquer um deles teria feito. O próprio Kendrick não tinha tido a menor ideia de como lidar com Andronicus. Nenhum deles tinha.

      Kendrick pensou em Andronicus e seu rosto ficou vermelho de raiva. Ele era um líder sem moral, sem princípios, sem humanidade. Estava claro para Kendrick que se eles se rendessem naquele momento, todos iriam ter o mesmo destino: Andronicus iria matar ou escravizar todos e cada um deles.

      Algo havia mudado no ar. Kendrick podia ver nos olhos de todos os homens e podia senti-lo em si mesmo. Os silesianos já não tinham apenas a intenção de sobreviver; de simplesmente defender-se. Agora eles queriam vingança.

      “SILESIANOS!” Gritou uma voz.

      A multidão se acalmou e olhou para cima. Ali, na cidade alta, na borda do Canyon, olhando para eles, estava Andronicus, cercado por seus capangas.

      “Dou-lhes uma alternativa!” Ele trovejou. “Devolvam Gwendolyn e eu permitirei que vocês vivam! Senão, a partir do pôr-do-sol eu vou fazer chover fogo sobre vocês,  um fogo tão intenso que nenhum de vocês sobreviverá a ele.”

      Ele fez uma pausa, sorrindo.

      “É uma oferta muito generosa. Não demorem muito para ponderá-la.”

      Com isso, Andronicus virou-se e foi embora.

      Todos os silesianos se viraram e se entreolharam gradualmente.

      Srog deu um passo adiante.

      “Companheiros silesianos!” Trovejou Srog para uma enorme e crescente multidão de guerreiros, com uma seriedade que Kendrick jamais tinha visto nele. “Andronicus atacou o nosso melhor e mais estimado líder. A filha do nosso amado rei MacGil, uma grande rainha em seu pleno direito. Ele atacou todos e cada um de nós. Ele tentou colocar uma mancha em nossa honra, mas ele simplesmente manchou a sua própria!”

      “APOIADO!” Gritava a multidão, os homens se mexiam inquietos; cada um segurava os punhos de suas espadas, um fogo ardia em seus olhos.

      “Kendrick.” Srog disse, virando-se para ele. “O que propõe que façamos?”

      Kendrick lentamente olhou nos olhos de todos os homens diante de si.

      “NÓS ATACAREMOS!” Kendrick gritou, um fogo percorria suas veias.

      A multidão gritou de volta em aprovação, uma multidão

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