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Poder e desejo. Michelle Smart
Читать онлайн.Название Poder e desejo
Год выпуска 0
isbn 9788413484990
Автор произведения Michelle Smart
Жанр Языкознание
Серия MINISERIE SABRINA
Издательство Bookwire
Maldito fosse, deixara.
Adoraria apagar todas as lembranças dessa noite, mas tinha cada segundo gravado na mente. Naquela manhã, acordara com a sensação de que fora o primeiro a possuí-la e de que algo correra mal. Era uma sensação que o incomodava e que crescia à medida que o tempo passava.
Esfregou a nuca com uma mão e amaldiçoou a memória enganosa.
Natasha não era virgem. Estivera casada e tentara ter um filho com o marido!
Passaram mais cinco minutos antes de ouvir movimentos e ela aparecer à porta.
Soube a resposta ao vê-la.
– Tem de haver… algum erro – balbuciou Natasha. – Tenho de fazer outro teste.
Ficara tanto tempo a olhar para o resultado positivo que os olhos se tinham toldado.
Durante duas semanas, recusara-se a acreditar que podia acontecer.
Tinham sido inconcebivelmente insensatos, mas a natureza não podia ser tão desumana com eles. O remorso e o desprezo por si próprios com que teriam de viver não eram castigo suficiente?
Uns olhos verdes e inflexíveis fixaram-se nela e passou um instante antes de ele falar.
– Esse teste é o mais confiável do mercado. Se é positivo, estás grávida. Isso só deixa um enigma por resolver, quem é o pai?
Com medo de desmaiar, sentou-se no chão e abraçou os joelhos.
– Quando foi a última vez que o Pietro e tu…?
O desagrado que se refletia na sua voz, embora não tivesse acabado a frase, foi como uma onda abrasadora na sua cabeça gelada e, pela primeira vez na sua vida, não soube o que dizer ou fazer. Sempre, quando tivera um dilema, a resposta fora muito clara, tinha de fazer o que os pais queriam. Fora por isso que se casara com Pietro. No entanto, naquele momento, não pensava nos pais.
– Tenho de interpretar, pelo teu silêncio, que o Pietro e tu foram… ativos até à sua morte?
Como podia responder? Não podia.
– Se o teu último período foi há um mês, parece lógico pensar que estivemos juntos quando eras mais fértil. No entanto, todas as mulheres têm ciclos diferentes e se o Pietro e tu… foram íntimos até à sua morte, existe a possibilidade de ele ser o pai. Quem mais está na lista?
A cabeça dava voltas porque ele, como médico, entendia muito melhor do que ela como o corpo funcionava e não entendeu o que queria dizer.
– O quê…?
– Não te faças de parva. Com quem mais foste para a cama no último mês?
– Isso é insultante – queixou-se ela.
Ele deixou escapar uma gargalhada.
– Não me interpretes mal, estás a representar muito bem o papel de viúva desconsolada, mas, quando estiveste comigo, parecia que estavas com cio e não seria de estranhar que estivesses com outros.
Com o cio? Natasha tapou os ouvidos e cravou as unhas no couro cabeludo. Como era possível que ele, um médico, não tivesse percebido?
Houvera um momento, quando a penetrara, em que parara, mas só durara um instante, porque o beijara com avidez para que continuasse o que começara… e tivera medo de que descobrisse a verdade.
– Estou à espera da resposta. Quantos?
Natasha lembrou-se de que houvera um tempo, muito longínquo, em que o leve sotaque italiano do seu inglês impecável fora como um bálsamo para ela. Supôs que fosse o que acontecia quando se criava, do zero, uma empresa que valia milhares de milhões, a humanidade mais elementar desaparecia com os princípios.
– Nenhum. Não houve ninguém.
– Uma ecografia vai dizer-nos a data da conceção com precisão e, assim, poderemos saber quem é o pai.
O tom cortante de Matteo afetou-a.
A ideia de uma ecografia, de ver esse ser minúsculo que crescia dentro dela… De repente, percebeu que estava grávida, que ia ser mãe.
Levou uma mão à barriga, apagou o rosto crispado de Matteo da mente e imaginou a vida que estava a gerar-se dentro dela. Cumprimentou o bebé em silêncio e sentiu uma felicidade avassaladora.
Há muito tempo que queria ter um filho. Depois do que acontecera com Pietro, pensara que seria um caminho comprido e tortuoso, se conseguisse e se aceitasse seguir o caminho que ele queria para o ter. No entanto, acontecera como por arte de magia.
Ia ter um bebé.
– Como podes estar a sorrir neste momento? – perguntou Matteo. – Parece-te divertido?
Parou de sorrir, embora não soubesse que o fazia, e endireitou-se. Fosse o que fosse que o futuro proporcionava, mesmo que fosse apenas humilhação, tinha de pensar nessa pequena semente. Não podia cair no desânimo, seria forte, seria uma mãe.
– Estou grávida – afirmou. – Não podes saber há quanto tempo o desejo e, sim, vou sorrir e alegrar-me com a conceção do meu filho porque é um milagre.
– Então, tencionas tê-lo.
– Como podes perguntar uma coisa dessas?
Aproximou-se, pôs-lhe uma mão na nuca e observou-a como se a examinasse.
– Porque te conheço, Natasha – declarou ele. – És egoísta, só pensas em ti e no que te dá jeito.
Natasha, atónita, ficou em silêncio devido à sua proximidade, ao calor da sua pele, às carícias quase distraídas dos seus dedos, devido às lembranças da única vez que tinham estado juntos. Pestanejou várias vezes, para que o cérebro funcionasse outra vez, respirou fundo, levantou uma mão, agarrou a mão dele, cravou-lhe as unhas e retirou-a do pescoço. Endireitou-se o máximo possível, embora fosse quase trinta centímetros mais baixa do que o metro e oitenta dele.
– Não me conheces – replicou ela. – Se me conhecesses, não terias tido de me perguntar se ficaria com o bebé. Farei mais do que ficar com ele, vou amá-lo e criá-lo.
Já o desejara uma vez. Se lhe tivessem dito, quando tinha dezoito anos que, sete anos mais tarde, estaria à espera de um filho de Matteo, daria saltos de alegria. No entanto, não podia dizer-lhe porque não acreditaria.
Esfregou a mão onde lhe espetara as unhas.
– Espero, pelo bem do teu filho, que as tuas palavras não sejam tão vãs como costumam ser, mas o tempo dirá. Tenho uma amiga em Florença que gere uma clínica ao lado da minha e que tem os equipamentos mais modernos e precisos. Vou levar-te lá. Ela poderá descobrir a data da conceção para que possamos determinar se existe a possibilidade de eu ser o pai. A discrição dela está garantida e ambos concordamos que a discrição é imprescindível.
Natasha fez um esforço para respirar.
Estava tudo a acontecer muito depressa. Não podia permitir que a manipulasse, mas também era verdade que tinha de fazer o que fosse melhor para o bebé e que precisava de toda a discrição que conseguisse até decidir o que ia fazer.
As repercussões eram terríveis e não queria pensar nelas. Quantas vidas ficariam arruinadas quando se soubesse a verdade?
O pior de tudo era que nunca poderia dizer toda a verdade, pois ninguém podia sabê-la. Como Matteo não podia saber que ela já conhecia uma clínica excelente em Paris e que também garantia a discrição. Também não podia