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a Adán… Quando descobri que estava grávida, passei muito tempo a decidir o que fazer. Era óbvio que tinha de tomar decisões a respeito do seu futuro. Pensei que significaria, para efeitos práticos, que teria de viajar para a Argentina para te ver todos os meses. Teria sido uma situação impossível. O maior desejo de um progenitor é que o seu filho cresça a sentir-se querido e a salvo. Cheguei à conclusão de que só poderia dar-lhe isso se ficasse comigo. Sei que, pensando friamente, parece desprezível que tenha tomado essa decisão sem te envolver. Mas, depois de te ter abandonado, não tive outro remédio senão tomá-la.

      – Não deixas de te referir à criança como se fosse só tua, mas eu também participei na sua concepção, não foi? – Pascual tinha um nó na garganta e custava-lhe falar. – Porque não me contaste, na altura, como a tua experiência passada te afectava? Nunca devias ter ido embora sem falar comigo. Receber um bilhete no dia após a festa de celebração do nosso noivado e ler que te tinhas ido embora, foi mais do que terrível. Achei que estava a ter um pesadelo!

      Pascual fixou o olhar no chão, recordando a dor que o perdera num abismo de desespero pela primeira vez na sua vida. Abanou a cabeça.

      – Eu… Naquele momento, era-me difícil pensar bem – disse Briana. – Os preparativos do casamento tinham começado e cada dia tinha mais medo de estar a cometer um erro terrível… E para piorar tudo, houve o incidente com a tua ex-namorada.

      – E não podias falar comigo sobre essas coisas? Não era um desconhecido, que não se importava. Supostamente, era o homem que amavas!

      – Eras! Quer dizer, tu…

      – Receio que as tuas explicações cheguem demasiado tarde, querida – estudou-a com o olhar. – Nada do que possas dizer-me agora fará com que recuperes a minha confiança e o meu respeito. O que fizeste esmagou todos os sentimentos que alguma vez tive por ti, transformando-os em pó e cinzas.

      Pascual atravessou o quarto, tentando limpar a cabeça. A chuva batia com força nos vidros antiquados, como o eco da pressão que crescia no seu interior. Pensamentos, lamentações e sensações dolorosas assolavam a sua mente e o seu coração, ao ponto de mal conseguir suportá-lo. Mas entre todo esse tumulto, uma coisa dominava tudo o resto: Tinha um filho.

      Ao recordar a paixão que o seu amigo Fidel sentira pelo seu único filho, dominou-o a determinação de resolver as coisas, pelo menos nesse sentido. Não estivera presente durante os primeiros quatro anos de vida do filho, mas estaria presente a partir daquele momento!

      Virando-se para a figura solitária e esbelta que continuava parada no meio do quarto, rejeitou qualquer fugaz sentimento de piedade ou empatia. O que Briana dissera era verdade: As explicações tinham chegado demasiado tarde. O que acontecesse agora, seria causado por ela.

      – Não quero continuar a falar do assunto esta noite. Preciso de tempo para pensar. Para mim, foi um grande choque descobrir que tenho um filho. E também o facto de saber que a sua mãe fria e egoísta decidiu que eu não tinha o direito de saber da sua existência. Falaremos novamente amanhã, depois do jogo de pólo. Tomarei então decisões importantes.

      – As decisões sobre o futuro não dependem só de ti, Pascual!

      – Se eu fosse a ti, Briana – disse, lançando-lhe um olhar furioso, – não me arriscaria a dizer nada sobre o assunto esta noite. Já fizeste as coisas à tua maneira durante demasiado tempo. Não permitirei que essa situação se prolongue e mais vale acreditares nisso!

      Consciente de que, se continuasse no quarto com ela mais um segundo, se entregaria a uma explosão de raiva incontrolável, Pascual dirigiu-se para a porta. Saiu para o corredor escuro e não olhou para trás.

      – Tiveste uma má noite?

      O tom sempre risonho de Tina quase fez com que Briana desse um salto. Tinham-se encontrado para tomar o pequeno-almoço na cozinha, na manhã seguinte. Com os nervos em franja, serviu-se de uma chávena de café e lançou um olhar irónico à colega.

      – Pode dizer-se que sim.

      Levou a chávena para a robusta mesa de carvalho, afastou uma cadeira e sentou-se. Com ar ausente, acrescentou leite e açúcar à bebida. As suas olheiras revelavam que não dormira durante toda a noite. Que mulher teria conseguido dormir depois de Pascual a acordar, irritado, a meio da noite? Não conseguia parar de se perguntar, com ansiedade, que decisões importantes a respeito de Adán e dela é que Pascual tomaria.

      Na noite anterior, estivera mais do que furioso e, em grande medida, ela aceitava merecer a sua condenação. Nunca devia ter-lhe escondido a existência de Adán, por muito que a assustasse que a sua vida futura se transformasse numa réplica da sua infância. A grande tragédia era que amara esse homem com toda a sua alma e, ao vê-lo novamente, compreendera que o seu amor por ele continuava vivo. Estivera adormecido, à espera de voltar a acordar.

      Em alguns momentos, durante o confronto desagradável da noite anterior, Briana desejara aproximar-se de Pascual, suplicar-lhe perdão e perguntar-lhe o que podia fazer para o compensar. Mas não o fizera por medo do que ele pudesse exigir. Angustiava-a a ideia de ele pensar seriamente em tirar-lhe a custódia do filho e esse sentimento oprimia-a. Dada a sua riqueza e o poder da sua família, Pascual contava com os meios necessários para lhe tirar Adán. Briana não conseguiria evitá-lo de maneira nenhuma. Comparada com essa ideia inquietante, a ameaça de um julgamento por dívidas da sua empresa carecia de toda a importância.

      Sem saber o que fazer, olhou para a chávena de café, observando as espirais de vapor que se elevavam da porcelana delicada. Sentia-se como se estivesse num túnel escuro, sem possibilidade de encontrar a luz no fim. Se o seu pai tivesse tido a capacidade de ser fiel à mãe, se tivesse posto o bem-estar da esposa e da filha acima do snobismo da classe e do dinheiro com que crescera, talvez Briana não tivesse acabado perdida na situação penosa que estava a viver com Pascual.

      – O que se passa contigo, Bri? – Tina sentou-se à frente dela. O seu bonito rosto expressava preocupação genuína.

      Briana, consciente do que a sua jovem amiga, involuntariamente, revelara a Pascual na noite anterior, sentia-se muito renitente a falar de assuntos pessoais. Tinha a certeza de que Tina não quisera fazer nenhum mal, mas mesmo assim não devia ter falado dela tão alegremente.

      – Estou bem. Passei uma má noite, foi só isso.

      – O nosso impressionante senhor Domínguez esteve a fazer-me perguntas sobre ti ontem à noite. Na verdade, cada vez que tentava mudar de assunto, dava-me a volta para falar de ti! Penso que gosta mesmo de ti, Bri.

      – Tanto faz se gosta ou não. Estou aqui para fazer o meu trabalho, mais nada. E, no futuro, agradecer-te-ia se não falasses livremente das minhas circunstâncias pessoais. Sobretudo, com pessoas para as quais estou a trabalhar.

      Tina, sinceramente surpreendida com a explosão de mau humor da sua chefe, nada habitual, encolheu os ombros com ar compungido.

      – Lamento muito. Mas é um homem tão encantador… Antes de dar por isso, tinha-me sacado coisas que, normalmente, não contaria. Refiro aos problemas financeiros da empresa e à tua condição de mãe solteira…

      – Aceito o teu pedido de desculpas. Mas, acredita em mim, se queres triunfar nesta empresa e na tua vida, terás de aprender a ser muito mais discreta! Vou acabar o café e depois começaremos a trabalhar. Se o senhor Domínguez te fizer mais perguntas sobre mim, diz-lhe para falar comigo, está bem?

      Passara toda a noite a dar voltas à cabeça, pensando no que fazer. Finalmente, precisando de um pouco de ar fresco, saiu da casa que continuava silenciosa e, com as mãos nos bolsos, seguiu um dos caminhos serpenteantes. Começava a amanhecer e a névoa prateada cobria as árvores e sebes como um manto diáfano. O ar era tão frio que Pascual tremeu. Admitiu que o campo inglês, no Outono, era um presente para a vista. Os seus pés esmagavam as folhas douradas e húmidas contra o cascalho. Era o primeiro prazer verdadeiro que experimentava desde a sua chegada.

      Na

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