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percebeu que o alpendre da casinha não estava vazio como pensara, que uma das sombras era um homem e que estava a olhar fixamente para ela. O coração acelerou e pareceu-lhe que podia deitá-la ao chão ali mesmo, onde o bosque lutava para vencer a clareira.

      No entanto, não estava disposta a ceder, fosse quem fosse o homem.

      – Dominik James?

      Perguntou-o com decisão e clareza, como se não estivesse alterada… porque não devia estar. Embora estivesse completamente quieta, sentia que as pernas não estavam tão convencidas como ela de que tinham de a segurar, sobretudo, quando o coração continuava a acelerar.

      O homem saiu da sombra do alpendre para a luz que iluminava a clareira, mas só conseguiu fazer com que o seu coração enlouquecesse ainda mais.

      Era alto, muito alto, e com esse tipo de ombros muito largos que faziam com que as suas mãos quisessem… fazer coisas que se recusava a imaginar. Tinha o cabelo escuro e denso, descuidado e demasiado comprido para o seu gosto, mas realçava-lhe o queixo firme e proeminente. Os lábios estavam fechados, embora fossem suficientemente carnudos para que algo a embargasse por dentro. Usava uma camisa de manga comprida que se colava ao peito formidável, umas calças escuras que lhe realçavam as coxas poderosas e umas botas que devia ter escolhido mais por serem práticas do que por serem bonitas.

      No entanto, foram os seus olhos que fizeram disparar os alarmes. Eram cinzentos como uma tempestade, como os de Matteo. O cinzento dos San Giacomo, como tinham sido os de Alexandrina. Não precisava de se identificar para que ela soubesse com toda a certeza que estava a olhar para o herdeiro perdido dos San Giacomo… e não pôde entender porque sentiu um arrepio como se fosse um pressentimento. Desejou aproximar-se lentamente.

      – O meu nome é Lauren Clarke…

      Tentou recordar que devia ser eficiente e não estava a sê-lo naquele momento por causa de todas essas sensações que a embargavam.

      – Trabalho para o Matteo Combe, o presidente e diretor-executivo das Indústrias Combe. Se não o conhece, o senhor Combe é, entre outras coisas, o filho mais velho da falecida Alexandrina San Giacomo Combe… e tenho motivos para acreditar que a Alexandrina também era a sua mãe.

      Praticara-o, repetira-o várias vezes na sua mente e até o ensaiara naquela manhã à frente do espelho do quarto da estalagem. Não fazia sentido andar com rodeios e o melhor era ir diretamente à questão.

      Esperara diferentes reações por parte dele. Podia negar tudo, podia ser arrogante ou podia expulsá-la. Previra planos alternativos para todas as situações, mas o homem que tinha à sua frente não disse nada e dirigiu-se para ela, obrigando-a a reparar que se mexia com uma elegância letal para o tamanho que tinha. Teve de suster a respiração e, quanto mais se aproximava, melhor conseguia ver a expressão da sua cara e dos seus olhos, que lhe pareceu de um sarcasmo brincalhão.

      Não tinha nenhum plano alternativo para isso.

      – A senhora Combe, que faleceu recentemente, incluiu-o no seu testamento. – Lauren fez um esforço para continuar. – O meu empregador quer que se cumpra o desejo da sua mãe, senhor James, e mandou-me aqui para que comece o processo.

      Esse homem continuou sem falar. Abrandou quando se aproximou, mas limitou-se a olhar para ela atentamente. Olhou para ela de cima a baixo de uma forma que lhe pareceu insuportavelmente íntima e ela sentiu o calor que se apropriava dela.

      Era como se lhe percorresse todo o corpo com as mãos, como se estivesse a verificar como o cabelo que apanhara num rabo de cavalo era suave e como o xaile que usava para combater o frio dos bosques húngaros era grosso. Olhava para as pernas dela, até àqueles sapatos tão bonitos como pouco práticos, e voltava a subir.

      – O senhor Combe é um homem rico e importante.

      Lauren mal conseguia manter o tom firme e autoritário de que tanto gostava quando aquele homem estava tão… perto e quando olhava para ela como se fosse um festim, não uma emissária.

      – Não o digo porque não queira cumprir os compromissos que tem consigo, porque quer, digo-o porque a sua importância exige que ajamos com uma certa… sensibilidade.

      De repente, apercebeu-se de demasiadas coisas. Dominik, tinha a certeza de que tinha de ser ele, tomara banho há pouco tempo. Conseguia ver alguma humidade no cabelo que ia de um lado para o outro como se tivesse vontade própria e, pior ainda, conseguia cheirar a mistura de sabonete e limpeza de um homem incorrigivelmente saudável. Fazia com que sentisse vertigens e sentiu-se convencida de era que por isso que o coração acelerava no peito.

      O bosque esperava à volta deles. Não estava em silêncio, mas também não se ouvia o barulho tranquilizador da cidade, as conversas, o trânsito e os sons de todos esses seres humanos que fingiam não estar sozinhos, para que a distraíssem do olhar curioso, penetrante e inequivocamente cinzento daquele homem.

      Se sentisse os nervos, teria dito que os seus estavam… alterados.

      – Desculpe – continuou ela, quando estava tão alterada que ou dizia alguma coisa ou fugia. – Fala inglês? Não pensei em perguntar.

      Ele esboçou um sorriso leve e esticou uma mão enquanto ela o observava, petrificada, por algum motivo que não conseguia entender.

      Achou que ia tocar nela, acariciar-lhe a cara, passar-lhe a mão pelo cabelo ou percorrer-lhe o pescoço com esses dedos compridos e elegantes como vira que faziam num filme romântico e desatinado que ela se recusava a reconhecer que vira, mas não o fez. Sentiu uma desilusão lacerante quando tocou na beira do xaile como se estivesse a verificar a qualidade da lã.

      – O que… está a fazer? – perguntou Lauren, sem a mínima esperança de manter uma atitude profissional.

      Perdeu a força nas pernas e a voz não parecia a sua, era entrecortada e quebradiça.

      Ele estava mais perto do que devia ter estado, porque ela tinha a certeza de que não conseguira mexer-se. Além disso, tinha a cabeça inclinada de uma forma que fazia com que tudo se mexesse por dentro… até ficar perigosamente imóvel.

      – Uma rapariga loira e linda entra no bosque com pouco mais do que uma capa vermelha e resplandecente…

      A sua voz era insinuante, como um feitiço que fazia com que voltasse a pensar em contos de fadas e não tinha a sua incredulidade em consideração. Era grave, cheia de matizes e com um sotaque leve que fazia com que o sangue bulisse, assim como outros cantos mais recônditos.

      – O que achas que poderia acontecer? – acrescentou ele.

      Então, baixou essa cabeça espantosamente masculina e beijou-a.

      Capítulo 2

      Estava a beijá-la. Pelo amor de Deus, estava a beijá-la!

      Entendia-o num aspeto racional, mas não fazia sentido. Sobretudo, porque o que estava a fazer com a boca não se parecia nada com os beijos que imaginara ou de que ouvira falar.

      Passava-lhe a língua pelos lábios, tentava-a e seduzia-a ao mesmo tempo para que se abrisse… para ele.

      Algo que, naturalmente, não tencionava fazer… até ceder e deixar fugir um som do mais profundo da garganta que a fez tremer.

      Então, essa tentação perversa que era a sua língua entrou na boca dela, entrou nela e tudo se perturbou.

      Talvez fosse o ângulo, o seu sabor suculento e desmedido, essa mestria indolente ao beijá-la, ao afundar-se, ao mexer-se…

      Quando se afastou, continuava a esboçar um sorriso e fora ela que ficara a tremer, embora se garantisse que era de raiva e de indignação.

      – Não pode… andar por aí a beijar as pessoas!

      Ele sorriu mais abertamente.

      – Vou ter isso em conta se alguma outra personagem de contos de fadas sair do bosque.

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