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Não me importa como o fazes. De certeza que tens contactos aos quais podes pedir que a castiguem de alguma forma pelo que fez ao Connor.

      – Não – murmurou Sebasten, um homem de um metro e noventa e cinco e de olhos âmbar escuro. – Sou um Contaxis e tenho honra.

      Minutos depois, Sebasten saiu de casa de Ingrid sem ligar aos curiosos que o observavam. Na limusina, serviu-se de um uísque duplo. Estava pálido. Não duvidada que Ingrid lhe tinha contado a verdade. Connor… o seu pequeno irmão, quem apenas tinha visto um par de vezes num ou outro encontro de pólo nos últimos anos. Se soubesse, poderia tê-lo protegido de alguma maneira. Desde o início, poderia tê-lo ensinado a lidar com aquele tipo de mulheres. Por acaso, Lisa Denton saberia que, apesar da sua fama e dos seus amigos ricos, Connor não tinha fortuna e vivia apenas do que ganhava no pólo? Ter-se-ia por acaso aborrecido da adoração de um cachorrinho?

      Seria uma mulher que coleccionava homens como se fossem troféus?

      Sentiu uma imensa pena por Ingrid que, apesar de ter passado muitos anos na Grécia, nunca se apercebera que um homem não fala de questões de honra com uma mulher.

      Maurice Denton olhou pela montra da biblioteca e voltou-se furioso para a sua filha.

      – O que fizeste não tem desculpa.

      Lizzie estava pálida como giz e o seu cabelo cor de cobre brilhava como se estivesse em chamas.

      – Não te pedi nada – murmurou. – Já disse que… todas as pessoas cometem erros… e eu cometi um ao sair com o Connor.

      – Há normas de comportamento e tu quebraste-as a todas – continuou o seu pai com dureza. – Dás-me vergonha.

      – Lamento – respondeu ela, magoada. – Lamento… muito.

      – Um pouco tarde, não? O que não te posso perdoar é a vergonha pública que estás a fazer passar a tua madrasta. Ontem à noite, a Felicity e eu tínhamos um jantar marcado com os Turgen, mas cancelaram-no com uma desculpa qualquer. Todas as pessoas dizem que a tua crueldade acabou literalmente com o jovem Morgan e a nós tratam-nos como se tivéssemos a peste…

      – Papá…

      – A Hannah Jurgen gostava muito do Connor, como muitas outras pessoas. A Felicity teve um desgosto de morte quando cancelaram o jantar. Não dorme desde que os detalhes começaram a sair na imprensa!

      Pálida como o leite, Lizzie desviou o olhar com um grande nó na garganta. Poderia dizer-lhe que a sua jovem e bela mulher, o centro do seu universo, não dormia porque temia que a descobrissem; mas, que direito tinha de ser Deus e de julgar o casamento do seu pai? Que direito tinha para falar e destruir aquele casamento e a segurança do filho que ia nascer?

      – Achas que uma mulher grávida pode viver assim, a ver como as suas amizades lhe viram as costas porque tu te converteste por mérito próprio numa rejeitada?

      – Só deixei o Connor. Não fiz mais nada – respondeu Lizzie a tremer. Não estava acostumada a que o seu pai falasse com ela com tanta frieza. Estava tão magoada que não encontrava as palavras para se defender. – Não sou culpada pela sua morte! – jurou fervorosamente. – Tinha problemas que não tinham nada a ver comigo!

      – Esta manhã, a Felicity foi para a casa de campo para descansar – disse o seu pai como se estivesse a ditar uma condenação. – Quero que volte para o meu lado onde deve estar, tenho de cuidar dela. Por isso tomei uma decisão que, de facto, já deveria ter tomado há mais tempo: vou deixar de pagar as tuas despesas e quero que saias desta casa.

      Lizzie não conseguiu abrir a boca com a comoção. Iam atirá-la aos lobos por causa da sua madrasta. Olhou incrédula para o pai que adorava desde a infância, o pai que tinha tentado proteger e evitar a dor e humilhação, apesar da sua própria vida se desintegrar.

      Maurice tinha sido sempre um pai dedicado. A sua mãe tinha morrido quando ela tinha cinco anos e nos quinze seguintes, até se voltar a casar, formara-se um vínculo muito especial entre pai e filha. No entanto, desde que conheceu Felicity, aquele vínculo tinha-se quebrado. Felicity encarregou-se em ser o mais importante tanto na vida do seu marido como na sua casa.

      – Não o faço como um castigo, mas é óbvio que te mimei até limites inexplicáveis e o único que consegui é que não te importes minimamente com os sentimentos dos outros…

      – Isso não é verdade… – defendeu-se Lizzie, destroçada.

      – Temo que sim. Acho que o melhor que posso fazer por ti é obrigar-te a enfrentares sozinha o mundo real. Acabaram-se as idas às festas da última moda e as desculpas para as coisas que realmente importam…

      – Mas…

      – Depois da morte do Connor, quem é que te vai convidar para festas onde se fala de generosidade entre os demais? A tua presença é um acontecimento de caridade que faria com que muitas pessoas tivessem náuseas!

      Nesse momento, o telefone tocou e o seu pai fez um gesto com a cabeça, dando por finalizada a sua conversa. Lizzie queria morrer. Saiu do vestíbulo e dirigiu-se para o seu apartamento, que ficava atrás da casa principal, nos antigos estábulos.

      Esteve um pouco sem conseguir reagir por causa do impacto. Há dez dias que recebia críticas contínuas e já não tinha lágrimas. Quinze dias antes, reservara uma semana de férias com Connor em Bali. Não lhe tinha conseguido dizer nem tão pouco cancelar o conseguinte gasto. Nunca se tinha preocupado por causa de dinheiro, mas agora, de repente, sim.

      E o que importava isso quando o homem que amava estava preso à sua madrasta? A doce e efusiva Felicity, tão chorona que jorrava. Connor tinha-se apaixonado por ela até à medula, parecia o amor da sua vida e ela tinha-o rejeitado, o que fizera com que ele se suicidasse.

      – Não queria que isto acontecesse… Não o pude evitar! – tinha-lhe dito Connor sem se importar com a dor que a sua traição lhe estava a infligir.

      Aquele homem, que era o seu melhor amigo, inclusive o seu futuro marido… E não tinha feito outra coisa a não ser utilizá-la desde o princípio para tapar a sua relação com Felicity. Lizzie sentiu um tremor dos pés à cabeça e tapou a boca. Os seus grandes olhos verdes olharam-se ao espelho. Era demasiado alta e magra. Não possuía as curvas femininas de Felicity, e sendo assim não era de estranhar que Connor a tivesse preferido a ela.

      E Connor? Sentiu uma náusea. Que preço tinha pago por ter uma relação com uma mulher casada! Connor… tinha morrido. Como o podia odiar? No meio de toda essa dor, alegrava-se por não se ter exposto ao ridículo de lhe ter oferecido o seu corpo em Bali. Tinha saído a correr!

      A senhora Baines apareceu à porta.

      – Temo que o teu pai me pediu para preparar a tua bagagem.

      – Oh…. – disse Lizzie vendo como a sua área coberta de sardas ficava ainda mais pálida. Tentou recompor-se para a mulher não ficar preocupada. – Tudo bem, já sou uma mulher, eu faço isso.

      – Não está certo teres de sair de casa – respondeu a senhora Baines veemente. Lizzie surpreendeu-se dado que, apesar de trabalhar há muitos anos com eles, aquela mulher nunca se metia nos assuntos da família.

      – É apenas um mal-entendido familiar – disse Lizzie encolhendo os ombros, agradecida por aquela mostra de afecto, mas por sua vez envergonhada. – Vou tomar um duche.

      Uma vez na casa de banho, surpreendida pela conversa com a senhora Baines, marcou o número de telefone de Jen, a única amiga que ainda tinha.

      – Jen, posso ir para tua casa por uns dias? O meu pai pôs-me fora de casa.

      – Estás a brincar?

      – Não, estou a falar a sério. De facto, a minha governanta está a fazer-me as malas.

      – Pois, com toda a roupa que tens, a pobre mulher vai ter muito trabalho – riu-se Jen. – Sim, vem para cá. Assim saímos esta noite e arejas.

      –

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