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papa Pio II e apoiado pelo cardeal Trevisan, pelo arcebiso de Nazaré em Barletta, Giacomo de Aurilia, pelo arcebipso de Taranto e de muitos outros prelados, em 4 de fevereiro de 1459 d.C., com uma extravagante cerimônia na praça diante do castelo de Barletta, coroou Fernando I de Nápoles, abençoando-o no triplo título de rei da Sicília, de Jerusalém e da Hungria. O episódio e os acontecimentos dos dias seguintes à coroação foram registrados por Latino naquela página de diário estranhamente arrancada e misteriosamente desaparecida do arquivo pessoal do cardeal.

      Dom Ferrante e dom Tristano fecharam-se em conclave por mais de duas horas.

      Antes de partir, o funcionário pontifício empenhou-se para afastar o principal obstáculo diplomático às relações da Santa Sé com a corte partenopeia: fez que a secretaria real tomasse conhecimento de algumas missivas secretas, obviamente falsas, que o embaixador veneziano em Nápoles enviava ao doge. Nesses despachos, o soberano napolitano era descrito como inepto, vaidoso e libertino. A reação aragonesa foi imediata.

      Graças ao retorno do homem da Sereníssima e à pessoal estima do rei, o colóquio foi muito cordial e, ao fim, embora dom Ferrante não tivesse tomado nenhuma decisão, a Tristano pareceu que o soberano estava disposto a considerar as razões expostas e analisar o cenário proposto.

      Não se equivocou: dois dias depois, convocou o jovem pupilo do falecido cardeal Orsini e comunicou-lhe verbalmente que o Reino de Nápoles participaria da nova aliança contra Veneza. O comando seria confiado a seu filho Afonso, duque da Calábria, que também assumiu a função de capitão da liga. O acordo seria formalizado e oficializado no dia de Natal.

      Tristano estava muito satisfeito.

      Depois de uma abundante ceia de massas e doces natalícios, certamente desprezados pelos barões e demais cortesãos representantes da nobreza napolitana, o jovem decidiu retirar-se a seu apartamento para tentar relaxar, tomando um banho na banheira quente que sua majestade tão generosamente mandou preparar.

      A velha senhora que lhe havia preparado o banho, enquanto arrumava os últimos lençóis em um armário, continuava a mirá-lo fixamente, mas Tristano não lhe fez caso, pois estava imerso em seus pensamentos e questões futuras.

      – Vocês têm os mesmos olhos. Sua mãe era uma santa mulher – disse a mulher, antes de desaparecer atrás da porta do quarto.

      O sonhador voltou-se de chofre. Aquelas palavras puxaram-no de volta à realidade em um instante.

      – Espere – gritou em vão.

      Como aquela criada conhecia sua mãe? Seria possível que tivesse encontrado ou trabalhado com ela durante o período em que a jovem havia servido aquela corte? Tristano precisava saber… Saltou da banheira e, tapando-se como pôde, colocou a camisa, as calças, as botas e correu para procurá-la pelo palácio.

      Subindo ao piso de serviço, ouviu inconfundíveis gemidos humanos, alternados por murmúrios mais agudos misturados com o estalar regular de madeira queimando, vindos do quarto ao fundo das escadas.

      O confeiteiro, sublime artífice daquelas deliciosas obras de açúcar dispostas sobre a mesa de banquetes do palácio, costumava satisfazer as criadas malandras que ao fim do dia limpavam a cozinha. No entanto, naquele momento o jovem embaixador não tinha tempo para aquele tipo de espetáculo e, dando uma rápida olhadela, passou decidido adiante.

      Depois da cozinha, em um estreito corredor, entreviu metade do perfil corpulento de uma mulher, caído de costas através da porta aberta de um quarto com a lareira acesa, que iluminava o entorno como se alguém tivesse tentado mover o corpo depois de derrubá-lo. Era exatamente a senhora que Tristano procurava.

      Correu até a criada, que tinha os olhos arregalados e a boca semiaberta, e já não respirava. No chão do quarto, percebeu uma pequena pedra de um intenso azul, provavelmente parte de uma joia de lápis-lazúli similar àquelas incrustadas no adorno da arma do rival de alguns dias antes.

      Ouviu, no entanto, um barulho vindo do corredor e decidiu ir embora antes que alguém se desse conta de sua presença, dificilmente justificável naquela inconveniente situação.

      Na manhã seguinte, deixou o castelo com seu ajudante. Sob a sombra de uma torre, Pietro reconheceu, entre os capangas do duque da Calábria, um dos homens que os haviam atacado no dia da chegada e chamou a atenção de seu senhor discretamente. No entanto, dados os resultados diplomáticos alcançados e a situação ainda incerta, Tristano decidiu não dizer nada e partiu.

      Por fim, antes de dar fim à missão, na porta do estábulo onde deixaram os cavalos, Tristano percebeu um pequeno corpo maltratado que se arrastava pela rua. Era o menino que os escondeu da ameaça dos capangas de Afonso no dia anterior; não falava, estava sujo e machucado, tinha um terrível corte na perna. Fazia muito frio; Tristano levou-o para dentro e pagou a uma dona para que curasse pelo menos a lesão mais evidente. No dia seguinte, acompanhou-o até sua família, entregando-o ao irmão mais velho, que o esperava na porta. Este, agradecido, convidou o jovem diplomata a entrar em casa (ou pelo menos naquela barraca que se assemelhava um pouco a uma residência): um homem, que podia ser o pai, arranjava as provisões de grãos em uma pequena despensa, a mãe fiava a lã com uma mão enquanto embalava a pequena com a outra; uma mulher mais velha contava histórias ao resto da família sentada em um velho baú de castanheira. Diante de tão mísero quadro, Tristano aproveitou um momento de distração da mulher, quando cuidava de um caldeirão que transbordou, para deixar um florim de ouro sob a almofada de palha daquele colchão esburacado de folhas secas sobre o qual dormia uma menina rosada, ainda com sapatos de pano nos pés. Despediu-se  e partiu.

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