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foi apenas para ajudar em uma pesquisa. Desculpem-me, garotas… Não é tão cheio de aventuras quanto vocês esperavam.

      –Então, você está de volta à aposentadoria? Perguntou Clarissa.

      –Basicamente. É complicado.

      Esse comentário terminou com o questionamento enquanto elas se aprofundavam em tópicos locais ─ filmes, um festival de música na cidade, obras na interestadual e assim por diante. Mas a mente de Kate se envolveu no assunto do trabalho. Era reconfortante saber que o departamento ainda a considerava um recurso, mas ela esperava ter um papel mais ativo depois de ter resolvido o último caso. Mas, até agora, ela só falou com o vice-diretor Duran uma única vez, e foi para fazer uma análise do desempenho de DeMarco.

      Sabia como era estranho para suas amigas ela ainda ser, tecnicamente, uma Agente na ativa ao mesmo tempo em que também se inclinava para o papel de avó. Diabos, também era estranho para ela. Ainda por cima tinha um relacionamento que estava desabrochando lentamente com Allen, ela supunha que sua vida fosse bastante interessante para elas.

      Honestamente, ela se achava sortuda. Ela completaria cinquenta e seis anos no final do mês e sabia que muitas mulheres da sua idade teriam inveja da vida que ela vive. Ela sempre dizia isso a si mesma quando sentia a necessidade urgente de ser mais ativa no trabalho. E, em alguns dias, funcionava.

      E como a neta viria visitá-la pela primeira vez desde o seu nascimento, hoje era um dia daqueles.

***

      Uma coisa que tornava difícil equilibrar seu novo papel de avó com o desejo de colocar as mãos em outro caso era tentar pensar como uma avó. Naquela tarde, saiu de casa e desceu até algumas das pequenas lojas no bairro de Carytown, em Richmond. Ela sentiu como se tivesse que conseguir um presente para Michelle para celebrar sua primeira noite na casa da vovó.

      Era difícil ignorar armas na cintura e suspeitos para focar em bichos de pelúcia e macacões. Mas quando foi para algumas lojas, ficou um pouco mais fácil. Ela descobriu que realmente gostava de fazer compras para a neta, embora ainda não tivesse dois meses e, honestamente, não se importasse com nenhum presente que recebesse. Ela achou difícil não comprar todas as coisas fofas que encontrou. Afinal, não era responsabilidade de uma avó estragar seus netos?

      Quando estava pagando suas compras na terceira loja que visitou, recebeu uma mensagem. Não perdeu tempo em verificar. Nas últimas semanas, ela tinha uma pequena esperança toda vez que recebia uma ligação ou um sms, pensando que talvez fosse Duran ou alguém do departamento. Ela se repreendeu mentalmente quando ficou desapontada ao descobrir que não era o departamento, mas Allen. Uma vez que superou a dor de não ter sido convocada pelo FBI novamente, ela percebeu que estava feliz em ouvir notícias dele ─ sempre ficava feliz em ouvi-lo, na verdade.

      –Allen, você tem que me ajudar, ela brincou enquanto atendia o telefone. Estou fazendo compras para Michelle e quero comprar para ela tudo que vejo. Isso é normal?

      –Eu não sei, disse Allen. Nenhum dos meus filhos sossegou e me tornou avô ainda.

      –Não faça como eu. Comece a economizar.

      Allen riu, um som que Kate estava começando a gostar. Então, esta noite é a grande noite, hein?

      –De fato. E eu sei que já criei uma criança e sei o que esperar, mas estou um pouco apavorada.

      –Ah, você é ótima. Você quer falar sobre ter medo… Então, eu vou sair para beber com meus meninos hoje à noite. E não bebo mais de dois drinques em uma saída há cinco anos.

      –Divirta-se.

      –Eu queria saber se você gostaria de um encontro amanhã. Podemos compartilhar nossas histórias de sobrevivência desta noite.

      –Gostaria. Você quer vir para minha casa por volta das sete?

      –Parece um bom plano. Divirta-se esta noite. A pequena Michelle está dormindo a noite toda ainda?

      –Acho que não.

      –Tá, disse Allen, e terminou a ligação.

      Kate guardou o celular no bolso, fazendo malabarismos com as sacolas de compras. Ela sorriu apesar de si mesma. Estava em pé ao sol em sua parte favorita da cidade, tendo acabado de fazer compras para uma neta de dois meses de idade, da qual seria babá hoje à noite. Do jeito que o dia estava se desenrolando, ela realmente queria que a agência telefonasse?

      Estava voltando para casa─ uma caminhada de três quarteirões de onde ela atendera Allen ─ quando viu uma garotinha com uma camiseta do My Little Pony. Estava andando com a mãe de mãos dadas, apenas alguns metros à frente dela. Ela tinha cinco ou seis anos de idade, seu cabelo loiro preso em um rabo de cavalo de um jeito que só o cuidado de uma mãe poderia fazer. Ela tinha olhos azuis e a ponta do nariz bem fino, parecia um pouco com uma fada. E isso enviou um pico de desespero através do coração de Kate.

      Uma imagem brilhou em sua mente, uma menina que parecia quase idêntica a esta. Mas nesta imagem, a menina tinha o rosto sujo, e estava chorando. As luzes dos carros da polícia apareceram atrás dela.

      A imagem era tão forte que fez com que Kate parasse de andar por um momento. Ela desviou os olhos para longe da garota, não querendo parecer assustadora ou estranha. Ela se agarrou a essa imagem em sua cabeça e fez o melhor para encontrar a memória associada a ela. Ela veio gradualmente e, quando chegou, desenrolou-se lentamente, como se estivesse lendo o relatório do caso.

      Garota de cinco anos, encontrada cinco dias depois de ser dada como desaparecida. Jogada em uma cabana de pesca no Arkansas com os corpos dos seus pais mortos. Os pais foram a quinta e a sexta vítimas de um assassino em série que aterrorizava o Arkansas por boa parte dos últimos quatro meses… Um assassino que Kate eventualmente pegou, mas apenas depois de ele ter tirado a vida de um total de nove pessoas.

      Kate percebeu que, de repente, estava parada como uma estátua na rua, sequer parecia se mexer. Aquele caso a assombrou por um tempo. Tantos becos sem saída, tantas pistas falsas. Estava andando em círculos, incapaz de encontrar o assassino enquanto ele continuava a aumentar sua contagem de vítimas. Só Deus sabia o que ele havia planejado para aquela garotinha.

      Mas você a salvou, ela disse a si mesma. No final, você a salvou.

      Lentamente, Kate começou a andar de novo. Não foi a primeira vez que uma imagem aleatória de seu trabalho anterior se chocava em sua mente e fazia com que ela se afastasse da realidade. Às vezes, elas vinham casualmente, embora do nada. Mas houve outras ocasiões em que elas vieram fortes e rápidas, como um flashback de estresse pós-traumático.

      A imagem da garota do Arkansas estava em algum lugar entre os dois casos. E Kate se sentiu grata por isso. Aquele caso em particular quase a fez pedir demissão como Agente, em 2009. Foi alucinante o suficiente para Kate pedir duas semanas de folga do trabalho. E de repente, por apenas uma fração de segundo enquanto caminhava de volta para casa com presentes para a neta em sua mão, Kate sentiu como se tivesse sido empurrada para o passado.

      Quase dez anos se passaram desde que ela resgatara aquela garota. Kate se perguntou onde ela estaria, imaginando se ela tinha sobrevivido ao trauma.

      –Senhora?

      Kate piscou, pulando um pouco ao som de uma voz desconhecida na frente dela. Havia um adolescente de pé na frente dela. Parecia preocupado, como se não tivesse certeza se deveria estar lá ou fugir.

      –Você está bem? Ele perguntou. Você parece… Eu não sei. Estar passando mal. Como se você estivesse prestes a desmaiar ou algo assim.

      –Não, disse Kate, sacudindo a cabeça. Eu estou bem. Obrigada.

      O garoto concordou e seguiu seu caminho. Kate começou a andar novamente, arrancada de algum buraco no passado que ela assumiu que ainda não tinha se fechado. E quando ela se aproximava cada vez mais de casa, começou a se perguntar quantos desses buracos do passado haviam sido deixados descobertos.

      E se os fantasmas de seu passado continuassem a assombrá-la até que ela também se tornasse um fantasma?

      CAPÍTULO DOIS

      Kate

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