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      Ela estremeceu ligeiramente, depois disse a Trudy, “Vou voltar para o dormitório. Preciso de dormir. Queres vir comigo?”

      Trudy abanou a cabeça.

      “Quero ficar aqui por um bocado,” Disse ela.

      Riley levantou-se e deu um abraço rápido a Trudy. Então esvaziou o tabuleiro do pequeno-almoço e saiu da associação de estudantes. O caminho até ao dormitório era curto e ela estava aliviada por não ver jornalistas à vista. Quando chegou à porta de entrada do dormitório, parou por um momento. Ocorrera-lhe porque é que Trudy não quisera ir com ela. Não estava preparada para enfrentar o dormitório outra vez.

      Em frente à porta, também Riley se sentiu estranha. É claro que passara ali a noite. Vivia ali.

      Mas tendo passado algum tempo no exterior onde fora declarado o regresso à normalidade, fê-la questionar-se se estaria preparada para regressar ao edifício onde Rhea fora assassinada.

      Respirou fundo e entrou.

      A princípio pensou que estava bem. Mas à medida que continuou a caminhar pelo corredor, uma sensação de estranheza aprofundou-se. Riley tinha a sensação de estar a caminhar e a mover-se debaixo de água. Dirigiu-se logo para o seu quarto e estava prestes a abrir a porta quando se sentiu atraída pelo quarto mais ao fundo do corredor, o quarto que Rhea e Heather tinham partilhado.

      Foi até lá e viu que a porta estava fechada e selada com fita da polícia.

      Riley ficou ali a sentir uma súbita e horrível curiosidade.

      Qual o aspeto do quarto agora?

      Teria o quarto sido limpo desde a última vez que o vira?

      Ou o sangue da Rhea ainda lá estava?

      Riley foi tomada de uma terrível tentação – ignorar a fita, abrir aquela porta e entrar naquele quarto.

      Mas ela sabia bem que não podia ceder a essa tentação. E é claro que a porta estava trancada.

      Mas ainda assim…

      Porque é que sinto isto?

      Ficou ali tentando entender aquela necessidade misteriosa. Começou a perceber – estava relacionada com o próprio assassino.

      Não conseguia evitar pensar…

      Se eu abrir aquela porta, conseguirei entrar na sua mente.

      É claro que não fazia sentido.

      E era uma ideia aterradora – entrar numa mente maligna.

      Porquê? Continuava a questionar-se.

      Porque é que ela queria entender o assassino?

      Porque é que ela sentia uma curiosidade tão pouco natural?

      Pela primeira vez desde que aquilo acontecera, Riley sentiu medo…

      … não por ela, mas medo dela própria.

      CAPÍTULO SEIS

      Na segunda-feira de manhã seguinte, Riley sentia-se profundamnete desconfortável ao sentar-se para assistir à aula de psicologia.

      Era, no final de contas, a primeira aula a que assistia depois da morte de Rhea quatro dias antes.

      Também era a aula para a qual tentara estudar antes de ela e as amigas terem ido ao Centaur’s Den.

      Havia pouca gente na aula – muitos alunos em Lanton ainda não se sentiam preparados para regressar aos estudos. Trudy também lá estava, mas Riley sabia que a sua companheira de quarto também se sentia desconfortável com aquela pressa para regressar à “normalidade”. Os outros alunos estavam todos invulgarmente silenciosos nos seus lugares.

      Ao ver o Professor Brant Hayman a entrar na sala, Riley ficou mais tranquila. Era jovem e muito bem-parecido. Ela lembrava-se da Trudy dizer a Rhea…

      “A Riley gosta de impressionar o Professor Hayman. Tem um fraquinho por ele.”

      Riley encolheu-se perante aquela memória.

      Obviamente que não queria pensar que tinha um “fraquinho” por ele.

      A questão é que ela estudara com ele quando era caloira. Ele ainda não era Professor, apenas um assistente. Já naquela altura ele lhe parecera um professor fantástico – informativo, entusiástico e às vezes divertido.

      Naquele dia, a expressão do Dr. Hayman era séria ao pousar a mala na secretária e olhar para os alunos. Riley apercebeu-se que ele ia direto ao assunto.

      Disse, “Reparem, há um elefante nesta sala. Todos sabemos o que é. Temos que limpar o ar. Temos que discutir isto abertamente.”

      Riley susteve a respiração. Ela tinha a certeza que não ia gostar do que se ia passar de seguida.

      Então Hayman disse…

      “Alguém aqui conhecia a Rhea Thorson? Não como conhecida, não como alguém com quem se cruzavam de vez em quando no campus. Refiro-me a conhecer muito bem. A ser amigo.”

      Riley levantou a mão timidamente e Trudy também. Mais ninguém na sala o fez.

      Então Hayman perguntou, “O que é que vocês as duas têm sentido desde que ela foi assassinada?”

      Riley encolheu-se um pouco.

      Era, afinal de contas, a mesma pergunta que ouvira os jornalistas perguntarem a Cassie e Gina na sexta-feira. Riley conseguira evitar aqueles jornalistas, mas teria que responder àquela pergunta agora?

      Recordou-se que aquilo era uma aula de psicologia. Estavam ali para abordar aquele tipo de questões.

      E ainda assim Riley interrogou-se…

      Por onde é que devo começar?

      Ficou aliviada quando Trudy começou a falar.

      “Culpada. Podia ter impedido aquilo de acontecer. Eu estava com ela no Centaur’s Den antes daquilo acontecer. Nem reparei que ela se tinha ido embora. Se ao menos a tivesse acompanhado… “

      A voz de Trudy apagou-se. Riley ganhou coragem para falar.

      “Eu sinto o mesmo,” Disse ela. “Afastei-me quando chegámos ao Den e não dei muita atenção à Rhea. Talvez se eu tivesse… “

      Riley fez uma pausa, depois acrescentou, “Por isso também me sinto culpada. E mais. Egoísta, acho. Porque quis estar sozinha.”

      O Dr. Hayman assentiu. Com um sorriso disse, “Então nenhuma de vocês acompanhou Rhea de volta ao dormitório.”

      Depois de uma pausa, acrescentou, “Um pecado de omissão.”

      A frase alarmou um pouco Riley.

      Parecia estranhamente inadequado em relação ao que Riley e Trudy não tinham conseguido fazer. Parecia demsiado benigno, não suficientemente grave, não uma questão de vida ou de morte.

      Mas é claro que era verdade.

      Hayman olhou para o resto dos alunos.

      “E vocês? Alguma vez fizeram – ou falharam – o mesmo tipo de coisa numa situação semelhante? Alguma vez deixaram uma amiga ir a algum lado à noite sozinha quando a deviam ter acompanhado? Ou talvez apenas tenham negligenciado fazer algo importante para a segurança de alguém? Não ter retirado as chaves do carro a alguém que tenha bebido demais? Ignorado uma situação que pudesse ter resultado num ferimento ou mesmo morte?”

      Um rumor confuso percorreu a plateia de alunos.

      Riley percebeu que era uma pergunta muito difícil.

      No final de contas, se a Rhea não tivesse sido assassinada, bem Riley, nem Trudy teriam perdido um momento a pensar no seu “pecado de omissão”.

      Teriam esquecido tudo.

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