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sentiu o coração apertar. “Sinto muito ouvir isso”, ela disse, tentando não deixar a dor em seu coração transparecer na voz. “Bem, poderá brincar de muitas coisas agora. O que gostaria de fazer?”

      Chantelle apenas deu de ombros, e ocorreu a Emily que sua criação havia sido tão sufocante que nem podia pensar em coisas divertidas para fazer.

      “Aonde o papai foi?” ela perguntou.

      Emily olhou sobre o ombro e viu que Daniel havia desaparecido. Ela, também, ficou preocupada.

      “Provavelmente só foi pegar mais café”, Emily replicou. “Ei, tenho uma ideia. Por que não vamos até o sótão trazer alguns ursinhos de pelúcia para seu quarto?”

      Ela havia cuidadosamente empacotado e guardado todos os seus brinquedos antigos, e também os de Charlotte, retirados do quarto interditado após a morte da irmã. Chantelle estava numa idade próxima à delas quando o quarto foi fechado, então, muitos dos brinquedos seriam adequados para ela.

      O rosto de Chantelle se iluminou. “Você tem ursos de pelúcia no sótão?”

      Emily assentiu. “E bonecas. Estão todos fazendo um piquenique, mas tenho certeza de que vão gostar de mais uma convidada. Vamos, vou mostrar o caminho”.

      Emily levou a garotinha até o terceiro andar e então pelo corredor. Puxou a escada do sótão. Chantelle olhou para cima timidamente.

      “Quer que eu vá primeiro?” Emily perguntou. “Para garantir que não há aranhas?”

      Chantelle sacudiu a cabeça. “Não tenho medo de aranha”. Parecia orgulhosa de si.

      Elas subiram juntas e Emily mostrou-lhe a caixa de brinquedos. “Pode pegar o que quiser daqui”.

      “O papai vai vir brincar?” Chantelle perguntou.

      Emily também queria Daniel por perto. Não tinha certeza para onde ele tinha ido, ou por que havia sumido. “Vou perguntar a ele. Você ficará bem aqui por um momento, não é, já que não tem medo de aranhas?”

      Chantelle assentiu e Emily deixou a menina brincando. Desceu pelo terceiro e segundo andares procurando Daniel, e depois foi até o térreo. Encontrou-o na cozinha, parado ao lado da cafeteira, sem se mexer.

      “Você está bem?” Emily perguntou.

      Daniel se virou, surpreso. “Desculpe. Desci para pegar café e fiquei assoberbado demais com tudo”. Ele olhou para Emily e franziu o cenho. “Não sei como fazer isso. Ser pai. É confuso demais para mim.”

      Emily se aproximou e acariciou seu braço. “Vamos descobrir juntos”.

      “Só ouvi-la falar acaba comigo. Queria ter estado lá para ela. Protegido-a de Sheila”.

      Emily envolveu-o nos braços. “Não pode olhar para trás e se preocupar com o passado. Tudo o que podemos fazer agora é dar nosso melhor para ajudá-la. Vai ser ótimo, prometo. Você vai ser um pai maravilhoso”.

      Ainda podia sentir um pouco de resistência em Daniel. Queria desesperadamente que ele relaxasse, que aceitasse seu abraço e se sentisse confortado, mas algo o detia.

      “Ela já está começando a fazer perguntas”, ele disse. “Me perguntou por que nunca enviei cartões de aniversário para ela. Não sabia o que dizer. O que posso dizer a uma criança de seis anos, de modo que entenda?”

      “Acho que só temos que ser sinceros”, Emily disse. “Segredos nunca ajudaram ninguém”.

      Pensou na dureza de suas palavras. Seu pai havia mantido segredos durante toda a sua vida. Emily só havia descoberto a ponta do iceberg desde que chegara na casa.

      Então, Chantelle entou correndo na cozinha. Estava segurando um grande panda de pelúcia nos braços. Era quase tão grande quanto ela.

      “Veja, pai! Veja!” ela disse, correndo até Daniel.

      Emily ficou chocada. Não havia visto o urso enquanto arrumava o quarto antigo de Charlotte. Ele já devia estar no sótão. Era o favorito da irmã, que o chamava de Andy Pandy. Vê-lo agora havia acionado uma pontada de dor em seu peito. Perguntava-se como Chantelle havia encontrado o urso entre todas as caixas.

      “Qual o nome do seu urso?” Daniel perguntou a Chantelle, inclinando-se para que ficassem frente a frente.

      “Andy Pandy”, Chantelle disse, com um sorriso.

      Emily se agarrou no balcão, em choque. Mais uma vez, sentiu fortemente que era mais um sinal de Charlotte, um lembrete para não se esquecer dela, que a irmã estava olhando por ela lá de cima.

      “Ei, tenho uma ideia”, Daniel disse, tirando-a das divagações. “Acha que Andy gostaria de ir a um desfile?”

      “Sim!” Chantelle gritou.

      Daniel olhou para Emily. “O que acha? Vamos para o desfile do Dia do Trabalho? Nosso primeiro passeio em família?”

      Referir-se a eles como uma família arrancou Emily do seu esturpor.

      “Sim”, ela disse. “Sim, gostaria muito”.

      CAPÍTULO DOIS

      As ruas principais estavam tomadas por pessoas, algumas balançando bandeiras, outras, segurando balões. Como na maioria dos eventos nacionais, a população de Sunset Harbor foi às ruas em peso para celebrar o Dia do Trabalho. A cidade estava decorada lindamente, com faixas e luzes conectando postes e árvores, faixas coloridas atadas a cercas, e um pequeno parque de diversões.

      Enquanto caminhavam pelas ruas cheias de gente, Emily segurava bem a mão de Chantelle, sentindo que a garotinha estava um pouco assustada com tudo aquilo. Mas toda vez que baixava os olhos, havia um sorriso no rosto da menina. O coração de Emily se enchia de alegria ao saber que ela estava feliz. Mas também lhe fazia sentir muito mais: um senso de paz, de contentmento. Vinha querendo ter filhos há um tempo, mas não tinha se dado conta do quanto se sentia bem ao lado de Chantelle.

      Emily notou que Daniel, por outro lado, parecia tenso. Em meio a multidões, ele ficava no limite, como um falcão sentindo o perigo em cada esquina. Certamente, ele assumiu seu papel de protetor, mas parecia faltar algo na questão do vínculo. Emily esperava que fosse apenas algo passageiro, que ele relaxaria com o tempo e aprenderia a gostar de ser pai, assim como ela estava gostando de ser uma mãe para a menina. Ele precisava aprender como ser um pai, não apenas um genitor.

      Na multidão, Emily distinguiu sua amiga Cynthia Jones, da livraria de Sunset Harbor. Como sempre, Cynthia havia se arrumado para a ocasião, e vestia uma saia azul brilhante, blusa vermelha brilhante e chapéu de cauboi também cintilante. O conjunto todo contrastava terrivelmente com seu cabelo pintado de laranja.

      Ver Cynthia fez Emily sentir angústia pela primeira vez nas últimas horas. Poucas semanas atrás, ela havia ligado para mulher pedindo conselhos depois que ela e Daniel haviam descoberto que Chantelle existia. Agora, ali estava ela, andando pela rua de mãos dadas com Daniel e sua filha surpresa, como uma família feliz. Emily sentiu medo de ser julgada.

      Mas quando Cynthia os viu, deu um largo sorriso e acenou. Emily pôde ver a aprovação em seus olhos.

      “Chantelle, quero que conheça uma amiga minha”, Emily disse.

      Ela e Daniel levaram a menina até Cynthia. A mulher imediatamente abraçou Emily.

      “Sabia que tudo acabaria bem no final”, ela sussurrou no ouvido de Emily enquanto lhe dava um forte abraço.

      Emily retribuiu o abraço forte. Cynthia a havia apoiado muito e sido muito amiga desde sua chegada em Sunset Harbor, há oito meses, e ela sentiu uma onda de gratidão naquele momento.

      “Esta é Chantelle”, Emily disse finalmente, depois de sair do abraço.

      Cynthia se ajoelhou, para ficar no mesmo nível do

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