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está aqui. É isso que teria contado para ele. Ver perdurar o que construiu e saber que os seus descendentes não só preservam, mas também fazem crescer o património que ele começou a reunir. Sei que entende o que digo, Elizabeth.

      Ela assentiu.

      – E também sei que tem ideia de como é difícil conquistar tudo isto. – Precisava de discutir o seu problema com uma mulher que pudesse compreendê-lo. – Também temos desastres aqui nos trópicos. Vocês enfrentam a seca. Nós temos os ciclones. Perdi o meu filho vítima de um deles. Foi uma época muito difícil. Roberto tinha morrido, as plantações estavam devastadas…

      Um tempo de perdas em todos os sentidos.

      – Às vezes penso que os desastres forjam o carácter humano – opinou Elizabeth. – É preciso ter força para superá-los, para suportar…

      – Para lutar. Para preservar o que se tem – acrescentou Isabella com firmeza.

      Talvez fosse a convicção na sua voz, mas Elizabeth olhou-a com um misto de respeito, consideração e orgulho. O que via ela? Ambas tinham cabelos grisalhos, olhos escuros e colunas erectas. Isabella era quase duas décadas mais velha, mas não se sentia idosa. O seu rosto exibia mais rugas, e ela provavelmente experimentava mais dores e desconforto do que a mais nova, mas, na alma, o fogo da vida ainda ardia intenso, chamas que continuariam luminosas e fortes por todos os anos que ainda tivesse pela frente.

      – Fez do seu pai um homem orgulhoso, Isabella. Preservou este lugar para os seus netos crescerem, transformarem-se em homens e conquistarem tudo o que têm. Ontem, quando fomos conhecer as plantações, Rafael e eu ficámos muito impressionados.

      – Mas tudo pode acabar facilmente. O ciclone que tirou a vida a Roberto e à sua esposa… – Balançou a cabeça com enorme tristeza. – Quero os meus netos casados e com filhos para salvaguardar o futuro de toda esta herança, mas eles não me ouvem.

      – Alex…

      – Você conheceu a noiva dele no jantar de ontem. O que acha de Michelle Banks?

      Uma certa hesitação antecedeu a resposta.

      – Bem, ela é… educada, polida…

      Isabella riu do comentário cauteloso.

      – Como um diamante – disse. – Brilhante, sedutora, requintada, mas com um coração duro como a rocha mais resistente. Aquela jovem não é capaz de dar nada de si mesma a ninguém.

      – Está infeliz com a escolha do seu neto.

      – Ela não será uma boa esposa.

      Elizabeth assentiu, demonstrando compreensão do dilema em que Isabella se encontrava.

      – Se não aprova a noiva de Alex, deve procurar outra mulher para ele. Antes que seja tarde demais.

      – Eu? E como poderia fazer tal coisa? Alessandro jamais aceitaria um casamento arranjado. Ele é orgulhoso, independente, obstinado…

      – O meu filho mais velho, Nathan, desperdiçou anos preciosos da sua vida com mulheres inadequadas. A sua vida sempre esteve ligada à terra, como a de Alex.

      – Sim, Alex ama a terra, mas Michelle não partilha desse sentimento. Para ela, a agricultura é apenas uma fonte de riqueza. Mais nada.

      – Saí em busca de uma mulher que pudesse atender às necessidades de Nathan. E encontrei-a mulher. Como previa, Nathan identificou nela a sua alma gémea e também foi capaz de atender às suas expectativas. O casamento é muito feliz e harmonioso.

      – Você encontrou Miranda para Nathan?

      – Sim. Eu pu-los em caminhos destinados a cruzarem-se e rezei para que tudo desse certo. As minhas preces foram atendidas.

      – Ah! Os caminhos devem cruzar-se… com uma certa ajuda, é claro!

      – Não é tão óbvio. É preciso exercer alguma pressão para aproximá-los. É impossível controlar tudo. Se não houver química…

      – Elizabeth! Que mulher não se sentiria atraída por Alessandro?

      – Entendo o seu ponto de vista. Mas… e ele? Alex também deve sentir-se atraído pela mulher em questão. Miranda é uma mulher linda. E Michelle é…

      – Já ouviu falar em milagres da cosmética? A beleza daquela jovem tem a profundidade da pele.

      – Mas ela é sedutora. Sabe usar de todos os artifícios para se tornar sensual.

      – Pele e osso! Alessandro precisa de uma mulher com ancas largas para abrigar muitos bebés e seios fartos para amamentá-los. Uma mulher que saiba preparar e apreciar uma refeição de verdade. Alguém que não viva como um coelho, comendo apenas folhas de alface e cenouras.

      Elizabeth riu.

      – Bem, não se esqueça que Alex vai ter de se sentir atraído pela mulher em questão. Levando em consideração o tipo físico de Michelle, eu não escolheria ninguém muito rechonchuda.

      – Mas a candidata ideal pode ter curvas nos lugares certos, não?

      – Você conhece-o bem, Isabella. Sabe que a atitude é mais importante que tudo. Alex precisa de alguém que possa ser sua companheira em todos os sentidos.

      – Uma companheira. Sim, você tem razão. Uma companheira que queira ter filhos.

      Isabella estava satisfeita com a conversa.

      Era bom receber a visita de Isabella com o seu novo companheiro, o argentino Rafael Santiso, um homem bom e generoso. Ele lembrava-lhe o seu pai, um homem de visão.

      Alessandro também podia ser um homem de visão… se abrisse os olhos e visse o que tinha de ser visto para fazer tudo dar certo. E ela poderia ajudá-lo a ver. Ia encontrar a mulher certa e pô-la-ia diante dele.

      Capítulo 2

      – Gina! Venha até aqui imediatamente!

      Gina Terlizzi abandonou as flores que ajeitava num arranjo e correu para a sala da frente, sem entender porque é que a sua presença era solicitada com tanta urgência. Como proprietária da florista, a sua tia preferia lidar com os clientes pessoalmente.

      O motivo estava ali, diante dos seus olhos, fazendo o seu coração bater mais depressa. Marco, o seu filho de dois anos e meio, estava ao colo de uma mulher de cabelos grisalhos e olhos escuros. Não era uma mulher qualquer, mas Isabella Valeri King, a lendária matriarca da família King.

      A florista ficava em Cairns, e o Castelo de King estava localizado em Port Douglas, setenta quilómetros a norte, mas toda a comunidade italiana em Queensland conhecia e respeitava aquela mulher.

      – É a mãe deste menino? – perguntou ela, com o rosto aristocrático a expressar reprovação.

      Gina olhou para a criança que, no colo da septuagenária, parecia fascinada pelos cabelos brancos.

      – Sim, sou eu. Marco, o que fizeste? Por que não estás no quintal?

      O garoto sorriu, triunfante.

      – Fiz uma escada de caixas e abri o portão.

      O que significava que não podia voltar a ter a certeza da sua segurança ali na florista.

      – Porque é que abriste o portão?

      – Para andar de bicicleta.

      – Ele estava na rua, a pedalar no triciclo a alta velocidade, e quase me atropelou – acusou a mulher.

      – Lamento muito, senhora King, e agradeço-lhe por tê-lo trazido até aqui. Pensei que ele estivesse a brincar no quintal.

      – O seu filho parece ser um grande empreendedor. Os meninos são aventureiros por natureza. É necessário ter sempre em mente essa característica e canalizá-la para actividades

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