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virou-se e olhou ao redor da casa aconchegante, iluminada pela luz de velas e envolta no cheiro da comida. Então ele viu, além da adolescente, a mãe e o pai, de pé ao lado de uma mesa, olhando para ele com os olhos arregalados de medo e raiva.

      “Permaneçam atrás e assim eu não a matarei!” Gareth gritou desesperado, afastando-se deles e segurando a jovem firmemente.

      “Quem é você?” A jovem adolescente perguntou. “Meu nome é Sarka. O nome de minha irmã é Larka. Nós somos uma família pacífica. O que você quer com minha irmã? Deixe-a em paz!”

      “Eu sei quem você é.” O pai olhou para ele em sinal de desaprovação. “Você é o ex-rei. O filho de MacGil.”

      “Eu ainda sou Rei.” Gareth gritou. “E vocês são meus súditos. Vocês vão fazer o que eu disser!”

      O pai franziu o cenho para ele.

      “Se você é o rei, onde está seu exército?” Ele perguntou. “E se você é o rei, qual é o seu interesse ao tomar como refém uma jovem menina inocente, com um punhal real? Talvez o mesmo punhal real que usou para matar o seu próprio pai?” O homem disse com desprezo. “Eu ouvi os rumores.”

      “Você tem uma língua afiada.” Gareth disse. “Continue falando e eu mato sua filha.”

      O pai engoliu em seco, arregalando os olhos com medo, logo ele ficou em silêncio.

      “O que quer de nós?” A mãe gritou.

      “Comida.” Gareth disse. “E abrigo. Alertem os soldados de minha presença e eu prometo que matarei a menina. Nada de truques, vocês entendem? Vocês me deixam ficar e ela viverá. Eu quero passar a noite aqui. Você, Sarka, traga-me aquele prato de carne. E você, mulher, atice o fogo e traga-me um manto para cobrir meus ombros. Movam-se devagar!” Alertou ele.

      Gareth viu quando o pai acenou com a cabeça para a mãe. Sarka colocou a carne de volta no seu prato, enquanto a mãe se aproximou com um manto grosso e o colocou sobre os ombros dele. Gareth, ainda tremendo, retrocedeu lentamente em direção à lareira, logo o calor do fogo aqueceu suas costas quando ele se sentou no chão ao lado dela, agarrando Larka com força. A menina ainda estava chorando. Sarka aproximou-se com o prato.

      “Sente-se no chão ao meu lado!” Gareth ordenou. “Lentamente!”

      Sarka fez o que ele pediu com uma expressão carrancuda, ela olhou para sua irmã com preocupação e colocou bruscamente o prato no chão ao lado dele.

      Gareth foi dominado pelo cheiro. Ele se abaixou e pegou um pedaço de carne com a mão livre, enquanto segurava o punhal contra a garganta de Larka com a outra mão; ele mastigava e mastigava, fechando os olhos, saboreando cada mordida. Ele mastigava mais rápido do que podia engolir, os pedaços de comida pendiam de sua boca.

      “Vinho!” Ele exclamou.

      A mãe trouxe-lhe um odre de vinho e Gareth o espremeu  em sua boca cheia, sorvendo-o. Ele respirou fundo, mastigando e bebendo, ele estava começando a sentir-se normal de novo.

      “Agora solte a menina!” O pai disse.

      “De jeito nenhum.” Gareth respondeu. “Eu vou dormir a noite aqui, assim, com ela em meus braços. Ela vai estar segura se eu também estiver. Você quer ser um herói? Ou você quer que sua filha viva?”

      Todos os membros da família se entreolharam hesitantes, sem palavras.

      “Posso lhe fazer uma pergunta?” Sarka perguntou para ele. “Se você é um rei tão bom, por que você trata seus súditos dessa maneira?”

      Gareth olhou de volta para ela, perplexo, então finalmente ele se inclinou para trás e caiu na gargalhada.

      “Quem disse que eu era um bom rei?”

      CAPÍTULO CINCO

      Gwendolyn abriu os olhos, sentindo o mundo se mover ao seu redor, ela se esforçou para descobrir onde estava. Ela viu-se passando pelos enormes portões de pedra vermelha e arqueados de Silésia, ela viu milhares de soldados do Império que a olhavam com admiração. Ela viu Steffen, caminhando ao lado dela e ela viu como o céu se movia para cima e para baixo. Ela percebeu que estava sendo carregada. Ela percebeu que estava nos braços de alguém.

      Ela esticou o pescoço e viu os brilhantes e intensos olhos de Argon. Ela percebeu que estava sendo levada por Argon, Steffen seguia ao seu lado, os três ingressavam livremente pelos portões de Silésia, passavam por milhares de soldados do Império, os quais abriam caminho para eles e os observavam. Eles estavam rodeados por um brilho branco e Gwendolyn podia sentir-se imersa em uma espécie de escudo de energia protetora nos braços de Argon. Ela percebeu que ele estava lançando algum tipo de feitiço para manter todos os soldados sob controle.

      Gwen se sentiu confortada, protegida nos braços de Argon. Cada músculo em seu corpo doía, ela estava exausta e não sabia se poderia andar caso tentasse. Seus olhos tremulavam enquanto andavam e ela via o mundo passar por ela em pequenos fragmentos. Ela viu um pedaço de um muro em ruínas; um parapeito desmoronado; uma casa incendiada; uma pilha de escombros; ela via tudo isso enquanto eles atravessavam o pátio e chegavam aos portões mais distantes na borda do Canyon; ela viu-se passando por aqueles portões também e viu os soldados se afastando.

      Eles chegaram à beira do Canyon, até a plataforma coberta de puas de metal. Argon aguardou ali e logo a plataforma foi baixada, levando-os de volta para as profundezas da baixa Silésia.

      Ao entrarem na cidade baixa, Gwendolyn viu dezenas de rostos, os rostos preocupados e amáveis dos cidadãos de Silésia. Eles assistiam a sua passagem como se fosse um espetáculo. Todos olhavam para ela com olhares de admiração e preocupação, enquanto ela continuava descendo até a praça principal da cidade.

      Quando chegaram ali, centenas de pessoas se aglomeraram ao redor deles. Ela olhou ao redor e viu os rostos familiares de Kendrick, Srog, Godfrey, Brom, Kolk, Atme e de dezenas de homens do Exército Prata e da Legião a quem ela reconheceu. Eles se reuniram em torno dela, via-se a angústia em seus rostos no sol da manhã, a névoa serpenteava pelo Canyon e uma brisa fria a espetou. Ela fechou os olhos, tentando fazer com que tudo desaparecesse. Ela  se sentia como um objeto em exibição, sentia que havia sido esmagada até o mais íntimo de seu ser. Ela sentia-se humilhada. Ela sentia que havia decepcionado todos eles.

      Eles continuaram passando por todo o povo, pelas ruelas estreitas da cidade baixa, atravessaram outra entrada em arco e, finalmente, chegaram ao palacete da baixa Silésia. Gwen perdeu e recobrou a consciência várias vezes, enquanto entravam em um magnífico castelo vermelho, subiam até um conjunto de escadas, percorriam um longo corredor e atravessaram outra entrada alta e arqueada. Finalmente, uma pequena porta se abriu e eles entraram num quarto.

      O quarto estava escuro. Parecia ser um quarto grande, com uma antiga cama de dossel em seu centro. O fogo crepitava em uma antiga lareira de mármore, não muito longe da cama. Vários servos se encontravam na sala e Gwendolyn sentiu quando Argon a levou para a cama, colocando-a suavemente sobre ela. Quando ele fez isso, várias pessoas a rodearam e a olharam com preocupação.

      Argon retirou-se, ele deu alguns passos para trás e desapareceu no meio da multidão. Ela o procurou, piscando várias vezes, mas não conseguia mais encontrá-lo. Ele se havia ido. Ela sentiu a ausência de sua energia protetora, a qual havia estado envolvendo-a como um escudo. Ela sentia mais frio, sentia-se menos protegida, sem ele por perto.

      Gwen lambeu os lábios rachados e um momento depois sentiu que sua cabeça estava sendo apoiada sobre um travesseiro, logo uma jarra com água foi levada aos seus lábios. Ela bebeu e bebeu, percebendo o quanto estava com sede. Ela olhou para cima e viu uma mulher cujo rosto era familiar.

      Illepra, a curandeira real. Illepra tinha a vista baixa, seus olhos castanhos e suaves estavam cheios de preocupação enquanto ela dava água a Gwendolyn, passava um pano quente sobre sua testa e afastava o cabelo seu rosto. Ela pousou a mão sobre sua testa e Gwen sentiu uma energia curativa fluir através dela. Ela sentiu seus olhos ficarem pesados, logo ela sentiu que eles se fechavam contra

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