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pedaços inteiros tinham sido arrancados. Longas marcas de garras cobriam a pouca carne que restava e os ossos estavam expostos, alguns deles partidos e espetados para fora.

      As órbitas oculares também eram aterradoras, os olhos tinham sido arrancados. Parte do escalpe tinha sido arrancado e crânio tinha sido perfurado, com matéria cerebral ainda a escorrer lentamente pelo buraco. A boca tinha sido escancarada e deixada assim, tendo a língua sido devorada.

      Grandes pedaços tinham sido puxados para fora do corpo e o estômago estava aberto. Angelica afastou-se da cena e cobriu a boca com uma mão para evitar a náusea. Não estava a ajudar.

      “Pobre coitado” – sussurrou Zachary, ajoelhando-se junto do rapaz. Esta última semana tinha passado a voar com um frenesim de atividade demoníaca e ao que parecia, não estava prestes a abrandar tão cedo. “Qual é o termo oficial?”

      “A polícia diz que foi um ataque animal.” Respondeu Chad.

      Angelica abanou a cabeça. “Não foi um animal que fez isto” – retorquiu ela de forma áspera e dirigiu-se de volta ao carro. “Foi o túmulo.”

      Zachary sacudiu a memória e tirou os olhos do mapa para olhar para Angelica. “O que queres dizer com isso, foi o túmulo?”

      Angelica tinha uma expressão fechada – “Foi só isso que consegui sentir do corpo. Os ferimentos são quase demasiado antigos para eu conseguir detetar. Não sei como descrever melhor do que dizendo que foi o túmulo que o matou.”

      Zachary afastou-se do mapa e foi até ao seu portátil que estava pousado na mesa do café. Fazendo ligação à PIT, enviou uma mensagem a Storm documentando os últimos acontecimentos. A sua resposta foi imediata.

      “Parece que o Storm está a chamar os melhores jogadores da PIT.” Zachary informou os outros e fez uma pausa antes de olhar de novo para os colegas. “Ele chamou o famoso Ren, ele já está aqui.”

      Trevor estremeceu visivelmente com a referência ao nome de Ren. Ren fora sempre o fantasma do grupo, mais uma lenda do que uma pessoa real, pois Storm fora o único com quem se encontrara. Uma vez, perguntara a Storm quem era o membro mais poderoso da PIT e Storm nem sequer hesitara na sua resposta. Mas se Storm ia enviar o seu segundo homem no comando, isso significava que iria enviar um exército logo a seguir.

      Zachary e Trevor ambos sabiam o que isso queria dizer – a guerra ia começar.

      Capítulo 3

      Durante a sua adolescência, Ren tinha adquirido o hábito de aceder à base de dados da Equipa de Investigação Paranormal para se manter a par dos últimos acontecimentos. Também era suficientemente inteligente para depois destruir o computador que utilizasse para que não pudesse ser rastreado até ele. Era empolgante violar as firewalls definidas numa divisão do governo que supostamente nem existia.

      A equipa de investigação paranormal, também conhecida como P.I.T., sabia que Ren seguia as suas missões e subtraía as suas informações encriptadas, mas até ao momento nunca o tinham apanhado e nunca tinham encontrado uma firewall suficientemente resistente para o manter afastado do seu sistema privado. Ren não só lhes roubava dados, mas ainda deixava para trás informações das suas próprias investigações paranormais.

      Ao fim de vários anos, o diretor da PIT tinha começado a deixar mensagens a Ren por trás das mais resistentes e encriptadas firewalls que ele já tinha visto. Foi por trás dessas barreiras que Ren se juntou secretamente ao esquivo grupo da PIT, mas apenas nos seus próprios termos: que ele pudesse trabalhar sozinho.

      Quem quer que fosse que estivesse por trás dessa barreira não só sabia o seu nome, como também mais algumas coisas sobre ele que mais ninguém sabia. Como o facto de ele não ser totalmente humano. Só quando ele enfrentou um demónio de nível sete que começara um culto carnívoro no Congo e ficou gravemente ferido é que o diretor da PIT o descobriu.

      Ren estava a meio de um combate com o demónio e praticamente a ser derrotado, quando uma mão lhe agarrou o ombro. Quando deu por si, estava numa pequena ilha privada no meio do oceano. Ren virara-se para ficar frente a frente com o homem por trás das barreiras encriptadas – Storm.

      Ren sacudiu a cabeça ao lembrar-se desses primeiros momentos. Storm tinha todo o aspeto de um cantor de banda de rock dos anos 80, não da grande mente por trás do grupo de pessoas mais secreto do mundo.

      Storm apenas sorrira e removera a mão que ainda lhe agarrava o ombro. “Estás a tentar reformar-te da PIT da forma mais dura e rápida? Porque é que não ficas por lá mais um pouco? Não gostava nada de perder o meu melhor amigo antes mesmo de termos a oportunidade de nos tornarmos amigos.”

      “O quê?” Ren encolheu-se, levando a mão ao peito onde o demónio tinha tentado arrancar o seu coração.

      “Desculpa”, suspirou Storm esticando-se novamente na direção dele. Subitamente, estavam nas instalações metade subterrâneas, metade subaquáticas que estavam ocultas nas profundezas da ilha. “Não há aqui ninguém com o poder de curar, mas posso sempre levar-te a alguém que o consiga fazer, se preferires.”

      “Não”, rosnou Ren. “Se me deres agulha e uma linha, acho que consigo ficar num sítio só durante uns minutos.” Inclinou-se sobre um armário, tentando manter-se fora do alcance de Storm. “E se me tocares outra vez, vais ficar sem a mão.”

      Storm riu-se e abriu um dos armários superiores, acenando com a mão para mostrar todos os suprimentos médicos. O seu sorriso desvaneceu quanto Ren desapertou a camisa e Storm viu os golpes profundos que o demónio tinha feito. Mais alguns segundos e Ren teria sucumbido.

      “Acho que, como tens um fetiche por demónios, poderás ter de aprender um pouco sobre eles antes de desafiares um deles para lutar.” Storm desviou o olhar das marcas das garras, já sabia qual seria o aspeto das marcas. Já conhecia Ren há muito tempo. Aquela amizade ainda não estava formada.

      Ren esticou o braço para o armário aberto e agarrou no que parecia um kit de pontos esterilizado, depois dirigiu-se ao espelho pendurado na parede. “Se conheceres um demónio, é como se já os tivesses conhecido a todos, certo?” Não conseguia disfarçar o sarcasmo na sua voz enquanto tentava mentalmente bloquear a dor. Não estava a funcionar.

      “Errado.” Storm corrigiu-o – “Só sabes aquilo que eu permiti que fosse carregado na base de dados.” Sentou-se na cama de hospital que estava no meio da divisão.

      Ren olhou pelo espelho para o homem atrás dele. As coisas ocultas naquela base de dados eram o suficiente para incendiar o mundo, ao ponto da mera existência dessa base de dados ser um perigo. Era difícil de acreditar que ainda pudesse haver mais. Mas ele também sabia de algumas coisas que nem sequer estavam na base de dados.

      “Estou a ouvir.” E ele ouviu, durante semanas.

      O Storm estava certo em manter a informação que tinha partilhado fora dos arquivos, pelas mesmas razões que levavam o Vaticano a manter arquivos em cofres secretos. Se algumas destas informações chegassem à população normal, seria o fim do mundo como o conhecemos.

      Ren sabia, sem sombra de dúvidas, que ele ainda estava a reter informações porque, quaisquer que fossem os deuses que lhe tinham dado o poder de saltar através do tempo e do espaço, também tinham garantido que seria perigoso para ele contar a alguém o que quer que fosse para além do momento presente. Podia ser o melhor professor de história do mundo. Mas se Storm tentasse contar a alguém sobre o futuro, isso poderia romper o vínculo espaço-tempo…e o vínculo era o próprio Storm.

      Também estava certo em relação à sua amizade. Eles tornaram-se amigos desde o primeiro dia e isso já era muito, tendo em conta que nenhum deles confiava em ninguém. A verdade é que eram muito parecidos em vários aspetos.

      O pequeno refúgio de Storm na ilha era, na verdade, proveniente do passado, mas Storm dera-lhe todos os confortos de uma mansão moderna e base futurista. Um lado do edifício dava a Ren a sensação de estar num enorme aquário, enquanto o outro lado estava embutido na rocha robusta que rodeava a ilha. A maior vantagem do local era o isolamento completo. Este era o único local onde Ren podia vir em que nada

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