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mas o trânsito nessa hora do dia era intenso e, regra geral, quem fazia a viagem acabava por se irritar. Reid driblava isso com áudio livros, recentemente recomendados por sua filha mais velha. No momento, estava ouvindo O Nome da Rosa de Umberto Eco, embora naquele dia não se conseguisse concentrar na audição. Estava pensando na mensagem enigmática de Maya.

      A casa dos Lawson era uma casa de tijolos castanhos de dois andares situada em Riverdale, no extremo norte do Bronx. Ele amava o bairro bucólico e suburbano, a proximidade da cidade e da universidade, as ruas sinuosas que se abriam em largas avenidas a sul. As garotas também adoravam e se Maya fosse aceita em Columbia, ou até mesmo na safety school da Universidade de Nova York, não teria que sair de casa.

      Reid imediatamente soube que algo estava diferente quando entrou em casa. Ele podia sentir o cheiro no ar e ouviu vozes abafadas vindas da cozinha no final do corredor. Largou a bolsa e tirou silenciosamente seu casaco esportivo antes de sair sem fazer qualquer ruído do saguão.

      "O que está acontecendo aqui?" Perguntou em forma de cumprimento.

      "Oi, papai!" Sara, sua filha de quatorze anos, saltou na ponta dos pés enquanto observava Maya, sua irmã mais velha, realizar um ritual suspeito num prato de Pyrex. "Estamos fazendo o jantar!"

      "Eu estou fazendo o jantar", Maya murmurou, sem olhar para cima. "Ela só observa."

      Reid piscou os olhos surpreso. "OK. Tenho algumas perguntas." Olhou por cima do ombro de Maya enquanto ela passava algo brilhante e arroxeado em uma fileira de costeletas de porco. "A começar com... Hã?"

      Maya continuava a não desviar o seu olhar de sua tarefa. "Não me olhe daquele jeito," Disse. "Já que vão manter a obrigatoriedade do curso de gestão do lar e da comunidade, darei utilidade a isso." Finalmente, ela olhou para o pai e sorriu timidamente. "E não fique mal-acostumado."

      Reid levantou as mãos defensivamente. "De maneira nenhuma."

      Maya tinha dezesseis anos e era perigosamente esperta. Herdara claramente o intelecto da mãe; estava no último ano letivo por ter pulado a oitava série. Tinha o cabelo escuro, um sorriso pensativo e uma tendência para dramatizar. Sara, por outro lado, tinha o aspeto físico de Kate. Quando entrou na adolescência, tornou-se doloroso para Reid olhar para o rosto dela, embora nunca o demonstrasse. Também tinha o temperamento explosivo de Kate. Na maioria das vezes, Sara era uma quertida, mas de vez em quando explodia, e as consequências tendiam a ser devastadoras.

      Reid assistiu com espanto as meninas a colocarem a mesa e a servirem o jantar. "Isso parece incrível, Maya," Comentou.

      "Ah, espere. Mais uma coisa." Ela pegou algo da geladeira - uma garrafa marrom. "A belga é a sua favorita, certo?"

      Reid estreitou os olhos. "Como você…?"

      "Não se preocupe, a tia Linda comprou ela para mim." Retirou a tampa e despejou a cerveja em um copo. "Isso. Agora podemos comer."

      Reid ficou extremamente grato por ter a irmã de Kate, Linda, a poucos minutos de distância. Obter o cargo de professor associado e criar duas meninas adolescentes teria sido uma tarefa impossível sem ela. Isso fora uma das principais motivações para a mudança para Nova York, assim as garotas teriam uma influência feminina positiva por perto. (Embora tivesse que admitir que não gostou de saber que Linda comprara cerveja para a sua filha adolescente, mesmo sendo para ele beber.)

      "Maya, que maravilha," Disse depois da primeira mordida.

      "Obrigada. É um molho chipotle."

      Ele limpou a boca, pousou o guardanapo na mesa e perguntou, "Ok, estou desconfiado. O que você fez?"

      "O quê? Nada!" Ela insistiu.

      "O que você quebrou?"

      "Eu não quebrei nada..."

      "Você foi suspensa?"

      "Papai, então..."

      Reid segurou melodramaticamente a mesa com as duas mãos. "Ah Deus, não me diga que você está grávida. Eu nem tenho uma espingarda."

      Sara riu.

      "Você pode parar?" Maya bufou. "Eu sei ser legal." Comeram em silêncio por um minuto antes de ela casualmente acrescentar, "Mas já que você falou nisso..."

      "Hum. Lá vem."

      Ela aclarou a garganta e disse, "Eu meio que tenho um encontro. No Dia dos Namorados."

      Reid quase engasgou com a costeleta de porco.

      Sara sorriu. "Eu te disse que ele agiria de um jeito estranho."

      Ele se recuperou e levantou a mão. "Espere, espere. Eu não estou agindo de um jeito estranho. Eu só não pensei... Eu não sabia que você estava, ah... Você está namorando?"

      "Não," Maya disse rapidamente. Então ela encolheu os ombros e olhou para o prato. "Talvez. Eu não sei ainda. Mas ele é um cara legal e quer me levar para jantar na cidade..."

      "Na cidade," Repetiu Reid.

      "Sim, papai, na cidade. E eu preciso de um vestido. É um lugar chique. Eu não tenho nada para vestir."

      Houve muitas vezes em que Reid desejou desesperadamente que Kate estivesse ali, mas essa vez superou todas. Ele sempre presumiu que suas filhas namorariam em algum momento, mas esperava que não fosse antes dos vinte e cinco anos. Em momentos assim ele recorria ao seu acrônimo favorito para filhos, OQKD - O Que Kate Diria? Como artista, e uma pessoa de espírito decididamente livre, ela provavelmente conseguiria lidar com a situação de forma muito diferente, e ele tentava se lembrar disso.

      Ele devia parecer particularmente perturbado, porque Maya riu um pouco e colocou a mão sobre a dele. "Você está bem, pai? É apenas um encontro. Nada vai acontecer. Não é nada de especial."

      "Sim," Disse lentamente. "Você está certa. Claro que não é nada de especial. Podemos ver se a tia Linda pode levá-la ao shopping neste fim de semana e..."

      "Eu quero que você me leve."

      "Quer?"

      Ela encolheu os ombros. "Quero dizer, eu não gostaria de usar algo que você não aprovasse."

      Um vestido, um jantar no centro da cidade e um garoto... Isso era realmente diferente do que pensara ter que enfrentar.

      "Tudo bem, então," Disse ele. "Vamos no sábado. Mas tenho uma condição - eu escolho o jogo de hoje à noite."

      "Humm", Disse Maya. "Você é difícil. Deixe-me consultar a minha sócia." Maya virou-se para a irmã.

      Sara assentiu. "Tudo bem. Desde que não seja Risk. "

      Reid zombou. "Você não sabe do que está falando. Risk é o melhor."

      Depois do jantar, Sara lavou os pratos enquanto Maya fez chocolate quente. Reid preparou um dos seus jogos favoritos, Ticket to Ride, um jogo clássico sobre a construção de rotas de trem em toda a América. Quando colocou as cartas e os vagões de trem de plástico, viu-se pensando quando as coisas se haviam alterado. Quando é que Maya crescera tão rapidamente? Nos últimos dois anos, desde que Kate falecera, ele tinha desempenhado ambos os papéis (com a valiosa ajuda da tia Linda). As duas ainda precisavam dele, ou pareciam precisar, mas não demoraria muito até que fossem para a faculdade, e depois seguiriam suas carreiras, e então...

      "Papai?" Sara entrou na sala de jantar e sentou-se em frente a ele. Como se estivesse lendo sua mente, ela disse, "Não se esqueça, eu tenho um show de arte na escola na próxima quarta à noite. Você vai estar lá, certo?"

      Ele sorriu. "Claro, querida. Não perderia isso." Bateu palmas. "Então! Quem está pronto para ser demolido - quero dizer, quem está pronto para jogar um amigável jogo familiar?"

      "Pode começar, coroa," Maya anunciou da cozinha.

      "Coroa?" Reid disse indignado. "Eu tenho trinta e oito anos!"

      "Estou pronta." Riu Maya quando entrou na sala de jantar. "Ah, o jogo de trem." Seu sorriso se dissolveu em um sorriso

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