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da cidade trouxe-lhe rapidamente de volta saudade e nostalgia e medo e esperança tudo no mesmo momento. Aqueles eram os contornos que tinham dado forma à sua vida, os contornos da cidade mais magnífica de Escalon, governada por reis durante séculos, estendendo-se até tão longe que era difícil ver onde acabavam. Duncan respirou fundo quando viu os baluartes familiares, as cúpulas e os pináculos, todos profundamente enraizados na sua alma. De certa forma, foi como voltar para casa – exceto que Duncan não era o comandante derrotado e leal que em tempos tinha sido. Agora ele era mais forte, disposto a não responder a ninguém e com um exército a reboque.

      Ao amanhecer a cidade ainda estava iluminada por tochas, os restantes vigilantes da noite, a acabar de se livrarem da longa noite na névoa da manhã. Quando Duncan se aproximou, viu algo que agitou o seu coração: as bandeiras azuis e amarelas da Pandesia, a voar orgulhosamente sobre as ameias de Andros. Isso pô-lo indisposto – e deu-lhe uma nova onda de determinação.

      Duncan imediatamente vigiou os portões e o seu coração disparou ao ver que era guardado apenas por uma equipa reduzida. Ele suspirou de alívio. Se os Pandesianos soubessem que eles estavam a chegar, milhares de soldados estariam de guarda – e Duncan e os seus homens não teriam nenhuma hipótese. Mas isto dizia-lhes que eles não sabiam. Os milhares de soldados Pandesianos estacionados ali ainda deviam estar a dormir. Duncan e os seus homens, por sorte, tinham avançado com rapidez suficiente para conseguirem ter uma hipótese.

      Duncan sabia que este elemento de surpresa, seria a sua única vantagem, a única coisa que lhes dava hipótese de tomar a enorme capital, com as suas camadas de ameias, projetadas para resistir a um exército. Isso e os conhecimentos privilegiados de Duncan sobre as suas fortificações e pontos fracos. Batalhas que, ele sabia, tinham sido ganhas com menos. Duncan estudou a entrada da cidade, sabendo onde teria de atacar primeiro se quisesse ter alguma hipótese de vencer.

      "Quem quer que seja que controle estes portões controla a capital!", gritou Duncan para Kavos e para os seus outros comandantes. "Eles não se devem fechar – não podemos deixá-los fechar, custe o que custar. Se se fecharem, ficaremos prisioneiros para sempre. Vou levar uma pequena força comigo e vamos fazer-nos a toda a velocidade para os portões. Vocês", disse ele, apontando para Kavos, Bramthos e Seavig,"levem o resto dos nossos homens para as guarnições e protejam o nosso flanco contra os soldados à medida que eles forem surgindo."

      Kavos abanou a cabeça.

      "Atacar aqueles portões com uma pequena força é imprudente", gritou ele. "Tu ficarás cercado e, se eu estiver a lutar com o exército, não te posso proteger. É suicídio. "

      Duncan sorriu.

      "E foi por isso que eu escolhi esta tarefa para mim."

      Duncan pontapeou o seu cavalo e começou a cavalgar antes dos outros, dirigindo-se para os portões, enquanto Anvin, Arthfael e uma dúzia do seus comandantes mais próximos, homens que conheciam Andros tão bem quanto ele, homens com quem ele tinha lutado toda a sua vida, montaram os cavalos para o seguir, como ele sabia que fariam. Todos eles mudaram de direção para os portões da cidade a alta velocidade, enquanto atrás deles, Duncan viu, pelo canto do olho, Kavos, Bramthos, Seavig e a maior parte do seu exército desviarem-se para as guarnições Pandesianas.

      Duncan, com o coração a bater, sabendo que tinha de chegar ao portão antes que fosse tarde demais, abaixou a cabeça e instou o seu cavalo a ir mais rápido. Eles galoparam para baixo pelo centro da estrada, sobre a Ponte do Rei, os cascos batendo contra a madeira e Duncan sentiu a emoção da batalha a aproximar-se. Ao amanhecer, Duncan viu o rosto assustado do primeiro Pandesiano a reparar neles, um jovem soldado que estava de guarda sonolento na ponte, pestanejando, olhando, com o seu rosto em terror. Duncan fechou o intervalo, alcançou-o, tirou-lhe a espada e num movimento rápido golpeou-o antes que ele conseguisse levantar o seu escudo.

      A batalha havia começado.

      Anvin, Arthfael e os outros atiraram lanças, derrubando uma meia-dúzia de soldados Pandesianos que se viraram para eles. Todos continuaram a galopar, nenhum deles parou, todos sabiam que aquilo significava a sua vida. Eles correram pela ponte simplesmente assim, todos a avançar para os portões escancarados para Andros.

      Ainda a umas boas cem jardas de distância, Duncan olhou para as portas lendárias de Andros, com cem pés de altura, esculpidas em ouro, com 10 pés de espessura. Ele sabia que, se vedada, a cidade seria inconquistável. Seria necessário equipamento profissional para o cerco, que ele não tinha, muitos meses e muitos homens a bater nas portas – que ele também não tinha. Aqueles portões nunca tinham cedido, apesar de séculos de assaltos. Se ele não os alcançasse a tempo, tudo estaria perdido.

      Duncan observou a mera dúzia de soldados Pandesianos que guardavam os portões, os despreocupados guardas de vigilância, os homens sonolentos durante a madrugada e nenhum à espera de um ataque. Ele incitou o seu cavalo a ir mais rápido, sabendo que o seu tempo era limitado. Ele tinha de lá chegar antes que eles o vissem; ele apenas precisava de mais um minuto para garantir sua sobrevivência.

      De repente, porém, uma grande corneta soou e Duncan não queria acreditar quando olhou para cima e viu, no alto dos baluartes, um vigilante a olhar para baixo, fazendo tocar insistentemente uma corneta de aviso. O som ecoava ao longo das muralhas da cidade e ele ficou desesperado, uma vez que sabia que qualquer vantagem que eventualmente tivesse tinha sido perdida. Ele tinha subestimado o inimigo.

      Os soldados Pandesianos no portão entraram rapidamente em ação. Correram para a frente e colocaram os seus ombros nos portões, seis homens de cada lado, empurrando-a com toda a sua força para fechá-los. Ao mesmo tempo, mais quatro soldados viravam manivelas maciças em ambos os lados, enquanto mais quatro puxavam as correntes, dois de cada lado. Com um grande rangido, as barras a começaram a fechar-se. Duncan olhou com desespero, sentindo como se estivessem a fechar um caixão no seu coração.

      "MAIS RÁPIDO!", pediu ele ao seu cavalo.

      Todos eles ganharam velocidade, no seu último e louco ímpeto. Ao aproximarem-se, alguns dos seus homens atiraram lanças aos homens no portão numa tentativa desesperada – mas eles ainda estavam muito longe e as lanças ficaram aquém.

      Duncan insistiu com o seu cavalo como nunca antes, cavalgando imprudentemente diante dos outros. Ao aproximar-se dos portões a fechar, de repente, sentiu algo a passar por ele. Percebeu que era um dardo e quando olhou para cima viu os soldados sobre os baluartes atirando-os para baixo. Duncan ouviu um grito e olhou para ver um dos seus homens, um bravo guerreiro que lutava ao seu lado há anos, perfurado e a cair para trás voando do seu cavaloo, morto.

      Duncan insistiu ainda mais, imprudentemente, enquanto se dirigia para os portões que se fechavam. Ele estava, talvez, a vinte jardas de distância e os portões estavam praticamente a fecharem-se para sempre. Custasse o que custasse, mesmo que tal significasse a sua própria morte, ele não podia deixar aquilo acontecer.

      Num ataque suicida final, Duncan atirou-se do seu cavalo, mergulhou para a fresta aberta enquanto os portões se fechavam. Ao mesmo tempo, estendeu para a frente a mão com a espada, conseguindo enfiá-la na fresta mesmo antes dos portões se fecharem. A espada dobrou-se, mas não se partiu. Duncan sabia que aquela tira de aço, era a única coisa que estava a evitar que aquele portão se fechasse para sempre, a única coisa que mantinha a capital aberta, a única coisa que evitava que Escalon ficasse perdido.

      Os soldados Pandesianos em choque, apercebendo-se que o seu portão não se estava a fechar, olhavam espantados para a espada de Duncan. Eles avançaram para o ataque, todos correndo na direção da espada e, Duncan sabia que, mesmo que lhe custasse a vida, não podia deixar que isso acontecesse.

      Ainda sem fôlego devido à sua queda do cavalo, com as costelas doridas, Duncan tentou rebolar para fora do caminho do primeiro soldado que o ia atacar, mas não se conseguiu mexer suficientemente rápido. Ele viu a espada levantada atrás de si e preparava-se para o golpe mortal – quando, de repente, o soldado gritou e Duncan virou-se, confuso, ao ouvir um relincho e ver o seu cavalo de batalha inclinando-se para trás, dando um coice no peito do seu adversário, imediatamente antes de este o esfaquear. O soldado voou, com as costelas a partirem-se e caiu de costas, inconsciente. Duncan olhou para o seu cavalo com gratidão, apercebendo-se que ele tinha,

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