ТОП просматриваемых книг сайта:
O descobrimento do Brasil por Pedro Alvares Cabral. Baldaque da Silva Antonio Arthur
Читать онлайн.Название O descobrimento do Brasil por Pedro Alvares Cabral
Год выпуска 0
isbn http://www.gutenberg.org/ebooks/35131
Автор произведения Baldaque da Silva Antonio Arthur
Жанр Зарубежная классика
Издательство Public Domain
O DESCOBRIMENTO DO BRASIL POR PEDRO ALVARES CABRAL
De Mauritania os montes, e logares,
Terra que Antheo n'hum tempo possuio,
Deixando á mão esquerda; que á direita
Não ha certeza d'outra, mas suspeita.
Sete annos e meio depois de Christovam Colombo ter demandado as Antilhas, realisou-se outra descoberta não menos importante, comprehendida no mesmo periodo iniciador das primeiras explorações maritimas que deram a conhecer praticamente a verdadeira distribuição das terras e dos mares sobre o globo.
Colombo, genovez ao serviço de Castella, descobre terra da America central; Cabral e Corte Real, portuguezes e ao serviço de Portugal, descobrem terras da America austral e septentrional; fundindo estes tres descobrimentos fundamentaes em um unico, que torna conhecido um Novo Mundo ao occidente da Europa e Africa.
Colombo encontra terra a oeste; Corte Real procura-a ao noroeste; e Cabral explora-a ao sudoeste, irradiando todos tres da parte mais avançada da Peninsula sobre o grande oceano Atlantico.
Pedro Alvares Cabral parte do Tejo, com destino á India, a 9 de março de 1500, seguindo o primeiro exemplo pratico, dado por Vasco da Gama em 1497, de cortar a linha a oeste do meridiano das Ilhas de Cabo Verde, para evitar as calmas do norte do equador e utilizar os ventos geraes, facto aproveitado e vulgarisado por todos os navegadores portuguezes que se lhe succederam; e desvia-se ainda mais para oeste, não só por vantagem da navegação, mas tambem porque pretende na passagem reconhecer os mares occidentaes, onde ha toda a probabilidade de encontrar terra; a qual realmente descobriu, avistando a 24 de abril o Monte Pascal, em terras de Vera Cruz, que abordou e de que solemnemente tomou posse em nome de El-Rei de Portugal, continuando em seguida a sua derrota para a India, depois de ter enviado para Lisboa, com a noticia d'este acontecimento, um navio que para este fim levava na expedição.
A demonstração do proposito em que ia Pedro Alvares Cabral de procurar terra ao sudoeste, em frente da Africa, faz-se hoje com toda a exactidão historica e scientifica, e fundamenta-se com documentos authenticos d'essa epocha e com resultados rigorosos deduzidos dos conhecimentos que ha sobre as tempestades, ventos e correntes maritimas do oceano Atlantico.
Tres unicas hypotheses se podem estabelecer ácerca da descoberta do Brasil por Pedro Alvares Cabral:
I. —Que os navios da expedição foram arrastados para oeste pela acção forçada e insuperavel do meio em que navegavam;
II. —Que os navios foram desviados para oeste por erro commettido na navegação;
III. —Que a expedição se dirigiu para oeste propositadamente.
Provando que as duas hypotheses I e II são destituidas de fundamento, o que chamaremos —demonstração negativa– teremos que admittir forçosamente a hypothese III; restando unicamente determinar a natureza do proposito de ir para oeste, que podia ser motivado por presupposta vantagem da navegação, proporcionando uma descoberta fortuita, ou por intenção de procurar terra a oeste, o que constituirá para o nosso caso a —demonstração positiva– do verdadeiro caracter que revestiu este descobrimento.
DEMONSTRAÇÃO NEGATIVA
I. —Que os navios da expedição foram arrastados para oeste pela acção forçada e insuperavel do meio em que navegavam.
Esta hypothese desdobra-se em duas outras:
1.ª Que os navios da expedição foram impellidos para oeste pelas correntes athmosphericas;
2.ª Que os navios da expedição foram arrastados para oeste pelas correntes maritimas.
A 1.ª hypothese é inadmissivel pelos factos e razões seguintes:
a) Não consta da descripção minuciosa d'esta viagem, feita por Pero Vaz Caminha, que ia a bordo, que depois de passadas as Ilhas de Cabo Verde sobreviesse tempestade; facto notavel que não ficaria de certo omittido na carta d'este escriptor se tivesse determinado tão inesperado acontecimento.1
b) Refere Pero de Magalhães de Gandavo, na sua Historia da Provincia de Santa Cruz, que passadas as Ilhas de Cabo Verde, foi o vento prospero até avistarem a costa d'aquella provincia.2
c) Independentemente das informaçôes authenticas d'aquella epocha, sabe-se que as tempestades da costa do Brasil, na estação do anno considerada, sopram do noroeste e do sudoeste, afastando portanto da costa para o largo em sentido contrario ao que seguiu a expedição.3
d) Para o desvio ser causado por temporal e este atirar os navios para o lado da costa, deveria a tempestade provir dos quadrantes de fóra, pelo menos comprehendida entre os rumos de NE e SE, durar alguns dias e apartar os navios; circumstancias estas que não se verificam naquella zona, nem aconteceram á expedição, visto que a frota aportou unida e completa até á costa.4
e) Não se conhece documento nem fundamento, que mencione, ou justifique, ter-se dado uma tempestade, que desviasse a expedição para oeste; mas existem duas cartas de bordo, nas quaes não se refere ter havido temporal; assim como se sabe que as condições meteorologicas d'aquella região, durante a monção do SW, são contrarias á cofirmação de tal caso de força maior; circumstancias e razões estas, todas decisivas, para pôrem de parte e não auctorizarem esta hypothese.5
A 2.ª hypothese menos se pode tambem admittir, em vista dos fundamentos seguintes:
f) Das observações astronomicas feitas em terra pelo bacharel mestre Johan, physico e cirurgião de el-rei, não resultam differenças nas situações calculadas a bordo durante a viagem e estas feitas á chegada, o que deveria succeder se houvesse corrente attendivel, e não deixaria de ser mencionado na carta que elle dirigiu a el-rei, por isso que n'ella se occupa das differenças que ha entre as derrotas estimadas pelos diversos pilotos da expedição, comparadas com a derrota por elle calculada.6
g) O grande circuito maritimo do oceano Atlantico Sul, caminha de leste para oeste ao longo do equador; inflecte para a sudoeste na altura da Ilha de Fernando de Noronha; desvia-se successivamente para o sul de Pernambuco em deante; dirigindo-se depois gradualmente para sueste e leste até ao Cabo da Boa Esperança; e corre além d'isto muito ao largo da costa oriental da America do sul; circumstancias estas que bem demonstram a nenhuma influencia que este circuito pode ter sobre a atterragem dos navios.7
h) A corrente da costa do Brasil, que se destaca d'este grande circuito, corre para SSW parallelamente á terra e a curta distancia d'ella, com pequena velocidade, não tendo acção sobre os navios senão na zona costeira, na qual a existencia da terra já está assignalada muito por fóra.8
i) Os navios da frota, que eram veleiros e de panno latino, podiam facilmente ganhar caminho para barlavento, vencendo qualquer d'estas correntes, mesmo que ellas fossem contrarias, quanto mais sendo fracas e derivando à feição, para o largo ou parallelamente à costa, se o destino da derrota, com vento prospero, vizasse unicamente a montar o Cabo da Boa Esperança para seguir para a India.9
II.—Que os navios foram desviados para oeste por erro commettido na navegação.10
Esta hypothese tambem se decompõe em duas, egualmente destituidas de fundamento:
1.ª Erro commettido no rumo ou orientação da derrota;
2.ª Erro na latitude ou na estimativa da distancia percorrida.
A
1
«… que a partida de belem como vossa alteza sabe foy segunda feira IX de março; e sabado XIIIJ do dito mez amtre as VIIJ e IX oras nos achamos amtre as canareas mais perto da gram canarea e aly amdamos todo aquelle dia em calma a vista delas obra de tres ou quatro legoas, e domingo XXIJ do dito mez, a as X oras pouco mais ou menos ouuemos vista das Ilhas do cabo verde a saber da Ilha de Sam njcolaao, segundo dito de Pero Escobar, piloto, e a noute seguymte da segunda feira lhe amanheceo se perdeo da frota Vaasco d'atayde com a sua naao sem hy auer tempo forte, nem contrairo pera poder ser. fez o capitam suas deligencias pera o achar a huumas e outras partes e nom pareçeo mays, e asy seguimos vosso caminho per este mar de comgo atãa terça feira doitauas de pascoa que foram XX dias dabril que topamos alguuns synaaes detera seemdo da dita Ilha segundo os pilotos diziam obra de bj e lx ou lxx legoas». – Carta de Pero Vaz Caminha, 1 de maio de 1500. Arch. Nac. da Torre do Tombo, gav. 8, maç. 2, n.º 8.
2
«… e havendo já um mez que hiam n'aquella volta navegando com vento prospero foram dar na costa desta Provincia». – Pero de Magalhães de Gandavo,
3
As
4
«… aly jouuemos toda aquela noute, e aa quimtafeira pola manhãa fezemos vella e segujmos direitos aa terra e os nauios pequenos diante himdo per XVIJ, XVJ, XV, XIIIJ, XIIJ, XIJ, X, e IX braças ataa mea legoa de terra onde todos lamçamos amcoras em direito da boca de huum Rio e chegariamos a esta amcorajem aas X oras pouco mais ou menos…» – Carta (citada) de Pero Vaz Caminha, 1 de maio de 1500.
5
Carta de Pero Vaz Caminha. – Carta de mestre Johan, fisico e cirugyano de El-Rei D. Manuel. – Roteiros já citados. – Effectivamente não ha nada que documente ou explique a existencia de uma tempestade, e portanto esta hypothese não tem fundamento algum, e até está banida pelos principaes e mais profundos historiadores e notaveis hydrographos. —
6
«… senor ayer segunda feria que fueron 27 de Abril descendymos en terra yo e el pyloto do capitan moor e el pyloto de Sancho de tovar e tomamos el altura del sol al medyodya e fallamos 56 grados e la sontra era septentrional per lo qual segund las reglas del estrolabio jusgamos ser afastados de la equinocial por 17 grados e per consyguiente tener el altura del polo antartico en 17 grados segund que es magnifiesto en el espera e esto es quanto alo uno por lo qual sabra vosa alteza que todos los pylotos van adyante de mi en tanto que pero escolar va adyante 150 leguas e otros mas e outros menos pero quien dyse la verdad non se puede certyficar fasta que en boa ora allegemos al cabo de boa esperança e ally sabremos quien va mas cierto ellos con la carta o yo con la carta e el estrolabio…» – Carta de mestre Johan, 1 de maio de 1500. Arch. Nac. da Torre do Tombo, Corpo Chron., parte 3.ª, maço 2, doc. n.º 2.
7
8
«
9
A expedição compunha-se ao largar de Lisboa de tres naus e dez caravellas. «
10
Vaz de Camina, qui donne beaucoup de détails sur ce voyage, n'indique nulle part ce motif (éviter les calmes de la côte d'Afrique) comme cause de la déviation dans l'O. de la route de Cabral, et nulle par non plus on ne lui voit invoquer le motif d'une tempête par 15° ou 16° de latitude pour expliquer ce grand écart de route et la découverte de la terre. Dès qu'on s'avance au S. de l'équateur, les alizés adonnent continuellement, et si l'on peut doubler la partie la plus orientale du continent, un peut au S. du cap Saint-Roque, l'on ne peut que s'éloigner de plus en plus de la côte quand on cherche à doubler le cap de Bonne-Espérance, puisque, d'un côté, les vents permettent de faire plus d'E., et que, de l'autre, la côte s'éloigne vers l'Ouest. Il est donc à peu près impossible de donner un autre motif plausible de l'arrivée de Cabral en vue de terre par 16° de latitude qu'une erreur de route commise par ce navigateur. —