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farei que as próprias pedras se reunam em muralhas à magia do meu cantar. E dentro dessas muralhas esconderemos nossa tribo.

      60 Minha mão escreveu a respeito deste livro que “não tinha e não tem nenhuma intenção de o publicar”. Jornal do Comércio, 6 de Junho. Leia frase de Gourmont sobre contradição: 1º volume das Promenades Littéraires. Rui Barbosa tem sobre ela página lindíssima, não me recordo onde. Há umas palavras também em João Cocteau, La Noce Massacrée.

      61 Mas todo este prefácio, com todo o disparate das teorias que contém, não vale coisíssima nenhuma. Quando escrevi Paulicéia Desvairada não pensei em nada disto. Garanto porém que chorei, que cantei, que ri, que berrei Eu vivo!

      62 Aliás versos não se escrevem para leitura de olhos mudos. Versos cantam-se, urram-se, choram-se. Quem não souber cantar não leia Paisagem n.° 1. Quem não souber urrar não leia Ode ao Burguês. Quem não souber rezar, não leia Religião. Desprezar: A Escalada. Sofrer: Colloque Sentimental. Perdoar: a cantiga do berço, um dos solos de Minha Loucura, das Enfibraturas do Ipiranga. Não continuo. Repugna-me dar a chave de meu livro. Quem for como eu tem essa chave.

      63 E está acabada a escola poética. “Desvairismo”.

      64 Próximo livro fundarei outra.

      65 E não quero discípulos. Em arte: escola = imbecilidade de muitos para vaidade dum só.

      66 Poderia ter citado Gorch Fock. Evitava o Prefácio Interessantíssimo. “Toda canção de liberdade vem do cárcere”.

      Inspiração

      "Onde ate na força do verão havia

      tempestades de ventos e frios de crudelíssimos inverno”

      Fr. Luis de Sousa

      São Paulo! comoção de minha vida...

      Os meus amores são flores feitas de original!...

      Arlequinal!... Trajes de losangos... Cinza e ouro...

      Luz e bruma... Forno e inverno morno...

      Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...

      Perfumes de Paris... Arys!

      Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!...

      São Paulo! comoção de minha vida...

      Galicismo a berrar nos desertos da América.

      O trovador

      Sentimentos em mim do asperamente

      dos homens das primeiras eras...

      As primaveras de sarcasmo

      intermitentemente no meu coração arlequinal...

      Intermitentemente...

      Outras vezes é um doente, um frio

      na minha alma doente como um longo som redondo...

      Cantabona! Cantabona!

      Dlorom...

      Sou um tupi tangendo um alaúde!

      Os Cortejos

      Monotonias das minhas retinas...

      Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...

      Todos os sempres das minhas visões! "Bon giorno, caro".

      Horríveis as cidades!

      Vaidades e mais vaidades...

      Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!

      Oh! os tumultuários das ausências!

      Paulicéia — a grande boca de mil dentes;

      e os jorros dentre a língua trissulca

      de pus e de mais pus de distinção...

      Giram homens fracos, baixos, magros...

      Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...

      Estes homens de São Paulo,

      todos iguais e desiguais,

      quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos,

      parecem-me uns macacos, uns macacos.

      A escalada

      (Maçonariamente.)

      — Alcantilações!... Ladeiras sem conto!...

      Estas cruzes, estas crucificações da honra!...

      — Não há ponto final no morro das ambições.

      As bebedeiras do vinho dos aplaudires...

      Champanhações... Cospe os fardos!

      (São Paulo é trono.) — E as imensidões das escadarias!...

      — Queres te assentar no píncaro mais alto? Catedral?...

      — Estas cadeias da virtude!.;.

      — Tripinga-te! (Os empurrões dos braços em segredo.)

      Principiarás escravo, irás a Chico-Rei!

      (Há fita de série no Colombo,

      O Empurrão na Escuridão. Film nacional.)

      — Adeus lírios de Cubatão para os que andam sozinhos!

      (Sono tré tustune per i ragazzini.)

      — Estes mil quilos da crença!...

      — Tripinga-te. Alcançarás o sólio e o sol sonante!

      Cospe os fardos! Cospe os fardos!

      Vê que facilidade as tais asas?

      (Toca a banda do Fieramosca: Pa, pa, pa, pum!

      Toca a banda da polícia: ta, ra, ta, tchim!)

      És rei! Olha o rei nu!

      Que é dos teus fardos, Hermes Pança?!

      — Deixei-os lá nas margens das escadarias,

      Onde nas violetas corria o rio dos olhos de minha mãe.

      — Sossega. És rico, és grandíssimo, és monarca!

      Alguém agora t'os virá trazer.

      (E ei-lo na curul do vesgo Olho-na-Treva.)

      Rua de São Bento

      Triângulo.

      Há navios de vela para os meus naufrágios!

      E os cantares da uiara rua de São Bento...

      Entre estas duas ondas plúmbeas de casas plúmbeas, as minhas delícias das asfixias da alma!

      Há leilão. Há feira de carnes brancas. Pobres arrozais! Pobres brisas sem pelúcias lisas a alisar!

      A cainçalha... A Bolsa... As jogatinas...

      Não tenho navios de vela para mais naufrágios! Faltam-me as forças! Falta-me o ar!

      Mas qual! Não há sequer um porto morto!

      “Can you dance the tarantella” — “Ach! Ya”.

      São as califómias duma vida milionária

      numa cidade arlequinal...

      O Clube Comercial... A Padaria Espiritual...

      Mas a desilusão dos sombrais amorosos

      põe majoration temporaire, 100% nt!...

      Minha Loucura, acalma-te!

      Veste o water-proof dos tambéns!

      Nem chegarás tão cedo

      à fábrica de tecidos dos teus êxtases:

      telefone:

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