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      «Não posso ter ouvido isso. Devo estar sonhando.»

      Mas agora que sua mente estava clara, o efeito da bebida tendo passado após algumas horas de sono, teve certeza de que ouvira aquilo.

      —É impossível— murmurou, tocando a campainha para chamar seu criado de quarto.

      Dali a uma hora, enquanto Vian comia o desjejum, a porta se abriu e o mordomo anunciou:

      —O Major Edward Bicester, Vossa Graça!

      O Duque empurrou o prato e olhou com alívio para seu maior amigo e confidente, que acabava de entrar.

      —Bom dia, Vian. Como é que pode estar de pé tão cedo, depois de uma noite daquelas?

      —Preciso falar com você, Eddie.

      O Major sentou-se, com cuidado, numa cadeira que o mordomo tinha puxado para ele, perguntando-lhe o que desejava tomar.

      —Conhaque, e bastante!

      Impassível, o mordomo colocou um copo ao lado dele, serviu-o generosamente, acrescentou à bebida um pouco de soda e colocou na mesa a garrafa e o sifão.

      Depois, seguindo as habituais instruções do patrão, retirou-se e fechou a porta.

      O Major tomou um gole de conhaque e disse:

      —Você está com uma aparência insultuosamente boa, depois de uma noitada como a de ontem!

      —Mas não me sinto bem!— murmurou o Duque.

      —Nem eu. Se quer saber a verdade, o vinho de Molly piora à medida que vai passando a noite. É um velho truque, do qual já devíamos desconfiar. Tenho certeza de que o vinho que nos oferecem no fim da noite não é o mesmo do princípio.

      —Isso acontece em muitas casas. Mas não mandei chamá-lo para discutir a hospitalidade de Molly. Isto é, não diretamente.

      Eddie olhou-o, apreensivo.

      —O que aconteceu?

      —Bebi demais, ontem à noite.

      —Foi o que também achei, e isso não é hábito seu, Vian. Mas, naturalmente, tinha uma desculpa para se exceder.

      —Uma desculpa idiota.

      Eddie pareceu refletir e depois disse:

      —Creio que você nunca deu um jantar tão bom, aqui, como o de ontem.

      —Não quero falar do jantar, e sim, do que aconteceu depois.

      O amigo tomou mais um gole de conhaque e perguntou:

      —O que houve?

      —Como eu estava meio alto, levei Dilys para casa. Ela tomou suas providencias para que eu a acompanhasse.

      —Já há algum tempo que está atrás de você.

      —Dilys foi muito clara. E, como eu estava no que se pode chamar de «estado de espírito recetivo», concordei com tudo o que sugeriu.

      —Ela não é apenas bonita, mas também esperta como ninguém!

      —Isso é o que me assusta: está querendo me obrigar a casar com ela.

      —Não é novidade. Todas querem casar com você. E quem pode censurá-las? Não há muitos Duques bonitos e solteiros por aí!

      —Eddie, estou falando sério.

      —A respeito de Dilys? Ninguém pode levá-la a sério.

      O Duque ficou em silêncio durante alguns momentos.

      —Para ser franco, não me lembro do que disse ontem à noite.

      —Tem muita importância?

      —Tenho a impressão de que Dilys não apenas vai se aproveitar ao máximo do que eu disse, como inventar o que eu não disse.

      O Major inclinou-se para a frente, com expressão incrédula.

      —Quer dizer que está realmente preocupado com Dilys, Vian? Deus de piedade! Com a reputação que tem, ela não pode pretender casar com um homem como você.

      —Pois bem, creio que vai tentar. E não quero um escândalo desse tipo, no momento.

      —O que está dizendo é que, apesar de sua atitude de bravata, ontem à noite, não está contente por ter sido afastado de Buckingham, assim, sem mais nem menos.

      —Se quer saber a verdade, é um fato que vai preocupar meus parentes, mais do que qualquer outra coisa que eu tenha feito até agora.

      Eddie ficou em silêncio. Ao contrário da maneira como agia em Londres, seu amigo fazia questão de ter um ótimo comportamento, quando se achava em sua mansão ancestral, em Buckinghamshire. A mãe do Duque morava em Dower House e vários parentes residiam na propriedade. Quando ia para lá, Vian era um modelo do que um aristocrata e um senhor rural devia ser.

      Eddie muitas vezes refletia sobre as duas facetas do caráter do amigo, achando que um homem muito inteligente poderia, de maneira tão astuta, manter o equilíbrio entre o que era e o que os parentes queriam que fosse.

      —Estou começando a compreender por que você bebeu tanto, ontem.

      —Foi estupidez minha— observou o Duque—, e não quero aborrecer minha mãe, que não está bem de saúde, atualmente.

      —Talvez ela não venha a saber— disse Eddie, esperançoso.

      —Uma de minhas irmãs, que não gosta de mim, é uma das damas da Rainha.

      —É verdade! Casou com aquele velho maçante, Osbome, que sempre teve inveja de você.

      —Exatamente!

      —Lamento muito, Vian. E um problema com Dilys não ia melhorar a situação.

      —Claro que não. Tenho que evitar isso. A questão é: como?

      —Está querendo saber minha opinião?

      —Foi por isso que lhe pedi que viesse aqui, numa hora que você considera indecentemente matinal.

      Eddie tomou mais um gole de conhaque.

      —Se Dilys Chertsey quer casar com você, é porque se fartou das críticas da família, assim como das censuras dos velhos pedantes e santarrões que encarara com pouco caso qualquer pessoa bonita como Dilys.

      —As mulheres nunca lutam com lealdade— observou o Duque—, e sempre vencem, no fim.

      —Creio que tem razão. E, do ponto de vista da alta sociedade, nada seria melhor para Dilys do que casar com você.

      O Duque deu um soco na mesa, fazendo com que a louça estremecesse.

      —Maldição! Não tenho vontade de casar com ninguém, muito menos com Dilys Chertsey!

      Não imaginava coisa pior do que casar com uma mulher que tivera uma legião de amantes, que iriam aparecer em qualquer lugar aonde o marido a levasse.

      O Duque não pensava seriamente em casamento, embora seus parentes, e principalmente a mãe, lhe pedissem constantemente que providenciasse um herdeiro.

      Tivera um caso infeliz, quando era muito moço, que fizera com que acreditasse que todas as mulheres que dele se aproximavam com ideia de casamento estavam interessadas apenas em seu título.

      Provavelmente, isso era inevitável com homens de sua posição social.

      Ao mesmo tempo, sentia horror a um casamento frio, arranjado, com uma mulher que o aborreceria até mesmo antes de ir com ela para a cama, e mais ainda depois que fosse!

      Embora jamais tivesse dito isso, estava decidido a casar por amor, ou, na pior das hipóteses, quando se convencesse de que a escolhida estava apaixonada por ele.

      Depois, com cinismo, perguntava a si mesmo como poderia ter certeza de que ela o considerava mais como homem do que como Duque,

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