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Dar-lhe-ia até às sete e dez, depois abortaria a missão.

      Abanou a cabeça. Abortar a missão? Que tipo de linguagem era aquela? Começava a soar cada vez mais como Mona. Qualquer pessoa pensaria que se tratava de uma missão militar.

      Ligou o rádio com uma mão enluvada.

      Talvez se tratasse a situação como uma campanha militar, pudesse sair, se não triunfadora, pelo menos com o coração e a dignidade intactos. Se deixasse que Nick atravessasse as suas defesas, teriam de pegar nos seus pedacinhos para a reconstruírem. Nunca mais seria a mesma.

      O único problema era que não sabia nada sobre guerra.

      Só recordava alguns filmes da Segunda Guerra Mundial e coisas que o seu avô costumava dizer.

      «Conhece o teu inimigo».

      Isso era fácil. Conhecia Nick de cor. Embora isso não ajudasse muito, pois quanto mais pensava nele, mais se derretia.

      «Mantém sempre o elemento surpresa».

      Sorriu e acariciou o volante. Nick ia subir pelas paredes quando visse o seu carro.

      Estava na hora de Nick provar o seu próprio veneno. Esfregou as mãos. Gostou de se sentir má.

      Eram sete e nove… e quarenta segundos… quarenta e cinco. Virou a chave na ignição.

      Então, Nick saiu de casa com uma mala de viagem e uma mochila pequena. Ainda não a vira. Um sujeito robusto entregou-lhe o que parecia um saco desportivo. Nick deu-lhe uma palmada nas costas e sorriu.

      Nesse momento, o sorriso evaporou-se da cara de Adele. Algo loiro e magro correu até ao caminho da casa, rodeou o pescoço de Nick com os braços e deu-lhe um beijo na face. Adele resmungou e subitamente parou, surpreendida consigo mesma.

      Alguns segundos mais tarde, o que não demoraria a ser o seu ex-marido, descia pelo atalho do jardim e olhava para um lado e para o outro da rua. Adele desceu o vidro e cumprimentou-o. Ele devolveu-lhe o gesto… e fez uma careta.

      Recomeçou a andar com uma expressão pouco feliz.

      – Adele! O que fizeste com o carro?

      – Chiu! São sete da manhã.

      – Eu sei que horas são. Quero saber o que fizeste com o meu carro!

      – O nosso carro… Vendi-o.

      – Tu… tu…

      Olhou para o céu, depois apertou os lábios com força e abanou a cabeça. Abriu o porta-bagagem e pôs as suas coisas lá dentro. Uma das malas produziu um ruído metálico, o que era um pouco estranho, porém, Adele não parou para pensar nisso. Tinha coisas mais urgentes que requeriam a sua atenção.

      Nick sentou-se ao seu lado, fechou a porta com força e olhou para ela.

      – E então?

      – Já não precisávamos daquela coisa tão grande. Não é prática para a cidade.

      Pareceu-lhe que Nick ia ter uma apoplexia. Adele engoliu em seco e pensou que talvez se tivesse excedido um pouco.

      Vender o todo-o-terreno fora a única vingança que tivera ao alcance da mão. Quisera rasgar as suas camisas em farrapos, mas não conseguira convencer-se a pôr o plano em prática. Ainda cheiravam a ele.

      – Precisava de algo mais pequeno, prático… um utilitário.

      Ele carregou num botão do tablier. Não aconteceu nada.

      – Eu diria que é sucata – murmurou. – Se foi isto que conseguiste pelo dinheiro que devias ter lucrado com o meu Jipe, então foste enganada.

      Ela olhou para ele de esguelha.

      – Não sou estúpida. Não gastei o dinheiro todo no carro. Sou perfeitamente capaz de comprar um carro sem os teus conselhos.

      Ele suspirou.

      – Adele, o teu segundo nome é «capaz». Porque haveria de pensar que alguma vez poderias precisar de mim para alguma coisa?

      – Não sejas ridículo – Nick virou-se para pôr o cinto de segurança e ela imitou-o. – Suponho que gostarias que eu fosse parecida com a loirinha, que me atirasse para os teus braços e te adorasse. Anda sempre pela rua com um top e uns calçõezinhos? Deve ser muito resistente ao frio.

      Os lábios de Nick permaneceram fechados enquanto sorria.

      – É sueca. Está habituada ao frio.

      Adele pôs a mudança e olhou pelo retrovisor, carrancuda.

      – Claro que às vezes se esquece de vestir o casaco – acrescentou.

      Adele puxou o travão de mão.

      Nick riu-se.

      – Estou a brincar, Adele. Anima-te. Temos uma longa viagem pela frente. Pensei que podíamos parar nas Terras Altas escocesas para comer. Até então, mantenhamos uma conversa agradável.

      – Tu falas. Eu conduzo.

      – Está bem. E do que conversamos? Já sei. Voltando à tua anterior conversa, pelo menos havia uma coisa para a qual precisavas de mim. E, se bem me lembro, às vezes até suplicavas.

      Adele encurvou-se sobre o volante e ficou em silêncio. Àquele ritmo, Nick teria sorte se chegasse com vida ao almoço.

      Capítulo 4

      Nick procurava algo na mochila que tinha aos seus pés. Ela olhou para ele de esguelha e suspirou. Tinha um dos seus aparelhos na mão, provavelmente o iPod, o que lhe daria alguns momentos de paz.

      No entanto, para sua grande irritação, começou a teclar num aparelho grande.

      – O que raios estás a tramar?

      Nick simplesmente sorriu.

      – Espera e verás. Vais adorar.

      Continuou a conduzir com o olhar cravado na estrada. Quando teve a oportunidade de voltar a olhar, Nick estava curvado sobre o artefacto, a carregar em botões numa rápida sucessão. Como resposta, obteve um assobio. Então, estendeu a mão e pô-lo num suporte que pusera no pára-brisas.

      – Navegação por satélite – anunciou orgulhoso.

      Ela revirou os olhos e concentrou-se em manter-se a uma distância prudente do carro que estava à sua frente.

      – Devia imaginar que acabarias por adquirir um arsenal de artefactos que pensassem por ti, especialmente agora que não estou ao teu lado.

      – Estás sentada à minha esquerda. Estás ao meu lado.

      – Sabes a que me refiro. És um homem típico. Deus nos livre que tenhas de consultar um verdadeiro mapa de estradas.

      – Adele, nunca deixarias que me aproximasse mais de três metros do mapa. Reconhece, querida, tu não gostas de entregar o controlo.

      – Isso não é verdade. Simplesmente, gosto de ter alguma coisa para fazer em viagens longas – olhou para o aparelho com os olhos brilhantes. – O que acontece se essa coisa fizer com que nos percamos?

      Nick chegou-se para trás e esticou as pernas.

      – Impossível. Isto é óptimo. A informação está sempre ao alcance da tua mão. Localiza exactamente onde te encontras, dia e noite.

      Deixou de olhar para ele, carrancuda, e estudou o visor. Perguntou-se se não devia experimentar.

      – Nunca se engana?

      Nick encolheu os ombros.

      – É uma máquina. Tem os seus momentos, porém, geralmente, é tão precisa como tu serias. Praticamente perfeita.

      Adele suspirou. Perfeita. Começava a odiar aquela palavra.

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