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Ren balançou a cadeira para trás e para a frente, começando a ficar intrigado com todo aquele mistério. “E eu que pensava que eu é que era o antissocial de nós os dois” – apontou Ren. “Estás a planear desaparecer?” Era suposto ser uma piada, mas quando notou a hesitação de Storm, parou de balançar a cadeira.

      Storm esfregou o pescoço, tentando ser cuidadoso com as palavras: “Sou um viajante no tempo nesta dimensão, mas se houver uma zona em que as paredes dimensionais tenham sido estreitadas ou rompidas, elas rejeitam o meu poder.” Isto era um eufemismo.

      A leitura de Storm tinha-se tornado uma ciência para ele e Ren percebeu subitamente a razão pela qual Storm não sabia quem venceria a batalha. “Estou a seguir-te, para já” – disse.

      Storm dirigiu-se à enorme janela virada para o mar e bateu no vidro. “Este vidro é mais do que à prova de bala.” Suspirou enquanto se virava e encostava a ele. “Mas não é à prova de maldade.” Ele acenou a cabeça na direção do sofá de onde tinha acabado de sair e sussurrou palavras há muito esquecidas pela história.

      Ren inquietou-se quando o teto e o chão se acenderam num vasto círculo que abrangia todo o lado direito da sala, com o sofá mesmo no centro. Até via as paredes de barreira luminescentes a fazer a ligação entre o círculo do teto e o círculo do chão.

      “O que é isso?” – tentou disfarçar o assombro na sua voz, mas falhou miseravelmente.

      “Em termos leigos…é uma armadilha de demónios.” Storm respondeu aproveitando o facto de ter oficialmente surpreendido Ren, o que era algo difícil de conseguir. “Vai lá…passa através da barreira. Não te vai magoar.”

      Ren esticou o braço, mas parou antes de tocar nela. “Devo esperar um visitante demoníaco?”

      Storm inclinou a cabeça – “Deixa-me lembrar-te de uma coisa. Se um filho dos caídos se aproximar de ti, és tu que te transformas no demónio.” Ele baixou a voz, tornando-a arrepiante ao dizer “o demónio”. Ele e Ren não estavam bem de acordo sobre esse assunto. Ren ainda tinha preconceitos em relação a tudo o que não compreendesse.

      Ren deu um passo atrás enquanto pensava no que Storm acabara de dizer. Até demorou alguns segundos a pensar numa boa resposta para lhe dar. “Pelo menos serei eu a saber onde está a chave da jaula. A questão é: como é que os ponho lá dentro? Ponho biscoitos de demónio no sofá?”

      Storm sorriu e empurrou Ren na direção do círculo.

      Ren girou e voltou a vir na direção de Storm, mas foi de encontro a algo que lhe parecera gelo. Recuando, colocou as mãos de encontro à barreira e piscou os olhos ao ver as paredes ondular na zona em que lhes tocava, como se a superfície da barreira fosse feita de água.

      Sacudindo-a outra vez, grunhiu para Storm: “Não sou um demónio!”

      Storm levantou uma sobrancelha. “Bom, ainda bem que tivemos este momento.”

      Ren sacudiu a parede de…o que quer que fosse.

      “Relaxa, eu afinei o feitiço o suficiente para que ele prenda tudo o que não seja humano e como tu és um súcubo e eu estou dentro to alcance…” – sorriu outra vez, sabendo que esta era uma lição que Ren precisava de aprender – “A não ser que me queiras chamar um demónio?”

      “Entendido. Empurrar a coisa para o círculo e não entrar na minha própria armadilha. Agora deixa-me sair.”

      Storm repetiu o feitiço, praticamente da mesma forma como tinha feito da primeira vez, mas com duas sílabas diferentes.

      Ren aprendia rapidamente e já tinha memorizado ambos os feitiços antes de voltar à segurança da sua secretária. O silêncio prolongou-se até Storm ter percebido que o humor do momento anterior se tinha desvanecido e só aí voltou a falar.

      “Este castelo costumava estar na Escócia. Trouxe-o para aqui, tijolo a tijolo, e reconstruído durante a corrida por terra, mas as atualizações são mais recentes. Há armadilhas de demónios em quase todas as divisões e só tu é que as podes acionar.”

      “É lindíssimo” – assentiu Ren, perguntando-se onde é que Ren quereria chegar. Por vezes, as histórias dele eram mais longas que as de um velhote, à medida que ele começava a deambular pelas suas memórias intemporais. Era-lhe permitido falar sobre o passado o quanto quisesse, mas era perigoso para ele divulgar algo sobre o futuro.

      Uma vez tinha perguntado a Storm porque é que ele não passava o seu tempo a voltar atrás no tempo e corrigir todos os erros da humanidade, como eliminar Hitler. Tinha sido aí que Ren lhe tinha revelado que os seus poderes tinham limites. E alterar a história humana era um deles.

      “Este castelo foi um presente de casamento para um amigo muito próximo.” Storm olhou pela janela que abarcava a vista da terra descampada a cair no mar. Era verdadeiramente arrebatadora. Ele engoliu em seco, afastando aquela memória assombrosa por agora.

      Olhando para trás para Ren, Storm perceber que, pelo menos desta vez, alguém para além dele precisava de ter uma ideia do que estava para vir. Já que o poder dele implicava regras irritantes que o impediam de o ver algumas das coisas mais importantes e o proibiam de manipular os assuntos do coração, ele teria de arranjar um motivo muito bom para que Ren quisesse ficar.

      Já sentia a dor a perfurar-lhe a mente por causa das regras que estava prestes a quebrar, mas ignorou-a.

      “Este castelo não vai ficar aqui muito mais tempo, a não ser que eu consiga mudar o futuro.” A sua voz assumiu o tom de raiva que sentia enquanto combatia a dor. “Antes de ter decidido trazer-te aqui, fui ao futuro várias vezes, apenas daqui a uns anos. Em todas as vezes encontrei um resultado diferente e isso deve-se a um desvio dimensional, ou vários, a acontecer aqui mesmo, em LA.”

      Storm limpou o sangue que lhe começava a pingar dos olhos e do nariz. “Da última vez que vir até aqui a pé, parte do castelo tinha colapsado e as paredes que tinham resistido tinham sangue seco pelo sol, embutido no tijolo.”

      “Cala-te” – Ren olhara para ele e não gostara da forma como a cor se tinha esvaído do seu rosto quando o sangramento começara. Storm sempre tinha feito piadas sobre não poder contar a ninguém o seu futuro. Dizia que isso o mataria, mas Ren não achava graça nenhuma a esse cenário, já que era verdade. “Já percebi a ideia geral, o resto vou descobrir por mim mesmo.”

      Storm inclinou-se para trás na cadeira que apoiava a sua cabeça – “Estou a tentar equilibrar as probabilidades, elevando LA tanto quanto possível.”

      Ren levantou-se e contornou a secretária, agarrando o ombro de Storm e, num instante, eles estavam de volta à ilha. “Se alguma vez voltares a tentar contar-me o futuro, vou dar-te uma coça.”

      Quando Storm se voltou a equilibrar e perceber onde estava, já Ren tinha desaparecido. Sentindo a dor de cabeça lancinante, que provavelmente iria durar dias, sorriu, pois sabia que tinha valido a pena. Ren já estava a postos e, agora que Angelica estava dentro dos limites da cidade, ela poderia extrair outro poder oculto que poderia virar completamente o jogo a favor deles. Precisavam dos deuses do seu lado.

      *****

      Ren passara a última semana a mapear a cidade caminhando pelas ruas. Sabia, pelos documentos que tinha transferido da PIT, onde estavam alguns dos não humanos, mas enquanto caminhava ou conduzia a sua mota, conseguia pressentir poderes que não pertenciam às coisas daquela lista.

      Virou-se para o enorme ecrã que cobria uma das paredes do escritório, abrindo o mapa de grelha sobre ele e inclinando-se para trás na cadeira por trás da secretária. Para qualquer outra pessoa, o mapa poderia fazer lembrar uma decoração natalícia, já que estava repleto de pioneses com luzes coloridas.

      Eram as cores que ele estava a estudar agora. Conseguia ver exatamente onde estavam os metamórficos. Até tinha visitado o Moon Dance e o Night Light. O canto do seu lábio estremeceu com a recordação. Tinha cometido o erro de pedir um Heat e tudo tinha corrido bem, até decidir terminar a noite e voltar para casa. Quando vinha a meio do caminho, já estava bem fora do alcance dos metamórficos, mas completamente bêbado.

      O

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