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a força à frente dele e confessar tudo. De que serviria explicar porque o deixara realmente? Tinham passado cinco anos. Não quisera ouvi-la então, não tinha razão para o fazer naquele momento. Além disso, não queria remexer as coisas e acabar por discutir com ele como, sem dúvida, aconteceria. Também não podia falar da existência de Adán. Precisava de mais tempo…

      – Lamento muito que as coisas tenham acabado daquela maneira, mas não foi para o bem?

      Era um comentário estúpido e banal de que Briana se arrependeu imediatamente.

      – Para o bem? – gritou ele.

      As palavras ecoaram pelo quarto e, para Briana, foi um grande golpe captar as emoções que expressavam: Confusão, raiva, frustração… Estava tudo ali.

      Ele passou os dedos pelo cabelo escuro e espesso, e mexeu a cabeça, olhando para ela fixamente.

      – Posso superar o facto de ter parecido um parvo com a minha família e amigos, mas o que não posso aceitar, nem perdoar é que não me tenhas dado nenhuma pista de que os teus sentimentos por mim eram tão frágeis. Nem que não me darias a oportunidade de ouvir a razão dos teus próprios lábios. Tive de a ler numa carta fria e carente de emoção! Deves ser uma actriz consumada, Briana… Parecias feliz e apaixonada e eu acreditava. Que idiota!

      O coração batia com a força e rapidez de um expresso. Era difícil aceitar que a mulher que amara, que o abandonara alguns dias antes do casamento, estava ali de pé, diante dele.

      Pascual descobriu que a lembrança que tinha dela não lhe fazia justiça. Em carne e osso, Briana Douglas era muito mais bela do que a imagem que conservava na sua mente. Nesse momento, fazia-o pensar num vinho do Porto intenso e exótico, e por mais que deplorasse a forma como o tratara, continuava a desejar beber cada centímetro da sua pele até se embriagar. Sempre tivera um corpo que lhe acelerava o coração. O fato de saia estreita fazia honra à sua figura perfeita. A sua simples presença exsudava uma sexualidade que fazia o seu sangue ferver. Faria bulir o sangue de qualquer homem! Mas era o rosto que mais chamava a sua atenção.

      Com aqueles olhos cinzentos, quase felinos, faces rosadas como uma maçã e lábios carnudos e sedutores, era uma mulher que exacerbava as suas fantasias sensuais mais secretas. Com aquela cara e aquele corpo pararia o trânsito em qualquer cidade do mundo, sem se esforçar. De repente, Pascual sentiu uns ciúmes terríveis ao imaginá-la com alguém, ao pensar que poderia tê-lo deixado porque preferia outro homem. Demorou um momento a controlar essa sensação, assim como uma onda de luxúria súbita e inconveniente.

      – Teve de haver outra razão para me deixares, para além do que escreveste. Foi por causa de outro homem? Foi isso? – não conseguiu evitar fazer a pergunta que andava há anos a consumi-lo. Ao ver que Briana tremia, estudou-a com o olhar, tenso como uma corda de violino, com medo da sua resposta.

      – É claro que não! Lamento se pensaste isso, mas não havia mais ninguém… Continua sem haver.

      Ele deixou escapar um longo suspiro de alívio. Mesmo assim, enfurecia-o que parecesse tão serena quando ele trovejava por dentro como um vulcão em ebulição.

      – E tu? – aventurou ela. – Voltaste para a tua ex?

      – A minha ex?

      Nesse momento, Pascual recordou um incidente que tivera lugar na noite antes de Briana se ir embora. A modelo brasileira com quem saíra antes de conhecer Briana aparecera inesperadamente na festa familiar, de braço dado com o seu primo Rafa. A sua mãe, a perfeita anfitriã, deixara-os entrar. Claudia bebera em excesso durante a noite e, quando Briana estava no terraço, a falar com Marisa e Diego, apanhara-o desprevenido. Rodeara o seu pescoço com os braços, apertara-se contra ele e beijara-o na boca…

      Pascual ficou tenso, com raiva e desdém renovados, ao recordar o incidente. Não tivera o mínimo interesse em voltar para Claudia, nem então, nem depois. Amava Briana. Mas era óbvio que ela não correspondia ou não teria sido tão fácil deixá-lo sem mais nem menos. Isso destruía-lhe a alma. Nenhum homem gostava de descobrir que a relação que achava real se baseava numa mentira. Uma mentira que implicava que a sua amada não sentia tanto amor por ele como lhe dissera. Uma nova onda de dor e cólera sulcou as suas veias ao pensar no abominável comportamento da mulher que tinha à sua frente.

      Ela levantou os seus olhos feiticeiros e tentou esboçar um sorriso. Não teve demasiado sucesso e ele percebeu a preocupação e a dor que reflectia o seu olhar. Alegrou-se por a ter incomodado. Deus sabia o quanto ela o incomodara.

      – Quando apareceu na festa… Pensei que tu e ela…

      – Enganaste-te. Saía com o meu primo e ele levou-a como acompanhante. Fim da história!

      – Bom, então… Será melhor ir-me embora e deixar-te beber o café – disse. – Os teus anfitriões estão à espera na sala do andar de baixo. Queres que lhes diga que estarás pronto em vinte minutos ou assim? Esperarei no hall para te acompanhar.

      – Estarei pronto quando estiver, não antes! – gritou Pascual. Virou-lhe as costas e dirigiu-se para a bandeja.

      Em silêncio, serviu-se de uma chávena do café aromático e bebeu um gole. Embora tivesse gostos muito definidos a respeito do café que bebia, não encontrou nenhum defeito na mistura escolhida.

      Virou-se novamente para Briana, que estava levemente corada.

      – Estarás aqui todo o fim-de-semana? – perguntou, consciente de que a conversa que tinham iniciado não podia acabar assim.

      – Sim, o meu trabalho exige-mo.

      – Há quanto tempo trabalhas para esta empresa?

      – Há três anos. Sou a dona.

      – Agora és uma mulher de negócios? Conseguiste surpreender-me outra vez!

      Embora não tivesse conseguido evitar o tom cínico da sua voz, Pascual estava realmente surpreendido. A Briana que conhecera não dera a impressão de ter interesse em criar a sua própria empresa. Na altura, alegara que só era feliz a trabalhar com crianças e animais. Quando chegara a Buenos Aires, encontrara trabalho a passear cães e depois como ama. No entanto, ele tivera de aceitar que não fora totalmente franca com ele e a sua desonestidade continuava a magoá-lo profundamente.

      – Deixarei que desfrutes do café em paz. Espero-te lá em baixo.

      Briana dirigiu-se para a porta, sem conseguir disfarçar a sua ansiedade por sair dali. Pascual irritou-se por ela querer manter distância entre eles outra vez.

      – Antes de fugires a correr, quero que me dês dados sobre os empresários com que vou reunir-me. Terás alguma informação útil para mim, não é? – olhou para ela fixamente. Desejava testá-la, descobrir se era competente no negócio que escolhera. Se ele se dedicasse a algo parecido, teria querido saber que tipo de gente contratava os seus serviços.

      – O que queres saber? – perguntou ela, obviamente incomodada por não poder fugir.

      – Quero saber o que não revelaram na sua oferta para comprar os meus cavalos. Entendes a que tipo de informação me refiro? É importante que os meus cavalos estejam nos melhores lares. Como sabes, não faço estas transacções só por dinheiro.

      – As suas qualificações são de primeira, mas se precisares de algum dado específico, pergunta. Garanto-te que fiz os meus trabalhos de casa nesse sentido.

      – A sério? No entanto, ignoravas que eu era o convidado VIP do fim-de-semana, não era? Não te parece um descuido digno de menção?

      – Não é um erro habitual em mim, garanto-te – as suas faces tingiram-se de vermelho. – Ultimamente, tenho tido muitas coisas na cabeça e…

      – Os teus problemas pessoais nunca deviam incapacitar-te para fazeres bem o teu trabalho.

      – Talvez seja assim num mundo perfeito, mas se por acaso não reparaste,

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