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discreta e perfeita.

      – Sim, fui apanhada pela tempestade, mas estava preparada – declarou Cecelia.

      E mais lhe valia, pensou Cecelia, porque o impacto que aquele homem exercia nela era algo muito estranho.

      Luka Kargas usava um fato escuro, gravata e uma camisa branca que contrastava com a pele morena. E, naquela manhã, não se barbeara.

      A atmosfera mudou entre eles. Era como se a tempestade elétrica tivesse entrado pela janela e se juntasse a eles.

      A tia aconselhara-a a afastar-se de homens como Luka Kargas e, embora tivesse a certeza de que conseguia lidar bem com ele e de que nunca se sentiria atraída por um homem assim, o impacto da sua presença apanhara-a desprevenida.

      – A Hannah deve ter-lhe explicado que este trabalho requer muitas horas por dia.

      – Sim, é verdade.

      – Às vezes, até dezasseis horas.

      – Sim. – Cecelia assentiu.

      – E terá de viajar muito – disse Luka. – Ainda que, por muito trabalho que haja, terá sempre os fins de semana de folga.

      Cecelia esboçou um sorriso tenso e irónico.

      – Falo completamente a sério – reiterou Luka. – A partir de sexta-feira à noite, o fim de semana é seu.

      – Contudo, não sairei daqui às cinco da tarde, pois não?

      – Não. Regra geral, sairá às dez.

      O que significava que não era o fim de semana todo, pensou Cecelia, enquanto Luka passeava os seus olhos pretos pelos papéis dela.

      – Porque deixou o Justin?

      – Porque não queria viver no Dubai.

      – Eu vou lá com frequência – declarou Luka. – O que significa que também teria de ir.

      – Não vejo inconveniente. Simplesmente, não quero viver lá – respondeu Cecelia. E sabia, tinha a certeza, que Luka Kargas se referia ao facto de ela ter namorado e de a opinião dele ter condicionado a decisão.

      E tinha razão.

      Gordon recusara-se a deixar que ela vivesse no Dubai.

      – Fala grego? – perguntou Luka.

      – Não – replicou ela. De repente, esperou que falar grego fosse um requisito primitivo para aceder àquele emprego e, assim, pôr um ponto final àquela tortura.

      Era uma tortura porque sentia um nó na barriga e, de repente, conseguia sentir o peso dos seus seios. Nunca a tinham feito reagir de forma tão violenta.

      Luka Kargas parecia muito aborrecido.

      – Fala alguma outra língua? – perguntou ele.

      – Um pouco de francês. – Na verdade, falava-o muito bem. Passara um ano em França, a trabalhar.

      Os olhos pretos daquele homem hipnotizavam-na e a sua indiferença brusca fê-la descruzar e voltar a cruzar as pernas.

      Até àquele momento, o sexo fora uma experiência agradável para ela, ainda que, às vezes, também fosse um fardo. No entanto, agora, estava à frente de um homem que a fazia pensar em sexo.

      – Menina Andrews…

      – Cecelia – corrigiu ela, porque não queria dar a impressão de ser uma solteirona rígida.

      Não era.

      Estava noiva e ia casar-se e, nesse momento, não queria esquecê-lo.

      – Está bem, Cecelia. – Ele assentiu. – Vejo que não tem experiência na indústria do turismo e da hotelaria.

      – Não, não tenho – confirmou Cecelia.

      – E reparei que usa um anel de noivado.

      – Desculpe? – Cecelia franziu o sobrolho. – Não vejo como isso pode ter importância.

      Luka viu que o contacto que Cecelia Andrews dera em caso de urgência era o da tia, não o do noivo.

      E isso intrigou-o.

      – Está noiva?

      – Sim – confirmou ela, irritada. – Embora não ache que seja assunto seu.

      – Cecelia, se quer trabalhar para mim, será melhor saber desde o começo que não sou uma pessoa politicamente correta. Vou deixar isto muito claro: Não quero uma assistente pessoal prestes a organizar o seu grande casamento e também não quero uma pessoa que tenha de sair às seis do trabalho com o fim de evitar que o namorado se zangue com ela.

      Cecelia cerrou os dentes porque, às vezes, Gordon comportava-se assim.

      – Senhor Kargas, a minha vida pessoal não lhe diz respeito e nunca dirá.

      Porque não ia trabalhar ali!

      – Aproxime-se – pediu ele.

      Luka levantou-se e aproximou-se das janelas que ocupavam uma parede desde o chão até ao teto.

      Nunca tivera uma entrevista assim, pensou Cecelia, enquanto se levantava e se aproximava dele.

      Era muito alto!

      E cheirava como se tivesse tomado um banho de bergamota com testosterona.

      – Olhe para a vista – pediu Luka.

      – Impressionante. – Cecelia assentiu enquanto observava a vista de uma Londres húmida. O céu cinzento começava a limpar-se e uns tons prateados brilhavam nos contornos de umas nuvens pretas, mas não pôde ver um arco-íris.

      – O trabalho é seu – declarou Luka e ela franziu o sobrolho. – Quando acabar de trabalhar na sexta-feira, até segunda-feira, o mundo é seu. – Luka observou-a. – Mas quando estiver aqui…

      Luka Kargas esperava entrega absoluta. Cecelia entendeu muito bem.

      – Quando pode começar? – perguntou Luka.

      Antes de rejeitar a oferta, Cecelia respirou fundo e considerou as vantagens desse emprego: Um salário quase o dobro do atual, viagens constantes e o apelido Kargas no seu currículo.

      Depois, pensou nas desvantagens.

      Sessenta horas de trabalho por semana ao lado daquele homem deslumbrante.

      A atração que sentia por ele era inesperada e perturbadora.

      Não sabia o que fazer.

      – Preciso de tempo para pensar – respondeu Cecelia.

      – Lamento muito, eu preciso de uma pessoa que confie no seu instinto e possa tomar decisões no momento.

      Luka queria que aquela mulher trabalhasse para ele.

      Impressionara-o, apesar de ter esperado o contrário. No entanto, algo lhe dizia que, se Cecelia Andrews saísse por aquela porta, não voltaria.

      – Vou perguntar outra vez. Quando pode começar?

      «Nunca!», gritou o seu instinto.

      – Agora – afirmou Cecelia, surpreendida com a sua decisão. – Posso começar agora.

      – Bem-vinda a bordo.

      E, enquanto Luka lhe apertava a mão, Cecelia pensou que conseguia lidar com a situação.

      Capítulo 1

      «Luka, depois de considerar seriamente, decidi…».

      Cecelia acordou um instante antes de o despertador tocar e, enquanto ouvia os barulhos da rua do seu apartamento de Londres, pensou em como podia demitir-se do seu emprego.

      E quando?

      Quando ia dizer-lhe que não queria renovar o seu contrato

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