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as lágrimas.

      —Se há algo que detesto é ver uma mulher chorando, simplesmente porque espera, por meio das lágrimas, conseguir o que deseja— lorde Compton dissera certa vez—, mas não ignoro, minha querida, que o belo sexo frequentemente vê as lágrimas como uma arma.

      —As mulheres se valem dessa arma para deixar os homens se sentirem fortes, másculos e, naturalmente, muito superiores a elas— fora a resposta zombeteira de Janet.

      —É aí que se engana— o pai a contradisse.

      Janet lembrou-se de que uma discussão acalorada recomeçara. Os argumentos apresentados por lorde Compton deixaram a filha maravilhada, e ambos terminaram o assunto rindo prazerosamente.

      Mas agora não havia com quem rir; tudo se tornara calmo e silencioso.

      Era quase hora do almoço, e Janet caminhou vagarosamente para a sacada onde costumava sentar-se com o pai. O sol incidia em seus cabelos tornando-os cor de ouro. Não era um ouro de tom suave como o sol da Inglaterra, mas de um tom queimado, o mesmo usado por Botticelli ao pintar os cabelos de Simonetta. A partir de então essa tonalidade passou a ser buscada desesperadamente pelos fabricantes e misturadores de tintas.

      Os cabelos de Janet, ao sol, pareciam arder em chamas e conferiam-lhe à pele alvor e brilho invejáveis.

      Os olhos, que lhe dominavam o rosto delicado, tinham o mesmo azul profundo do Mediterrâneo em dia tempestuoso.

      —Não consigo entender de quem você herdou esses olhos, minha querida— o pai já lhe havia dito mais de uma vez—, os olhos de sua mãe eram azuis como o céu e quando os fitei pela primeira vez achei que nada no mundo poderia ser mais belo.

      —Seus olhos são cinzentos, papai, porém se tornam quase pretos quando se zanga!— Janet respondera.

      —Suponho que tenha razão— concordara lorde Compton, depois de ter achado graça da observação da filha—, mas o que quero dizer é que seus olhos têm uma cor tão diferente e rara, minha filha, que me sinto impossibilitado de descrever-lhes a beleza, só mesmo um poeta, e não eu, seria capaz de fazê-lo.

      Depois desse elogio, assim que teve oportunidade Janet examinara seus olhos detidamente e compreendera o que o pai quisera dizer.

      Ao espelho, vira um par de grandes olhos azuis, muito escuros, e às vezes com um toque de verde. Porém, o humor mudava- lhes a coloração para matizes de violeta e eles adquiriam uma nuança difícil de ser descrita.

      Naquele instante Janet chegava à sacada, onde um cavalheiro a esperava. Ao vê-la aproximar-se, ele não pôde deixar de dizer a si mesmo que outra jovem dificilmente reuniria tanta beleza. Parecia, na verdade, uma figura descida do Monte Olimpo, desejosa de viver entre os humanos.

      —Dr. Pirelli!— a jovem exclamou assim que subiu os degraus de acesso à sacada—, que enorme prazer vê-lo aqui!

      O médico estendeu a mão e perguntou num inglês correto porém com sotaque italiano:

      —Como vai, minha cara?

      —Estou bem, embora sentindo enormemente a falta de papai, como pode imaginar.

      —Compreendo como se sente. Também sinto falta de lorde Compton. Eu sempre esperava, ansioso, uma oportunidade de vir até a villa para ver seu pai, e você, naturalmente.

      Janet sorriu.

      —Sempre achei que você e papai tinham tanto para dizer um ao outro que nem se lembravam de minha existência.

      —Ora, isto não é verdade!— exclamou o Dr. Pirelli, rindo— obviamente está se fazendo de modesta para receber elogios!

      Um criado, já familiarizado com as visitas do médico, trouxe uma garrafa de vinho da preferência do visitante e serviu-lhe um copo.

      Aceitando a bebida, o Dr. Pirelli sentou-se em uma das confortáveis poltronas. Assim que o criado retirou-se, ele expôs a Janet a razão de sua visita:

      —Tenho uma sugestão a lhe fazer e creio que ficará surpresa ao ouvi-la.

      —Uma sugestão?

      —Tem sido muito grande minha preocupação por você, Janet, e sei que tem consciência de que não pode ficar sozinha nesta villa.

      —Sim, já pensei muito nisso e talvez a solução seja arranjar uma dama de companhia. Confesso, porém, que não me atrai a ideia de empregar uma senhora de idade; creio que seria um tanto deprimente.

      —É o que supus que fosse me dizer. Minha sugestão é que deve voltar para a Inglaterra.

      Janet manteve-se calada, apenas suspirou, e o médico prosseguiu:

      —Pensei num modo de tornar sua viagem de volta à pátria menos monótona e cansativa.

      Notando o olhar indagativo que a jovem lhe dirigiu, o Dr. Pirelli foi direto ao assunto:

      —Creio que já ouviu falar sobre a Condessa di Agnolo.

      —Sim, naturalmente. Ela mora numa villa belíssima, nas proximidades de Pompeia. Confesso que sempre tive muita vontade de conhecer aquela magnífica propriedade.

      —A Condessa sempre pergunta por você, e eu nunca a levei até ela porque já faz um ano que a nobre senhora está sofrendo de turbeculose.

      —Papai ficou sabendo do estado de saúde da Condessa e a notícia deixou-o bastante aborrecido.

      —Sem dúvida é uma tragédia. A Condessa di Agnolo é ainda tão jovem e uma mulher lindíssima.

      —Mas não há esperança de cura?

      —Desejaria tanto que houvesse! Mas seus dois pulmões estão infectados. Na verdade ela está morrendo.

      —Oh, sinto muito!

      Fez-se um instante de silêncio e, quando Janet pensava no que poderia aquilo tudo ter a ver com ela, o Dr. Pirelli retomou a narrativa:

      —A Condessa tem uma filha de oito anos, uma criança adorável, muito meiga, de gênio dócil, à qual, naturalmente, a mãe é muito devotada.

      Jamais pensei que ela tivesse uma filha. Agora essa criança ficará só com o pai, não?

      —É exatamente sobre isso que eu vim conversar com você. É desejo da Condessa que lady Katherine, ou Kathy, como a filha sempre foi chamada, passe a viver com o pai, na Inglaterra.

      —Está dizendo que a Condessa é inglesa e que Kathy não é filha do Conde di Agnolo?— Janet perguntou, surpresa.

      —Imaginei que lorde Compton já lhe tivesse falado sobre a Condessa.

      —Embora algumas vezes papai fizesse referência à villa, não me recordo de ele ter falado sobre a esposa do Conde particularmente.

      —Creio que lorde Compton imaginasse que seria um erro deixar você interessada na Condessa— o Dr. Pirelli murmurou, quase como se falasse consigo próprio.

      —Por que seria um erro fazer isso?

      Seguiu-se um instante de silêncio constrangedor e, depois de algum tempo, tendo procurado as palavras certas, o médico disse finalmente:

      —O verdadeiro marido da Condessa, é o Conde de Halesworth!

      Janet olhou perplexa para o médico.

      —Quer dizer que— ela falou vagarosamente—, ela não é casada com o Conde di Agnolo?

      —Infelizmente, não— o Dr. Pirelli respondeu—, quando a trouxe para viver com ele em sua villa, deu-lhe seu próprio nome a fim de evitar um escândalo entre os vizinhos. Dessa forma ninguém sabe quem é a Condessa na verdade e todos ignoram que o Conde tem uma família que mora em Veneza!

      —Mas…

      durante todo esse tempo você e papai... sabiam de tudo!— Janet exclamou acusadoramente.

      —É

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