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champanhe e sentia-se atrevida. Talvez aquilo fosse um sonho, mas ia desfrutar até ao fim.

      – E tu? – perguntou. – As famílias gregas costumam ser numerosas, não é?

      Anatole sorriu sem vontade.

      – A minha, não – declarou. – Eu também sou filho único. – Olhou para a taça de champanhe. – Os meus pais divorciaram-se e estão casados com outras pessoas agora. Não os vejo muito.

      Porque não queria. Nem eles. A única reunião fixa da família Kyrgiakis era a reunião anual de acionistas. Era quando se encontravam: Ele, os pais, o tio e algum primo afastado.

      – Ena, é uma pena – murmurou ela, com simpatia.

      Sentiu um calafrio desagradável. Não gostava de pensar que os homens de fantasia como aquele podiam ter famílias disfuncionais como as pessoas normais. Vivendo em lugares tão magníficos como aquele e bebendo champanhe, não poderiam ter os mesmos problemas do que as pessoas normais.

      – Não é para tanto. – Anatole voltou a sorrir. – Estou habituado.

      Interrogou-se distraidamente porque estavam a falar da sua família. Nunca falava do assunto com as mulheres. Consultou o relógio. Deviam entrar. O jantar chegaria em breve e Anatole não queria pensar na sua família nem em nada que o incomodasse. Até Vasilis, por muito amável que fosse, vivia no seu próprio mundo, feliz com os seus livros e as suas atividades filantrópicas no mundo das artes.

      Deixou a convidada entrar primeiro. Começava a escurecer e acendeu as luzes do terraço, iluminando as plantas verdes com uma luz ténue.

      – Que bonito! – exclamou Tia. – Parece uma paisagem de contos de fadas.

      Sentiu-se imediatamente muito infantil por ter dito aquilo, embora fosse verdade, mas Anatole riu-se. O telefone fixo tocou para anunciar que o jantar estava a caminho e, cinco minutos mais tarde, estavam ambos sentados a comer o primeiro prato, uma terrina delicada de peixe branco.

      – Isto está delicioso – garantiu ela, com o rosto iluminado, enquanto comia.

      Disse o mesmo sobre o frango banhado em molho com batatas douradas e feijões verdes. Uma receita simples, mas maravilhosamente bem cozinhada.

      – Come – encorajou-a Anatole, com um sorriso indulgente, enquanto lhe servia mais champanhe.

      Recordou-se que devia ter cuidado e não lhe dar mais do que devia.

      E ele também não devia abusar. Ainda tinha de chegar ao hotel para passar a noite. Mas esse momento ainda não chegara e continuaria a desfrutar de cada instante da sua noite em comum.

      Uma sensação de bem-estar apoderou-se dele. Manteve deliberadamente o tom da conversa informal, sendo quase sempre a falar, para tentar que Tia se sentisse o mais relaxada e confortável possível.

      – Se alguma vez fosses à Grécia de férias, o que gostarias de fazer? Torrar na praia ao sol? Ou preferes fazer turismo? Podem fazer-se as duas coisas, tanto em terra firme como nas ilhas. E, se gostas de história antiga, não há melhor lugar no mundo do que a Grécia, na minha opinião.

      – Não sei nada sobre história antiga – confessou ela, corando ligeiramente.

      Sentiu-se incomodada quando lhe recordou a sua falta de cultura. Não queria que a realidade se misturasse com aquele conto de fadas maravilhoso que estava a viver.

      – Certamente, ouviste falar do Pártenon – declarou ele. – É o templo mais famoso do mundo e é na Acrópole de Atenas.

      – Sim, vi fotografias – disse Tia, contente por reconhecer aquilo.

      Anatole sorriu e começou a dar-lhe informação sobre aquele lugar e outros sítios de interesse turístico da sua terra natal.

      Quando estavam a comer a sobremesa, Anatole abriu uma garrafa de vinho doce. Pareceu-lhe que seria mais agradável do que um copo de Porto. E Tia desfrutou.

      Anatole levantou-se quando acabou a sobremesa. Deixara o café a fazer quando fora buscar o vinho doce e, naquele momento, foi buscá-lo e deixou-o na mesinha situada ao lado do sofá.

      – Vem sentar-te – convidou, estendendo a mão.

      Tia levantou-se e, de repente, apercebeu-se de que estava um pouco enjoada. Quanto champanhe bebera, interrogou-se. Sentia-se como se lhe corresse pelas veias, como se estivesse a flutuar numa brisa de felicidade. Mas não se importava. Nunca mais voltaria a viver uma noite assim, como saída de um conto de fadas.

      Suspirou, satisfeita, e deixou-se cair no sofá com o copo de vinho na mão.

      Anatole sentou-se ao seu lado.

      – É hora de relaxar – disse, num tom cordial, ligando a televisão com um comando à distância.

      Pôs os pés em cima da mesa e deixou a gravata nas costas do sofá. Queria estar completamente confortável. A mistura do champanhe e do vinho doce percorria-lhe suavemente as veias. Esperava que tivesse o mesmo efeito em Tia e lhe permitisse desfrutar do resto da noite com ele, antes de ir para o hotel.

      Questionou-se, com indolência, se deveria ligar para lhes dizer que ia, mas decidiu não o fazer. O que fez foi ir mudando de canal até encontrar um que levou a convidada a exclamar:

      – Oh, adoro este filme!

      Era uma comédia romântica aceitável e Anatole não se importou de o ver. Contente por ver como Tia se sentava por cima dos pés descalços no sofá e se recostava contra as almofadas.

      Enquanto voltava a encher-lhe o copo, Anatole questionou-se em que momento se aproximara dela. Em que momento esticara e fletira as pernas e também os braços de modo a que, agora, um deles descansasse nas costas do sofá e lhe tocasse no ombro com os dedos?

      Em que momento começara a brincar distraidamente com os seus caracóis suaves ao redor da nuca?

      Em que momento decidira que não tinha vontade de ir a lado nenhum naquela noite?

      A precaução e os sinais de alarme da sua mente caíram em ouvidos moucos.

      O filme chegou ao seu fim sentimental com o protagonista a pegar na rapariga ao colo e a beijá-la enquanto se ouvia a música e apareciam os créditos. Tia deixou escapar um suspiro profundo de satisfação, deixou o copo já vazio na mesa e virou-se para olhar para Anatole.

      Sentia-se embargada por uma emoção que se misturava com o champanhe, o vinho doce delicioso e a comida maravilhosa, a melhor que alguma vez comera. E tudo enfeitado com velas, música suave e um príncipe encantado a fazer-lhe companhia.

      O filme era um dos seus favoritos. Vira-o muitas vezes, mas vê-lo naquele momento ali, com aquele homem tão bonito ao seu lado, era tão real… não era uma fantasia nem um conto de fadas, era real. Nunca estivera tão perto de um homem antes e muito menos de um homem assim, um homem capaz de tornar os contos de fadas realidade.

      E Tia sabia como os contos de fadas acabavam: Com o herói a beijar a protagonista.

      Sentiu-se invadida pela emoção e a esperança. Os olhos brilhavam como estrelas quando levantou o olhar para o rosto bonito daquele homem que representava tudo o que desejara na vida. O homem que, agora, a observava com os seus olhos pretos e brilhantes e aquela boca tão sensual…

      Tia sentiu falta de ar.

      Anatole observou a beleza do seu rosto, como os montículos doces dos seios se apertavam contra a t-shirt de algodão, como entreabria os lábios… e soube exatamente o que queria.

      Ficou quieto durante um bom bocado enquanto um milhão de pensamentos contraditórios batalhava na sua mente para decidir o que devia fazer a seguir. O que tinha de fazer contra o que queria fazer.

      Mas conteve-se, porque sabia que não devia fazer o que tanto desejava. Deveria afastar-se de Tia, levantar-se e aumentar a distância entre eles. Porque, se não o fizesse naquele momento…

      Ela levantou a mão quase

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