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não está minimamente nervoso?” ela perguntou.

      “Com o quê?”

      “Com tudo isto - maior salário, nova cidade, nova casa, novo estilo de vida, novas pessoas, tudo novo.”

      “Não é tudo novo”, ele lembrou. “Você já conhece o Teddy e a Melanie.”

      “Eu estive com Teddy três vezes e com Melanie uma. Eu mal conheço ele e apenas me lembro dela vagamente. Só porque seu melhor amigo do colégio mora a poucos quarteirões, não significa que, de repente, eu esteja confortável com nossa nova vida.”

      Ela sabia que estava arranjando uma discussão, mas não conseguiu se conter. Kyle não mordeu o isco. Em vez disso, ele rolou e se virou para ela, passando um dedo levemente ao longo de seu ombro direito, ao lado da longa cicatriz rosada em forma de lua, com cinco polegadas de comprimento e que ia desde seu braço até a base de seu pescoço.

      “Eu sei que você está apreensiva”, disse ele ternamente. “E você tem todos os motivos para estar. Tudo é novo. E eu sei que isso pode ser assustador. Não consigo te dizer o quanto eu aprecio o sacrifício que você está fazendo.”

      “Eu sei que vai valer a pena”, disse ela, suavizando. “Mas é muita coisa ao mesmo tempo.”

      “É por isso que encontrarmos com Teddy e Mel amanhã vai ajudar. Nós vamos restabelecer essa relação e então teremos pessoas na vizinhança com quem nos darmos quando nos estabelecermos. Até mesmo conhecer duas pessoas facilitará a transição.”

      Ele bocejou profundamente e Jessie entendeu que ele estava prestes a adormecer. Esse grande bocejo normalmente significava que ele estaria dormindo em sessenta segundos ou menos.

      “Eu sei que você tem razão”, disse ela, determinada a terminar a noite com uma boa nota. “Tenho certeza que vai ser ótimo.”

      “Vai ser”, Kyle concordou preguiçosamente. “Eu te amo.”

      “Eu também te amo”, disse Jessie, sem ter a certeza se ele a ouvira antes de adormecer.

      Ela escutava suas respirações profundas, tentando que elas a ajudassem a dormir. O silêncio era inquietante. Ela estava acostumada aos sons reconfortantes do centro da cidade enquanto adormecia.

      Ela sentia falta das buzinas dos carros lá em baixo na rua, dos gritos dos bancários bêbados a ecoarem entre os arranha-céus quando saíam dos bares, do som dos apitos dos caminhões a fazerem marcha-ré. Eles haviam servido como seu ruído branco durante anos. Agora, tudo o que ela tinha para os substituir era o zumbido suave do filtro de ar no canto do quarto.

      De vez em quando, ela pensava ouvir um rangido distante. A casa tinha mais de trinta anos, portanto era de se esperar algum ajuste ocasional. Ela tentou fazer uma série de respirações profundas e relaxantes, tanto para abafar outros sons como para relaxar. Mas um pensamento continuava a incomodá-la.

      Você tem certeza de que será ótimo por aqui?

      Ela passou a hora seguinte com sua dúvida, a afastando culposamente para longe, antes de finalmente ceder ao cansaço e se acomodar num sono intermitente.

      CAPÍTULO DOIS

      Apesar dos gritos intermináveis, Jessie tentava lutar contra a dor de cabeça que mordiscava as bordas de seu crânio. Daughton, o doce, mas incrivelmente barulhento, filho de três anos de idade de Edward e Melanie Carlisle, havia passado os últimos vinte minutos jogando um jogo chamado Explosão, que consistia basicamente em ele gritar 'boom!' o tempo todo.

      Nem Melanie ('chama-me Mel') nem Edward ('Teddy' para os amigos) pareciam incomodados com os gritos intermitentes, e, por isso, Jessie e Kyle agiam como se fosse normal também. Eles estavam sentados na sala de estar dos Carlisle, colocando os assuntos em dia, antes de uma caminhada planejada até ao porto para um brunch. Os Carlisles moravam a apenas três quarteirões de lá.

      Kyle e Teddy tinham ficado conversando lá fora na última meia hora enquanto Jessie se familiarizava novamente com Mel na cozinha. Ela apenas se lembrava dela vagamente do encontro anterior, mas apenas alguns minutos depois já havia uma boa vibração entre elas.

      “Eu teria pedido a Teddy para fazer uns grelhados, mas eu não quero que vocês fiquem doentes em sua primeira semana aqui em baixo”, Mel disse sarcasticamente. “Ficamos muito mais seguros se formos comer à beira-mar.”

      “Não é o melhor cozinheiro de todos os tempos?”, Jessie perguntou com um pequeno sorriso.

      “Digamos. Se ele se oferecer para cozinhar, finja ter uma emergência para onde ir. Porque se você comer qualquer coisa que ele tenha feito, terá realmente uma emergência em mãos.”

      “O que se passa, querida?”, Teddy perguntou quando ele e Kyle entraram. Ele era um tipo barrigudo e de aparência mole, com cabelo loiro recuado e pele pálida, que parecia que se queimaria se estivesse cinco minutos ao sol. Jessie também sentiu que sua personalidade seria muito parecida - mole e maleável. Um instinto profundo que ela não conseguia descrever, mas no qual aprendera a confiar ao longo dos anos, lhe disse que Teddy Carlisle era um homem fraco.

      “Nada, querido”, ela disse casualmente enquanto piscava o olho para Jessie. “Apenas estou dando à Jessie algumas informações essenciais sobre como sobreviver em Westport Beach.”

      “Muito bem” disse ele. “Se certifique de a avisar sobre o tráfego na Rua Jamboree e na Autoestrada Pacific Coast Highway. Pode ser um pesadelo.”

      “Essa era a próxima em minha lista”, Mel disse inocentemente quando se levantou do banco da cozinha.

      Enquanto ela se dirigia até à sala de estar para recolher do chão os brinquedos de Daughton, Jessie não pôde deixar de notar que, em sua saia de tênis e top, sua pequena estatura era toda musculosa. Seus músculos da barriga da perna eram protuberantes e seus bíceps se flexionavam de uma forma impressionante enquanto ela pegava cerca de uma dúzia de carros da Matchbox num único movimento rápido.

      Tudo nela, incluindo seu cabelo preto curto, sua energia sem limites, e sua voz projetada, era forte, de uma garota não fútil de Nova York, o que era exatamente o que ela tinha sido antes de se mudar para o oeste.

      Jessie gostou dela imediatamente, embora não conseguisse entender o que a atraía numa pessoa como Teddy. Isso a deixou ligeiramente pensativa. Jessie se orgulhava de conseguir ler as pessoas. E esse buraco em seu retrato informal de Mel era levemente inquietante.

      “Estamos prontos para ir?”, Teddy perguntou. Ele também estava vestido elegantemente com uma camisa folgada e calças brancas.

      “Pegue seu filho e estaremos todos prontos”, disse Mel bruscamente.

      Teddy, aparentemente acostumado com o tom dela, saiu para encontrar a máquina do jogo 'Explosão' sem uma palavra. Alguns segundos depois, eles ouviram gritos quando ele voltou segurando Daughton, que estava lutando poderosamente, de cabeça para baixo agarrado pelos tornozelos.

      “Pai, pare!”, o menino gritava

      “Ponha-o no chão, Edward”, disse Mel.

      “Ele respondeu”, disse Teddy enquanto punha o filho no chão. “Eu só precisava de o lembrar que esse tipo de comportamento não é correto.”

      “Mas e se ele escorregasse e batesse a cabeça?”, Mel quis saber.

      “Nesse caso ele teria aprendido uma lição valiosa”, Teddy respondeu casualmente, aparentemente não se incomodado com a perspectiva.

      Kyle riu em aprovação e só parou quando Jessie lhe lançou faíscas com os olhos. Ele tentou transformar o riso em tosse, mas já era tarde demais e ele encolheu os ombros para ela se desculpando.

      Enquanto se dirigiam para o porto, descendo o trilho bem conservado, paralelo à estrada principal, Jessie reparou na forma como ela e Kyle estavam vestidos em comparação com seus

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