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do rosto impassível do recém-chegado, ao de Anton, igualmente ininterpretável. Até os seus olhos pareciam velados.

      Aqueles olhos inspecionaram-na de cima a baixo e Zoe pensou ver um nervo a tremer na comissura dos seus lábios, que esboçaram um breve sorriso.

      – Este é Kostas Demitris, o meu chefe de segurança – disse Anton.

      Voltando o olhar para o outro homem, Zoe inclinou a cabeça a modo de saudação e ele imitou-a.

      – Kostas vai assegurar-se de que a tua casa fica segura depois de nos irmos embora – continuou Anton, reclamando a sua atenção. – Se houver alguma coisa que precises e que não possamos levar connosco, diz-lhe e ele pode enviar-ta. E será melhor levares qualquer documento de caráter pessoal.

      Zoe queria pedir uma explicação, mas ele adiantou-se.

      – Por muitas medidas que tomemos, não podemos ter a certeza de que os jornalistas não tentem entrar à procura de um exclusivo.

      Zoe tentou protestar, espantada com a ideia de alguém procurar entre as suas coisas, mas Anton voltou a adiantar-se:

      – Só por precaução. Kostas é muito meticuloso.

      Ele assentiu com a cabeça e disse:

      – Anton está habituado a este tipo de medidas. É o inconveniente de ser uma figura pública.

      Os dois homens olharam para ela à espera do seu consentimento e Zoe voltou a questionar-se se fazia bem em ceder o controlo, mas recordou Lucy e, à beira das lágrimas, assentiu. Depois, foi buscar Toby e alegrou-se por, ao baixar-se para pegar nele ao colo, o cabelo lhe esconder o rosto.

      Anton inalou o cheiro fresco a maçãs do cabelo brilhante de Zoe e foi-lhe quase impossível manter a sua libido sob controlo, um exercício em que tivera de se concentrar desde que ela entrara na cozinha.

      A criatura pálida e abatida de há meia hora não tinha nenhuma semelhança com a beleza espetacular que tinha à sua frente. A blusa de lã feia, as calças de ganga gastas e o cabelo mortiço tinham sido substituídos por um vestido cinzento que deslizava sobre o seu corpo e acabava a meio das suas coxas torneadas e esbeltas. O resto das suas pernas estava coberto por umas meias finas e os seus tornozelos delicados elevavam-se sobre uns sapatos pretos.

      – Espero que saiba o que faz – resmungou Kostas a Anton em grego que, com a sua capacidade aguda de observação, percebera o efeito que Zoe tinha sobre ele.

      – Concentra-te no teu trabalho – replicou Anton.

      – É uma…

      – Penso que chegou o momento de dizer que sou bilingue – disse Zoe, num grego fluido, fixando neles os seus olhos azuis como dois dardos. – E espero que saibas o que fazes, Anton, porque se achas que estás a conseguir fazer com que me renda, estás muito enganado.

      Zoe viu o rosto de Kostas a toldar-se, enquanto Anton, sem se alterar, se apoiou em atitude relaxada contra o lava-loiça e pôs as mãos nos bolsos. O movimento ajustou o fato ao seu peito musculado, que estava coberto por uma camisa branca imaculada e reluzente de cuja gola pendia uma fina gravata de seda. Uma pontada sensual atravessou a barriga de Zoe à medida que deslizou o seu olhar pelas suas ancas estreitas e pelas suas longas pernas, que acabavam nuns sapatos de couro feitos à mão.

      – Então, não odeia todos os gregos? – perguntou ele, divertido, fazendo com que Zoe levantasse o olhar para os seus olhos pretos.

      Desviou o olhar com a respiração ligeiramente alterada.

      – Isso significaria odiar o meu pai.

      – E a ti própria, visto que tens sangue grego – disse ele. E sem mudar de tom, acrescentou: – Kostas, começa a trabalhar.

      Ele começou a mexer-se e, como se temesse ficar a sós com um animal selvagem, Zoe apressou-se a perguntar:

      – Posso indicar-lhe o que terá de levar? Está tudo no andar de cima, juntamente com a pasta com documentos pessoais.

      E saiu atrás de Kostas, deixando Anton, sozinho, com um sorriso a dançar-lhe nos lábios.

      Todo o rasto de humor abandonara-o quando se encontraram novamente no vestíbulo meia hora mais tarde.

      Kostas estava à frente da porta enquanto ele se encostava à parede e observava Zoe, que tentava abotoar um casaco preto com dedos trémulos. Toby, alheio à tensão que o rodeava, dormia na sua cadeirinha.

      Anton sentia um formigueiro constante nos dedos e o desejo de tocarem Zoe para a tranquilizar. Era evidente que agia contra a sua vontade, que na meia hora que passara a assaltara a dúvida e que a única razão por que não mudava de opinião era a perspetiva de um refúgio seguro.

      Kostas falou brevemente ao telefone e fez um sinal a Anton. Ele assentiu com a cabeça sem deixar de pensar que estava a mentir, mas desculpando-se na convicção de que fazia o melhor para Zoe e para o bebé.

      – O meu carro está estacionado à frente da porta – disse, num tom tranquilo. – Os meus empregados abrirão um corredor para que o alcancemos. Suponho que os jornalistas te assustam, mas o truque é manter o olhar fixo na porta do carro e dirigires-te para ela.

      Zoe cerrou os dentes e assentiu para lhe dar a entender que compreendia.

      – Tenta recordar que se irão embora assim que nós formos e que os teus vizinhos recuperarão a calma.

      Depois de olhar para Toby, que dormitava na sua cadeirinha, Zoe voltou a assentir.

      – Posso ocupar-me do teu irmão? – perguntou Anton.

      Ela olhou para ele e Anton viu que os seus olhos ardiam de ansiedade e de medo. Sem conseguir conter-se, pousou um dedo sob o seu queixo e levantou-lhe o rosto.

      – Confia em mim – disse.

      – Muito bem – disse ela, trémula.

      A expressão de Anton endureceu ao mesmo tempo que se baixava para pegar na cadeirinha de Toby. Ao levantar-se, olhou para Kostas que, depois dar algumas instruções por telefone, abriu a porta.

      Zoe sentiu o coração a acelerar, mesmo antes de sair. Kostas bloqueou a luz que se projetava sobre o alpendre. Anton passou-lhe um braço pelos ombros, puxou-a para si e saíram juntos com passo decidido e a cabeça encurvada. Zoe agiu como lhe tinha instruído e concentrou-se no homem que abria a porta da limusina.

      Viu flashes, ouviram-se gritos e sentiu uma multidão a formar redemoinhos.

      – O que sente por ser a neta de Theo Kanellis?

      – Anton, quando descobriu que não herdaria a sua fortuna?

      – É verdade que Theo Kanellis quer o bebé?

      Anton protegeu o corpo de Zoe até a deixar sentada, depois tratou da cadeira de Toby e sentou-se. O homem fechou a porta. Zoe abriu os olhos, angustiada e assustou-se quando as pessoas começaram a bater nos vidros, voltando-se para um lado e para o outro para evitar que os flashes a cegassem.

      O carro começou a andar, ao olhar para a frente, Zoe viu que o conduzia um motorista que estava separado deles por um vidro.

      – Meu Deus! – exclamou, quando ouviu o som das sirenes à frente e atrás. – Temos escolta policial?

      – Era a única maneira de sair – explicou Anton.

      Zoe agarrou a cadeirinha de Toby e olhou para Anton com os olhos esbugalhados.

      – És assim tão importante?

      – Somos – corrigiu ele.

      Zoe compreendeu pela primeira vez a volta que dera a sua vida. Virando-se, olhou para trás.

      – A imprensa vai seguir-nos.

      – Não poderão fazê-lo quando estivermos no ar.

      – No ar? – perguntou ela, perturbada.

      –

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