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entrecortada. Quando Daniel chegou, na noite anterior, parecia um soldado voltando da guerra. Agora, enquanto Emily esperava por ele com um nó cada vez maior no estômago, sentia que estava esperando por aquele soldado mais uma vez.

      Nesse instante, ouviu o som do motor de uma moto ao longe. Ela se esforçou para ouvir, com cada vez mais esperança. O som foi se tornando mais alto, até que ela se convenceu de que era realmente Daniel voltando para casa. Fechou bem os olhos com alívio e deu um profundo suspiro.

      A moto apareceu na esquina e subiu a rua na direção dela, iluminando-a com a luz do farol, fazendo-a espremer os olhos. Então, ele parou. O motor parou e o silêncio os envolveu.

      Emily desceu os degraus apressada, enquanto Daniel tirava o capacete. “Está acordada”, ele disse, com um sorriso. “Não sabia se você já havia se deitado.” Então, seu sorriso desapareceu ao ver a expressão de Emily.

      “Seu idiota”, ela rosnou. “Onde estava?”

      Daniel franziu o cenho. “Fui abastacer a moto. Só saí por uns 15 minutos”.

      “Não pode fazer isso”, Emily gritou. “Sumir assim. Não tinha ideia de onde estava”.

      “Desculpe”, Daniel balbuciou. “Você tinha caído no sono. Pensei em abastecer a moto rapidamente, no posto de gasolina”.

      Emily respirou fundo, tentando se acalmar. Sentiu Daniel passar o braço pelos ombros dela.

      “Não pode sumir assim”, Emily falou, sem ar. “Certo?”

      “Certo”, ele disse, sobre a cabeça dela. “Entendi. Desculpe”.

      Permaneceram assim, abraçados um ao outro sob a lua e as estrelas, por um longo, longo tempo.

      “Não vou abandoná-la, Emily”, Daniel disse, por fim. “Precisa confiar em mim”.

      “Nem sempre você facilita as coisas pra mim”, Emily replicou, saindo do abraço.

      “Eu sei”, Daniel concordou. “Mas não vou a lugar nenhum. Agora moramos juntos, lembra?”

      Emily assentiu. Era prova de seu compromisso, mas não a confortava plenamente.

      Daniel continuou. “E enquanto estava fora, pensei na antiga garagem, e como podemos transformá-la num chalé, como você queria. Eu mesmo posso fazer todo o trabalho, como agradecimento por tudo que tem feito por mim e minha filha”.

      Emily começou a se sentir bem novamente, a angústia que havia se formado começava finalmente a se derreter.

      “Será uma ótima fonte de renda para você”, Daniel acrescentou. “Então, quando Chantelle entrar na adolescência, poderíamos deixá-la usar o chalé, dar a ela um pouco de espaço, longe da chatice da mãe e do pai.

      As palavras dele tocaram-na profundamente. Daniel não conseguia projetar seu relacionamento mais do que alguns meses à frente. Agora, estava falando de décadas. Estava se referindo a ela como a “mãe”. Pela primeira vez, ele estava vendo-os como uma unidade, como duas metades de um time.

      Mas enquanto Daniel e Emily dormiam um nos braços do outro naquela noite, os medos de Emily não paravam de surgir em sua mente. O pequeno incidente com a moto havia acordado novamente seu antigo medo do abandono. Há apenas poucas semanas, estava planejando uma vida sem Daniel. Agora, de repente, ele parecia comprometido com ela. Poderia mudar daquele modo, tão facilmente, tão rapidamente? E era porque ele realmente havia percebido como o relacionamento deles era importante?

      Ou ele estava apenas sendo arrastado, por causa de Chantelle?

      *

      Na manhã seguinte, Emily acordou cedo, quase num sobressalto. Ao perceber que Daniel estava na cama a seu lado, relaxou e voltou a se afundar no travesseiro, respirando profundamente. Não deveria sentir alívio ao ver Daniel ao seu lado. Deveria se sentir feliz.

      Fitou o rosto adormecido de namorado e sentiu a angústia derreter. Sentia-se tão bem ao tê-lo ali, de volta para ela, por estarem todos juntos. Não deveria ter duvidado dele quando falou que voltaria para ela. E não deveria ter exgerado daquela maneira em relação ao passeio de moto da última noite.

      Daniel ainda dormia profundamente, então Emily decidiu deixá-lo dormir. Ele deve estar exausto da longa viagem e com todas aquelas emoções, e precisa recuperar o sono perdido. Estava certa de que era plenamente capaz de vestir Chantelle e preparar-lhe o café da manhã sozinha. Depois, poderia mostrar as galinhas à menina e passear com ela e os cães pela praia.

      Animada, Emily rapidamente tomou um banho e vestiu-se. Pronta para o dia, saiu do quarto, deixando Daniel ainda adormecido para trás, e abriu a porta do quarto ao lado. Para seu horror, a cama de Chantelle estava vazia.

      Emily se sentiu enjoada. Onde a garotinha poderia estar?

      Tomada pelo pânico, Emily começou a imaginar um milhão de cenários em sua mente: Chantelle havia encontrado a porta aberta para a plataforma do teto e caído do telhado; encontrado um dos celeiros abandonados do terreno dos fundos e sido esmagada por algum entulho; podia ter ido até a praia e se afogado no mar. Mas antes que Emily tivesse a chance de gritar por Daniel, ouviu o som de risadas vindo de fora.

      Emily correu para a janela e puxou as cortinas. No quintal, Chantelle brincava com Mogsy e Chuva, rindo e gritando enquanto os cães pulavam nela e corriam animados em círculos ao seu redor. Chantelle ainda vestia a grande camiseta que Emily lhe havia dado para dormir. Seus pés estavam descalços.

      Desceu as escadas correndo. Não queria assustar a menina, mas também não pensava que era uma boa ideia ela estar do lado de fora sozinha e mal vestida. Apesar de sentir que Sunset Harbor era um lugar seguro, ela mesma tinha crescido na cidade de Nova York e sempre sentiria uma certa ansiedade em relação às coisas terríveis que as pessoas podiam fazer umas com as outras.

      Apoiando-se na porta dos fundos, Emily gritou por Chantelle. A menina levantou os olhos, com um largo sorriso. Seus pés estavam verdes, de correr na grama úmida.

      “Entre, querida”, Emily chamou. “Vou fazer panquecas”.

      “Quero brincar!” Chantelle replicou.

      “Daqui a pouco”, Emily disse, ainda tentando parecer calma e amigável. “Primeiro, você precisa tomar café da manhã. Depois de se vestir, podemos levar os cães para brincar na praia. Que tal?”

      Chantelle franziu o cenho e ficou com o rosto vermelho. Pela primeira vez, Emily teve uma ideia dos problemas que Chantelle havia vivenciado. Em sua expressão sombria, ela viu raiva e amargura. Sabia que não eram direcionadas a ela, mas para esse mundo terrível, as pessoas terríveis que ela conheceu e as terríveis experiêncis que teve a infelicidade de viver. Estava provavelmente apenas aparecendo agora porque Emily e Daniel haviam oferecido um ambiente seguro no qual Chantelle poderia explorar aquele lado de si mesma sem o medo de ser punida.

      De repente, Chantelle inclinou a a cabeça para trás e começou a chorar aos berros. Emily respirou fundo. Pensou nas milhares de mães que ela tinha visto na vida lidando com a birra de uma criança, suas expressões cansadas, o constrangimento misturado à raiva. Mas sabia que, se queria que Chantelle confiasse nela e crescesse feliz e bem ajustada, perder a calma não era uma opção.

      Ela entrou no quintal e pegou na mão da menina. “Vamos, querida”, ela disse, apesar do choro de Chantelle quase perfurar seus tímpanos.

      Nesse instante, Emily notou alguém se aproximando. Trevor. É claro. É típico dele aproveitar esses momentos para vir atormentá-la.

      “O que foi, Trevor?” Emily sibilou, irritada demais para ligar para formalidades.

      “O que acha que pode ser?” Trevor murmurou. “Não são nem sete da manhã e esta criança está fazendo uma algazarra no quintal. Ela está perturbando meu direito ao silêncio”.

      Chantelle se calou imediatamente. Pegou na mão de Emily, quase que pedindo desculpas por tê-la colocado em apuros.

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