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convidado para ir a sua casa. E ele parecia feliz em fazer isso, na verdade.

      Então, quando ela e Ramirez chegaram à porta da frente, quarenta minutos depois, Avery não pode deixar de pensar que eles poderiam estar perdendo tempo. Nguyen vivia em uma linda casa de dois andares em Beacon Hill. Aparentemente, sua carreira na ciência pagava bem suas contas. Às vezes, Avery encontrava-se admirada por pessoas com mentes matemáticas e científicas. Ela amava ler textos deles ou falar com pessoas assim—essa era uma das razões pelas quais ela começara a assistir Discovery Channel e ler revistas científicas na biblioteca da faculdade.

      Ramirez bateu à porta. Não levou tempo algum até que Nguyen atendesse. Ele parecia ter quase sessenta anos. Vestia uma camiseta do Boston Celtics e shorts de academia. Parecia casual, calmo e até feliz.

      Como já tinham se apresentado pelo telefone, Nguyen os convidou a entrar. Eles entraram em um hall elaborado que levou até uma grande sala. Parecia que Nguyen havia se preparado para recebe-los. Ele colocou roscas e xícaras de café no que parecia ser uma mesa de café muito cara.

      - Por favor, sentem – Nguyen disse.

      Avery e Ramirez sentaram no sofá olhando para a mesa de café, enquanto Nguyen sentou em uma poltrona, no lado oposto.

      - Sirvam-se – Nguyen disse, apontando para o café e as roscas. – Agora, o que posso fazer por vocês?

      - Bem, como eu disse no telefone – Avery disse – nós falamos com Hal Bryson e ele nos disse que você saiu do seu trabalho na Esben Technologies. Você poderia nos falar um pouco sobre isso?

      - Sim. Infelizmente, eu estava colocando muito tempo e energia no trabalho. Comecei a ter visões duplas e dores de cabeça fortes. Trabalhei oitenta e seis horas por semana por cerca de sete meses seguidos. Fiquei obcecado pelo meu trabalho.

      - Por qual aspecto do trabalho, exatamente? – Avery perguntou.

      - Olhando para trás, eu sinceramente não sei te dizer – ele disse. – Era apenas por saber que nós estávamos perto de criar temperaturas no laboratório que imitariam algo que alguém poderia sentir no espaço. Encontrar maneiras de manipular elementos com temperaturas... tem algo divino nisso. Pode ser viciante. E eu não percebi até que fosse tarde.

      A obsessão dele pelo trabalho certamente bate com a descrição de seja quem for que nós estivermos procurando, Avery pensou. Ainda assim, mesmo tendo falado com Nguyen por apenas dois minutos, ela tinha certeza de que Bryson estava certo. Não havia chances de Nguyen estar envolvido naquilo.

      - Em que exatamente você estava trabalhando quando saiu? – Avery perguntou.

      - É complicado – ele disse. – E desde então, eu deixei aquilo para trás. Mas, essencialmente, eu estava trabalhando em livrar-se do excesso de calor causado quando átomos perdem seu impulso durante processos de resfriamento. Estava lidando com unidades quânticas de vibração e fótons. Agora, pelo que eu entendo, isso está sendo aperfeiçoado pelos nossos amigos em Boulder. Mas naquele tempo, eu estava trabalhando como um louco!

      - Além do trabalho que você está fazendo para jornal e as coisas na faculdade, ainda está fazendo algum trabalho? – Ela perguntou.

      - Faço umas coisas aqui e ali – ele disse. – Mas só coisas aqui em casa. Tenho meu pequeno laboratório próprio em uma sala alugada a algumas quadras daqui. Nada sério. Você gostaria de ver?

      Avery sabia que eles não estavam sendo enganados. Nguyen era claramente apaixonado pelo trabalho que costumava fazer. E quanto mais ele falava sobre o que havia feito, mais ele os colocava em um mundo de mecânica quântica—um mundo que com certeza estava longe do mundo de um assassino louco jogando um corpo em um rio congelado.

      Avery e Ramirez se olharam. Um olhar que Avery encerrou quando baixou a cabeça.

      - Bem, senhor Nguyen – ela disse, - nós agradecemos pelo seu tempo. Mas deixe-me fazer só mais uma pergunta: durante o tempo que você trabalhou no laboratório, você conheceu alguém—colegas, alunos, qualquer pessoa—que parecia muito excêntrica ou um pouco louca?

      Nguyen levou alguns momento para pensar, mas depois balançou a cabeça.

      - Não que eu lembre agora. Mas eu repito, nós cientistas somos todos um pouco excêntricos no trabalho. Mas se eu lembrar de alguém, eu lhe aviso.

      - Obrigada.

      - E se vocês mudarem de ideia e quiserem ver meu laboratório, é só me avisar.

      Apaixonado pelo trabalho e solitário, Avery pensou. Porra... Eu era assim até uns meses atrás.

      Ela podia enxergar essa relação. E por isso, aceitou feliz o cartão de Nguyen quando ele a ofereceu na porta, que ele fechou quando Avery e Ramirez seguiram pelas escadas em direção ao carro.

      - Você entendeu alguma palavra do que ele disse? – Ramirez perguntou.

      - Muito pouco – ela disse.

      Mas a verdade é que ele havia dito uma coisa que ainda permanecia em sua mente. Algo que não a fez querer investigar Nguyen mais a fundo, mas a deu uma ideia sobre como pensar sobre o assassino.

      Encontrar maneiras de manipular elementos com temperaturas, Nguyen dissera. Tem algo divino nisso.

      Talvez nosso assassino está agindo achando que é um deus, ela pensou. E se ele pensa como um deus, ele pode ser mais perigoso do que nós achamos.

      CAPÍTULO OITO

      O hamster parecia um bloco de gelo peludo quando ele o tirou do congelador. Estava gelado como um bloco de gelo, também. Ele não pode evitar uma risada quando ouviu o som que o animal fez quando foi colocado forma. Suas pernas estavam penduradas no ar—bem diferente do modo como ele havia andado de um lado a outro em pânico quando fora colocado no congelador.

      Isso fora três dias atrás. Desde então, a polícia havia descoberto o corpo da garota no rio. Ele ficara surpreso com quão longe o corpo havia ido. Todo o caminho até Watertown. E o nome da garota era Patty Dearborne. Soava pretencioso. Mas porra, aquela garota era linda.

      Ele pensou, futilmente, em Patty Dearborne, a garota que levara dos subúrbios do campus da Boston University, enquanto passava os dedos pela barriga gelada do hamster. Ele ficara muito nervoso, mas havia sido muito fácil. Claro, ele não tinha a intenção de matar a garota. As coisas saíram do controle. Mas então... então tudo se desencadeara para ele.

      A beleza poderia ser tomada, mas não em algum tipo mortal. Até mesmo quando Patty Dearborne estava morta, ela ainda era linda. Uma vez que ele pegou Patty nua, ele a tinha encontrado quase impecável. Havia um sinal na pele na parte inferior das costas e uma pequena cicatriz na parte superior do tornozelo. Mas fora isso, ela estava impecável.

      Ele havia jogado Patty no rio e quando ela bateu na água gelada, já estava morta. Ele assistira a cena com grande expectativa, pensando se eles seriam capazes de trazê-la de volta... pensando se o gelo que a havia mantido por aqueles dois dias a preservariam de alguma forma.

      Era óbio que não.

      Eu fui desleixado, ele pensou, olhando para o hamster. Vai levar um tempo, mas eu vou descobrir.

      Ele estava pensando que o hamster poderia ser uma parte da descoberta. Com os olhos ainda em seu pequeno corpo congelado, pegou duas almofadas térmicas no balcão da cozinha. Eram do tipo de almofada térmica usada em atletas para soltar os músculos e relaxar as partes mais tensas do corpo. Ele colocou uma das almofadas abaixo do corpo e a outra sob suas pernas rígidas e frígidas.

      Ele tinha certeza que seria necessário esperar. Ele tinha muito tempo... não tinha nem um pouco de pressa. Estava tentando enganar a morte e sabia que a morte não iria a nenhum lugar.

      Com este pensamento na cabeça, preencheu o apartamento com uma risada parecida com a de uma bruxa. Dando um último olhar ao hamster, caminhou para seu quarto. Estava bem arrumado. Foi até o banheiro e lavou suas mãos com a eficiência

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