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e todos os tipos de sobremesas para acompanhar a comida e, é claro, realizamos a festa de personificação, na qual todos nós que íamos viajar tivemos que atuar imitando um diferente cantor da atualidade, individualmente ou em grupo.

      A ideia não era torná-lo perfeito, apenas entreter e divertir um público dedicado, que cantava todas as músicas, o que tornava mais fácil a atuação.

      A roupa não era muito caprichada, pois não gastamos muito tempo preparando-a, já que tínhamos as provas próximas, mas isso não quis dizer que, por algumas horas, todos os participantes não se divertiram. Inclusive entre o público, houve um ou outro que subiu no palco no intervalo entre as apresentações para improvisar a sua música, com o mesmo sucesso que o resto.

      Naquele dia, não se falava de outra coisa na faculdade, nos parabenizavam pelos corredores, como se fôssemos heróis nos dirigindo a uma gloriosa epopeia que ficaria nos registros da história.

      Alguns zombavam da nossa imprudência, por sairmos antes das provas finais, sem nem sabermos se terminaríamos o curso naquele ano ou não, mas nenhum de nós se importava, na expectativa de que o que esperávamos fosse uma aventura memorável, como no final aconteceu, pelo menos para mim.

      Já no ônibus, comentávamos o que achávamos que iríamos encontrar, se falava desde o ponto de vista mais cultural e histórico, passando a relatar os lugares que apenas tinham interesse turístico, até chegar ao mais superficial, que se tornou o tema central do resto do caminho para o aeroporto, as garotas.

      Todos nós tínhamos uma imagem idealizada daquelas preciosas criaturas, mas a opinião de um era diferente da de outro. Havia tantas opiniões a respeito como pessoas naquele veículo, que inclusive se tivéssemos perguntado ao motorista, ele teria nos ilustrado com outra totalmente nova.

      O único que parecia ter uma ideia exata da realidade do nosso destino era o chefe da organização da viagem, já que viveu vários verões no país, ainda que no sul, nas praias, e agora íamos para a região central. Era um grande país, com muitos lugares para visitar, e onde cada um se destacava por suas características.

      Dos vinhedos do sul, junto com suas praias e aquela montanha fumegante sempre à beira de explodir, até a cidade da moda do norte e que possui um dos times de futebol mais reconhecidos do mundo, passando por inúmeras vilas e cidades com tradições seculares, algumas onde foram traçados o curso da história do país, outras que contêm a sua própria arquitetura ou uma excepcional beleza da paisagem.

      Roma, nosso destino final, descartando, em nossa escolha, Paris, Amsterdã ou Madri como cidades candidatas que se destacavam por reunir alguma das seguintes características, que tivesse uma certa tradição e uma cultura marcante e onde houvesse uma atmosfera amigável e jovem.

      Ainda que pudessem ter incluído muitos outros lugares nessa lista, a verdade era que apenas foram essas quatro possibilidades e dentre elas foi eleita Roma, uma vez que nenhum, exceto um, a conhecíamos, enquanto as demais eram vários os que tinham estado em um ou em outro lugar.

      Naquela época, não sabíamos muito bem o que iríamos enfrentar, tudo estava organizado como uma viagem de grupo, os traslados, a estadia e até a comida, e só precisávamos levar algumas liras, a moeda local, para comprar alguma lembrança.

      Para isso, vários de nós trocamos uma pequena quantia no banco antes de partir, embora houvesse quem preferisse fazê-lo no aeroporto de chegada, porque esperava que o câmbio fosse mais favorável no país de destino.

      Era uma daquelas coisas que nós, jovens, acreditávamos que, ao ganhar um pouco de dinheiro, economizando ao máximo em algumas pequenas coisas, poderíamos fundar no dia de amanhã uma grande empresa.

      Agora que me lembro que vários de meus colegas de turma foram altos executivos de grandes empresas, inclusive um deles foi diretor do FMI. (Fundo Monetário Internacional), cargo que nenhum de nós nem sonhava em alcançar, apesar da influência, do poder e do dinheiro de alguns de nossos pais. Mas, daqueles jovens impetuosos e ambiciosos, o que resta agora?

      De vez em quando, uma parte da turma se reunia para celebrar a passagem das décadas desde que nos formamos, mas desses, que eram os que tinha mais contato, não resta mais ninguém.

      Os anos atingiram a todos, apesar das grandes fortunas que alguns acumularam ou das muitas cirurgias feitas por alguns, para trocar um baço, fígado ou até o coração, tentando remediar os excessos da sua juventude, tentando enganar a morte, mas mais cedo ou mais tarde ela chega a todos nós. Não sei por que não me alcançou, talvez ainda tenha algo a fazer, mas não saberia dizer o quê.

      Agora que me lembro, conheço um amigo que após gastar a sua fortuna em doações para centros de pesquisa para que lhe buscassem uma cura para essa terrível doença que é a velhice, tudo o que conseguiu foi um solitário e frio caixão, com um metro e oitenta de comprimento por setenta de largura, em um centro experimental onde conservam o seu corpo congelado.

      Lá, permanece inerte como se estivesse dormindo profundamente, esperando que, passados uns anos, talvez umas décadas, a tecnologia avance tanto que lhe consigam reanimar para lhe conceder a tão almejada longa vida.

      Pessoalmente, e após ter sobrevivido a tanto, entendo que poucos anos já teria sido suficiente… se eu tivesse percebido o que é realmente importante.

      Tanto tempo desperdiçado buscando e desejando, sem saber o verdadeiro valor de cada instante. Muitas vezes pensei que, se tivesse uma segunda oportunidade, mudaria muito do que fiz. Não é que me arrependa, pois tenho a consciência tranquila, mas faria de outra maneira, e inclusive, em outra ordem.

      Tantas lembranças, tantas vivências e, agora, são só fotos num álbum antigo acumuladas em alguma caixa, ou algumas emolduradas e penduradas na parede à espera de que alguém venha e me pergunte sobre ela.

      Nunca fui muito bom em contar histórias, pois minha pressa sempre me aconselhava que fosse direto ao ponto, omitindo os detalhes, mas agora, mesmo que eu quisesse, esses detalhes já não existem, só as fotos e algumas anotações. O resto fica como se eu estivesse atrás de uma espessa névoa da manhã, que oculta a paisagem.

      O que me dá uma estranha sensação, as vezes de admiração e outras de impotência, sabendo que há tesouros detrás da névoa, você tem certeza de que estão lá, mas são inacessíveis.

      Minha mulher, ela sim era excepcional para recordar até os mínimos detalhes de qualquer viagem, reunião ou conversa. Era incrível a clareza com que os narrava, era como se eles estivessem a sua frente, o que lhe permitia descrevê-los.

      Ainda me surpreende quando me lembro de como ela era capaz de reconhecer pessoas que não via há anos e, simplesmente, ao vê-las, sabia perfeitamente quem era e sobre o que tinham falado da última vez.

      Uma memória prodigiosa que a permitia aprender sobre qualquer assunto, praticamente ao vê-lo uma só vez.

      Ela me dizia que isso era porque tinha uma memória fotográfica, mas eu ria dizendo que não havia nenhuma câmera, nem sequer das modernas, que pudessem gravar tantas imagens como ela.

      Ah, minha mulher! Não creio que houvesse sobre a terra um ser tão especial como ela, é uma pena que tivesse que ir tão cedo, com tanto o que nos restava compartilhar, tantas viagens por fazer… parece que foi ontem quando a encontrei pela primeira vez e por outro lado agora…

      Que estranha é a memória! Que para o que quer, lembra de tudo e no instante seguinte só fica o vazio, se pudesse apenas guardar minhas lembranças durante um momento! De que me serve tudo o que vivi se não posso recordá-lo? Menos mal que meu legado ficará em meus alunos.

      Graças a eles e aos seus filhos, tudo o que eu soube, permanecerá para as gerações futuras. De fato, me sinto satisfeito mesmo que apenas um deles possa aplicar em algo o que lhe foi ensinado e com isso melhorar a sua vida.

      Bem, que assim volto a enrolar…, menos mal que tenho aqui aberto diante de mim o meu diário de viagem para me lembrar onde estava, deixe-me ver… O que tenho anotado daquela época em meu diário?

      “23

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